2013-05-01

Póvoas / Trigueiros (Lisboa, 1573)


Provedores das Alfândegas do Reino
 (Lisboa, 1573)


Armas dos PRIVADOS,
usadas pelos PÓVOAS.

   Os PÓVOAS, família bastante antiga que foi proeminente na cidade do Porto, descendem dos Albuquerques, dos Privados e dos Ferrazes. 
     O primeiro que se conhece deste apelido de origem toponímica é Gonçalo Anes das Póvoas, pai de Fernão Anes das Póvoas, o qual em 12-XII-1474 obteve licença de D. Afonso V para comprar a João Correia e a sua mulher D. Isabel de Castelo Branco o senhorio de Cunha-a-Velha, na Beira Alta.

      Não têm brasão de armas próprio e usam as dos PRIVADOS, dos quais descendem: de ouro, com quatro bandas de vermelho. Timbre: um grifo de vermelho, alado e armado de ouro.
Um ramo desta família, por linha feminina, provém de ANTÓNIO TRIGUEIROS (c. 1500).

Vejamos:

1.    D. LUÍSA DE GÓIS TRIGUEIROS (c. 1560) que viveu em Torres Vedras. Era filha de ANTÓNIO TRIGUEIROS (c. 1500), fidalgo castelhano que passou a Portugal em Outubro de 1500 no séquito da infanta D. Maria (1482-1517), filha dos Reis Católicos e segunda mulher de D. Manuel I[1]; e de sua mulher D. JOANA DE GÓIS (c. 1510)[2], já era viúva a 7-X-1566 quando foi madrinha de um baptizado realizado na Sé de Lisboa.
Casou com FRANCISCO DAS PÓVOAS (f. 1581), fidalgo da Casa Real, sucessor de pai no cargo de provedor e feitor-mor das Alfândegas do Reino, falecido a 27-X-1681 na freguesia da Sé em Lisboa, com testamento no qual «se mandou enterrar no Mostr.º do Carmo». 
Igreja do Convento do Carmo.
Seu marido teve o hábito de Cristo com 500 réis de tença e a promessa da comenda de 300 réis feita pelo rei D. Filipe II, e mais um vínculo que seu pai instituiu e não quis que o mesmo fosse herdado pelo seu irmão primogénito António das Póvoas[3], em virtude do primeiro casamento que este fez em Tânger contra a sua vontade com D. Maior de Sequeira. Era um dos nove filhos de Diogo Fernandes das Póvoas, provedor mor da alfândega de Lisboa, cavaleiro-fidalgo da Casa Real de D. João III, cavaleiro da Ordem de Cristo, comendador do Ervedal, e de sua mulher D. Mór Pacheco (f. 1565)[4], falecida «dona veuva» a 9-VIII-1565 na freguesia da Sé em Lisboa, deixando por seu testamenteiro o filho Francisco das Póvoas, provedor da Alfândega[5]; neto paterno de António Fernandes das Póvoas, fidalgo da Casa Real e residente em Lisboa, herdeiro do senhorio da Cunha Velha que vendeu a Rui Mendes de Vasconcelos em 12-XI-1499, e de sua mulher Isabel da Maia (ou Brito); neto materno de Álvaro Pacheco (c. 1537), provedor-mor das Alfândegas, fidalgo da Casa Real que a 16-V-1537 instituiu para sua sepultura e dos seus herdeiros a Capela de Nossa Senhora da Conceição no Convento do Carmo em Lisboa, e de sua mulher D. Brites Álvares.

A Capela de Nossa Senhora da Conceição no Convento do Carmo – nome que lhe foi dado por Álvaro Pacheco que a obteve por doação em 1537 – era anteriormente, designada por Capela dos Santos Reis (por ter um painel com a Adoração dos Magos) e ficava localizada no absidíolo exterior da Epístola.

Tiveram:
2.     DIOGO DAS PÓVOAS, que segue abaixo.
2.     MANUEL DAS PÓVOAS (b.1565-1625), que foi cónego da Sé de Lisboa (1606), na qual foi baptizado a 7-I-1565, apadrinhado por Manuel Correia e Luísa de Macedo, e aí crismado a 5-X-1577, juntamente com seus irmãos. Escreveu a obra «Vita christi», publicada em Lisboa em 1614.
2.    ANTÓNIO DAS PÓVOAS (1565-1594), capitão-mor do Mar de Diu, recebeu o baptismo a 29-XI-1565 na Sé de Lisboa, tendo por padrinho o seu tio Vicente Trigueiros (f. 1602)morador em Torres Vedras, e D. Maior de Sequeira, mulher de António das Póvoas que foi juiz da Alfândega de Diu (1546), ambos moradores à Horta de Santa Bárbara em Lisboa.
Foi crismado juntamente com seus irmãos a 5-X-1577 na Sé de Lisboa, e faleceu a 23-VI-1594 pelejando na nau Cinco Chagas, ao largo da ilha das Flores, nos Açores, quando regressava da Índia sob o comando de Francisco de Melo Canaveado[6].

Nau Cinco Chagas,
Museum Greenwich Maritime.
Um dos maiores naufrágios portugueses foi o da nau capitânia Cinco Chagas que teve um fim trágico. Nova e de grandes dimensões, esta partiu da Índia em Janeiro de 1593 com uma armada de cinco naus, tendo invernado em Moçambique com graves avarias que foram reparadas para seguir viagem no ano seguinte, sobrecarregada com grande parte dos passageiros e da carga da nau Nossa Senhora da Nazaré, a qual devido ao mau estado em que ficou foi abatida ao activo. Veio para Lisboa com grande parte da tripulação doente com os tormentos infligidos pelo escorbuto e integrada numa armada de cinco naus comandadas pela nau capitânia São Filipe das quais só duas chegaram ao destino. A Chagas, depois de vários e trágicos acontecimentos, afundou-se ao largo dos Açores a 23-VI-1594, após dois dias de manobras e de combates com cinco barcos de corsários ingleses (entre eles os velozes Royal Exchange, a Mayflower e a Sampson), aos quais os portugueses ofereceram uma cerrada e heróica resistência que causou muitas baixas. Repeliram, um após outro, os sucessivos ataques das naus do inimigas, mas a Chagas acabou por se incendiar e rebentar o seu paiol, indo ao fundo quando já tinha a vitória na mão, afogando-se a quase totalidade dos portugueses. Tendo então, o que restava da sua tripulação, saltado para o mar, aí foi toda morta à lançada pelos marinheiros dos batéis ingleses que estavam possessos pelas pesadas baixas que tinham sofrido. Sobreviveram dois nobres, onze marinheiros e escravos. Raros foram os combates da História marítima de qualquer país que possam ser comparados a este da nau Cinco Chagas, cuja penosa memória perdurou por muito tempo.

       2.     JOÃO DAS PÓVOAS (c. 1577), frade Dominicano que adoptou o nome religioso de Frei JOÃO DAS
               CHAGAS e foi crismado juntamente com seus irmãos. Faleceu em casa do seu irmão Diogo em 25-
               -IV-1609[7].
       2.     D. MARIA DAS PÓVOAS (c. 1598), crismada em 27-I-1598 na freguesia da Sé de Lisboa, juntamente
               com seus irmãos. Casou com António da Silva, de Soure.

2.    DIOGO DAS PÓVOAS, senhor da Casa e ofício de seu pai, foi provedor-mor da Alfândega de Lisboa em 1609, cidade onde morou na freguesia da Sé. Tinha escravos cativos dos quais fazem menção os registos de óbito da citada freguesia.
Casou com D. FILIPA DE SOUSA[8], filha de Lourenço da Veiga (1530-1581), 5.º governador do Brasil de 12-IV-1577 a 17-VI-1580, falecido na Bahía em 1581[9]; neta paterna de Manuel Cabral da Veiga e de D. Antónia de Lemos.
Tiveram:
3.     FRANCISCO DAS PÓVOAS (1590-1600), filho primogénito bapti-
        zado a 11-I-1590 na Sé de Lisboa por seu tio Diogo de Teive, apa-
        drinhado por Vicente Trigueiros e D. LuísaFaleceu «de peste»
        ainda moço a 13-VIII-1600 na freguesia da Sé, em Lisboa, tendo
        sido uma das muitas vítimas do surto que grassou nesta cidade
        de 1598 a 1603.
3.     LUÍS DAS PÓVOAS (n. 1597), que segue.

3.       LUÍS DAS PÓVOAS (n. 1597), baptizado a 22-9-1597 na Sé de Lisboa, tendo por padrinhos o cónego da Sé de Lisboa que era seu tio Manuel das Póvoas, e D. Luísa, sobrinha de sua mãe. Foi senhor da Casa e ofício de seu pai. Em 1607 aparece designado como «filho morgado do sõr provedor da Alfândega» num assento de baptismo em que é padrinho.
Casou com D. ANTÓNIA DE MENESES (n. 1580), filha de Gaspar de Sousa (c. 1550), 10.º governador-geral do Brasil (1613-1617), 2.º Senhor do morgado de Alcube, alcaide-mor de Meira, e de sua mulher D. Maria de Meneses (c. 1560); neta paterna de Álvaro de Sousa (c. 1490), 1.º Senhor do morgado de Alcube, e de sua mulher D. Francisca de Távora (c. 1520); e neta materna de D. João da Costa (c. 1530)[10], comendador-mor da Ordem de Cristo, e de sua segunda mulher D. Antónia de Meneses (c. 1540)[11].
Tiveram:
          4.     DIOGO DAS POVOAS (c. 1644), do qual sua mãe D. Antónia de Meneses, moradora na Graça e já
                  viúva, era tutora em 1644, assim como senhora da Quinta da Marinha, ao Carregado, que viria a
                  pertencer D. João de Lencastre (1713-1765?), 1.º Conde da Lousã.
          4.     D. MARIA DAS PÓVOAS.


Guarda, Casa os Póvoas.





Guarda, Casa os Póvoas.

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Notas:

[1]  D. Manuel I (1469-1521) fez três casamentos: o 1.º em 1497 com D. Isabel de Castela (f. 1498), que morreu de parto; o 2.º em 1500 com D. Maria de Castela (f. 1517), irmã da sua primeira mulher, que o monarca foi esperar à vila de Alcácer do Sal, onde esta princesa entrou a 30-X-1500, tendo falecido com 35 anos de idade; e o 3.º em 1518 com D. Leonor de Espanha (f. 1521), filha de Filipe I de Castela, e da rainha D. Joana, sua cunhada. Do 2.º casamento teve nove filhos, dos quais foram reis D. João III, o cardeal D. Henrique, e a imperatriz D. Isabel que casou em 1526 com Carlos V.

[2]  De Joana de Góis (c. 1510) desconhecemos a progenitura. Hipoteticamente poderá ser parente de um Pedro de Góis (c. 1513) morador em Óbidos, filho de Álvaro Gonçalves e de Leonor de Góis, irmão de Nuno de Góis que foi alcaide-mor de Alenquer e ao qual D. Manuel I passou Carta de brasão de armas (1513). – Cfr. Visconde Sanches de Baena, Archivo Heraldico-Genealogico, V. I, p.545.

[3]  Deste António das Póvoas e do seu terceiro casamento com D. Leonor de Azevedo, descende um longínquo neto que se distinguiu na Beira Alta e foi ÁLVARO XAVIER DA FONSECA COUTINHO PÓVOAS (1773-1852), o famoso «General Póvoas», natural da cidade da Guarda, o qual foi um dos mais famosos estrategas miguelistas durante as lutas liberais.

[4]  Diogo das Póvoas casou com D. Mór Pacheco (f. 1565), da qual teve nove filhos: 1.º - António das Póvoas, casado com D. Maior de Sequeira, c.g.; 2.º - Inácio das Póvoas, valoroso soldado que serviu na Índia onde do seu casamento teve Diogo das Póvoas, falecido solteiro s.g., e duas filhas que foram freiras em Santa Clara de Beja; 3.º - Francisco das Póvoas, 1.º do nome, morto s.g.; 4.º - Manuel das Póvoas, frade Dominicano; 5.º -  Damião das Póvoas; 6.º - D. Mariana das Póvoas, casada com António da Silva de Soure; 7.º - Inês das Póvoas, s.g.; 8.º - Isabel da Conceição, freira no Convento da Esperança; 9.º - Francisco das Póvoas (f. 1681), 2.º do nome, casado com Luísa de Góis Trigueiros, que vai biografada. – Cfr. GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Póvoas», § 1, § 2, N 4, Vol. VIII, p. 604 (novamente com gralhas de Figueiro em vez de Trigueiros).

[5]  Edgar Prestage e Pedro de Azevedo, Registos parochiais de Lisboa, freguesia da Sé, vol. I (1563 a 1569), Coimbra, 1924, p.129.

[6]  Cfr. MONTEIRO, Saturnino, Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa, vol. IV, pp. 276-280.

[7]  Edgar Prestage e Pedro de Azevedo, op.cit., vol. 2, p. 491.

[8]  Edgar Prestage e Pedro de Azevedo, , op. Cit, vol. 2, p.136.

[9]  VIANA, Hélio, História do Brasil, p. 83.

[10]  D. João da Costa (c. 1530), era filho de D. Gil Eanes da Costa (c. 1500), embaixador em Castela no reinado do Imperador Carlos V e Vedor da Fazenda do Rei D. Sebastião, e de sua mulher D. Joana da Silva (c. 1500).

[11]  D. Antónia de Meneses (c. 1540) era filha de António Correia (c. 1510), alcaide-mor de Vila Franca de Xira, e de sua mulher D. Maria de Meneses (c. 1515).