D. Mariana Bárbara Trigueiros Martel (1794-1880), Escalos de Baixo, Idanha-a-Nova, 1794.



Brasão de Armas de
João José Martins Pereira do Rego Goulão
(1758).
Partido de PEREIRA e REGO;
Timbre de Pereira.
(CBA de 20-III-1821)

1.    D. MARIANA BÁRBARA TRIGUEIROS MARTEL (1794-1880)[1], era um dos dez filhos de João José Martins
       Pereira do Rego Goulão (n. 1758) e de sua mulher de D. Maria Antónia do Rego Trigueiros Martel Rebelo
       Leite (n. 1770). 

Joaquim Trigueiros Martel
(1801-1873),
1.º Conde de Castelo Branco.
Joaquim Trigueiros Martel
(1801-1873).
Esquartelado: REGO, TRIGUEIROS,
MARTEL, e PEREIRA.
Nasceu a 5-II-1794 em Idanha-a-Nova onde foi baptizada a 17-III-1794, apadrinhado por Joaquim Trigueiros da Silva Leite. Faleceu já viúva aos 87 anos de idade a 16-XI-1880 na freguesia de Escalos de Baixo, concelho de Idanha-a-Nova, onde foi sepultada no cemitério público, tendo feito testamento e deixando cinco filhos.
Dos dez irmãos de D. Mariana Bárbara, o que mais se notabilizou foi JOAQUIM TRIGUEIROS MARTEL (1801-1873), 1.º Conde de Castelo Branco, por carta régia de 3-VI-1870, o qual em 1828 residia no Solar dos Goulões em Alcains (actual Museu do Canteiro / Centro Cultural de Alcains), quando este foi atacado por forças populares radicais ligadas ao Vintismo. Também residiu em Castelo Branco e em Sarnadas onde tinha casa e era grande proprietário[2].               

Alcains, Solar dos Goulões
(Museu do Canteiro)
               JOÃO JOSÉ MARTINS PEREIRA DO REGO GOULÃO (n. 1758),
               seu pai, nasceu a 6-VIII-1758 em Castelo Branco e foi membro do
               Conselho de Distrito de Castelo Branco, no qual foi um dos 
               grandes proprietários e onde tinha avultado património fundiário
               e diversas casas, nomeadamente em Idanha-a-Nova, Sarnadas e
               Alcains, localidade onde residia no Solar dos Goulões, o actual
               Museu do Canteiro e um dos antigos exemplares da arquitectura
               solarenga desta localidade.
               Os Goulões foram uma das famílias influentes e poderosas de
               Alcains, a cuja paróquia, ao longo de várias gerações, deram 
               inúmeros sacerdotes[3].

Teve brasão de armas por carta de 20-III-1821, com um escudo partido em pala de PEREIRA e de REGO. Timbre de Pereira[4].

Era filho de José Martins Pereira Goulão (n. 1725), capitão-mor das Ordenanças de Castelo Branco, casado a 12-VII-1756 com D. Joana Bernarda do Rego Teles Carmona[5]; neto paterno de Manuel Fernandes de Sena Branco (n. 1701), proprietário e sargento-mor das Ordenanças de Castelo Branco, nascido a 30-IV-1730 em Sarnadas de Ródão, Vila Velha de Ródão, casado a 13-X-1723 em Alcains, Castelo Branco, com D. Inês Pereira Goulão (1688-1746)[6], nascida a 11-II-1688 em Castelo Branco, e falecida a 13-XI-1740 em Sarnadas de Ródão, Vila Velha de Ródão; e neto materno de António Fernandes Carmona, e de sua mulher D. Maria Custódia do Rego.

João José M. P. R. Goulão (n. 1758), foi casado com D. MARIA ANTÓNIA DO REGO TRIGUEIROS MARTEL REBELO LEITE (n. 1770), nascida a 28-IV-1770 na freguesia de Nossa Senhora da Conceição em Idanha-a-Nova e aí baptizada a 28-V-1770, filha de Jerónimo Trigueiros Martel Rebelo Leite (1716-1792) nascido a 30-IX-1716 em Idanha-a-Nova onde foi baptizado a 19-IX-1716, proprietário e capitão do Terço de Infantaria Auxiliar de Castelo Branco[7], o qual veio a falecer a 12-III-1792 em Idanha-a-Nova onde foi sepultado no antigo Convento de Santo António, casado nas segundas núpcias de ambos com D. Maria Angélica Marques Goulão (1725-1790), nascida a 19-XII-1725 em Idanha-a-Nova e aí baptizada a 26-XII-1725, falecida a 16-V-1790 em Idanha-a-Nova e sepultada no Convento de Santo António; e neta paterna de Simão Rebelo Martel (1660?-1722)[8], natural do Porto, “escrivão do judicial de Juiz de Fora do Porto” por carta de 19-I-1689[9], cidade onde foi sargento-mor de Ordenanças e posteriormente a sargento-mor da Cavalaria de Penamacor, tendo então tomado parte na Guerra da Sucessão em Espanha pelo que «fora na expedição da Guerra da Catalunha [1707-1712]»[10], tendo falecido a 5-IX-1722 em Idanha-a-Nova, onde «foi sepultado na Matriz desta villa donde era freguês», no posto de «sargento maior de cavalaria reformado», o qual foi casado a 2-VIII-1714 em Idanha-a-Nova, em cerimónia oficiada por frei Manuel Rodrigues Corugeiro, e teve por testemunhas Diogo da Silva Toscano, o qual seguiu os apelidos maternos e era irmão de Simão Rebelo Martel, e ainda seu pai Jorge Trigueiros da Costa, com D. Isabel Trigueiros da Costa (1688-1768)[11], homónima de sua tia, baptizada a 13-XI-1688 na Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Idanha-a-Nova pelo vigário Frei Miguel Rodrigues Goulão, tendo por padrinhos o Dr. Domingos Marques Giraldes e sua tia Maria Nunes Calvo[12], falecida a 15-II-1768 em Idanha-a-Nova onde foi sepultada dentro da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

O pai de D. Maria Antónia, JERÓNIMO TRIGUEIROS MARTEL REBELO LEITE (1716-1792)[13], nasceu a 30-IX-1716 em Idanha-a-Nova onde foi baptizado a 19-IX-1716 por frei Manuel Rodrigues Corugeiro, tendo por padrinho o seu tio Jorge Trigueiros. Capitão do Terço de Infantaria Auxiliar de Castelo Branco e proprietário[14], veio a falecer a 12-III-1792 em Idanha-a-Nova, onde foi sepultado no Convento de Santo António e dispôs no seu testamento. 
Casou duas vezes.
As suas primeiras núpcias foram com sua prima D. CONSTANÇA NUNES MONSERRATE (f. 1762), filha de Manuel Afonso Monserrate e de sua mulher D. Maria Nunes da Silva, ou Maria Nunes Calvo, falecida com testamento a 19-I-1762 em Idanha-a-Nova onde foi sepultada no Convento de Santo António, o antigo Convento de São Francisco[15]. Sem geração[16].
As segundas núpcias, com 45 anos de idade, celebraram-se a 17-IV-1762 em Idanha-a-Nova com D. MARIA ANGÉLICA MARQUES GOULÃO (1725-1790), então com 35 anos de idade, nascida a 19-XII-1725 em Idanha-a-Nova onde foi baptizada a 26-XII-1725 pelo padre Domingos Nunes, tendo por padrinhos o padre Manuel Vaz e sua irmã Francisca Marques, naturais de Escalos de Cima. Sua segunda mulher faleceu a 16-V-1790 em Idanha-a-Nova com testamento, e aí foi sepultada no Convento de Santo António. Era filha de Domingos Ambrósio (n. 1707), sargento-mor das Ordenanças de Idanha-a-Nova onde nasceu a 8-VIII-1707, casado a 21-I-1725 em Escalos de Cima no concelho de Castelo Branco com D. Maria Marques Goulão (n. 1697), homónima de sua mãe, nascida a 23-IV-1697 em Escalos de Cima, os quais, juntamente com o padre Manuel Vaz intituiram um morgado a 13-IV-1751 a favor de sua filha e sobrinha Maria Angélica Marques Goulão para esta casar com o seu primeiro marido; neta paterna de Domingos Lopes Ambrósio (c. 1695)[17], capitão das Ordenanças de Idanha-a-Nova, já viúvo de Maria da Trindade, e de sua segunda mulher Leonor Fernandes, ambos naturais de Idanha-a-Nova; e neta materna de Domingos Vaz Rato, nascido em Escalos de Cima, casado a 25-IV-1688 com D. Maria Marques Goulão (1670-1766), nascida a 6-III-1670 em Alcains[18], falecida com testamento a 12-XII-1766 em Idanha-a-Nova, onde foi sepultada «dentro da igreja dos Religiosos de Santo António desta vila». D. Maria Angélica foi casada em primeiras núpcias a 18-VI-1751 em Idanha-a-Nova, nas segundas núpcias do Dr. Bartolomeu Franco Português de Moura, natural da vila do Fundão, viúvo de D. Josefa Teresa Saraiva, de Tondela, filho do Dr. Pedro Barreiros de Moura e de D. Maria Antónia Franco Português.

 

Alcains, Escalos de Baixo,
Casa do tenente-coronel
Nicolau Teles N. Guedelha (1788-1862).
D. Mariana Bárbara Trigueiros Martel (1794-1880) casou a 14-II-1820 com NICOLAU TELES NUNES GUEDELHA , proprietário agrícola nascido a 7-X-1788 na freguesia de Escalos de Baixo, concelho de Castelo Branco, onde faleceu a 18-IX-1862. Seguiu a carreira das armas num dos períodos militarmente mais conturbados que fustigaram duramente o distrito de Castelo Branco, quer durante as Invasões Francesas, quer no auge do Miguelismo e da Guerra Civil.

Este assentou praça e jurou bandeira a 14-I-1809 e em 1811 era tenente-capitão, em 15-VI-1832 passou a major da Companhia de Granadeiros de Idanha-a-Nova, na qual atingiu a patente de tenente-coronel (Arquivo Histórico Militar).

Foi eleito vereador para a Câmara de Castelo Branco nos anos de 1825, 1836, 1848-49, e 1852-53.

Seu marido Nicolau T. N. Guedelha (1788-1862) era filho de Domingos Nunes Guedelha (1743-1794), homónimo de seu pai, nascido em 1743 em Escalos de Baixo, onde faleceu a 7-X-1794, e de sua mulher em segundas núpcias D. Ana de São José Teles Barroso, natural de Penamacor, a qual seria filha do capitão Nicolau Teles que foi casado com Maria Esteves Barroso.

Era neto paterno de Domingos Nunes Guedelha (n. 1672?), homónimo de seu filho, nascido por volta de 1672, o qual ainda solteiro e com 36 anos de idade mais ou menos, fez a sua habilitação para o Santo Ofício a 13-II-1708, o qual seguiu a carreia militar e foi alferes na praça militar de Monsaraz, capitão de uma companhia do terço de infantaria auxiliar da comarca de Castelo Branco, notabilizando-se na longa Guerra da Restauração pela sua participação nos combates de Pedra Luz, Estorninho, Albergaria, Sarça, Moraleira, Vale Verde, Cheleiros e Salvaterra, tendo sido casado com D. Cecília Marques, natural de Escalos de Baixo, filha de Estevão Nunes e de D. Maria Marques, naturais de Escalos de Baixo onde viviam de suas lavouras[19].

Este Domingos Nunes Guedelha foi irmão do notável Pedro Nunes de Sousa Guedelha (1659-1719)[20].

Tiveram:

2.    JOÃO TELES TRIGUEIROS (1822-1886), que segue abaixo.

2.    JOSÉ TELES TRIGUEIROS (1822-1892), irmão gémeo do anterior que nasceu a 20-3-1822 na freguesia de Escalos de Baixo, Castelo Branco, onde foi baptizado a 7-3-1823, e onde residiu. Foi eleito vereador para a Câmara de Castelo Branco nos anos de 1821, 872-73. Casou com MARIA DUARTE, da qual teve geração, que desconhecemos.

2.    MARIA DO CARMO TRIGUEIROS MARTEL (n. 1826), nasceu a 7-IX-1826 na freguesia de Escalos de Baixo, onde foi baptizada a 21-IX-1826 pelo padre Fr. Valentim José Neto, tendo por padrinhos Leonardo António Goulão, assistente em Sarnadas, e sua tia D. Joana Trigueiros do Rego Martel, e por testemunhas Francisco José Leandro e João José Proença.

2.    DOMINGOS TELES TRIGUEIROS (n. 1830), militar, nasceu a 10-VIII-1830 na freguesia de Escalos de Baixo onde foi baptizado a 23-VIII-1830 pelo padre Fr. Valentim José Neto, apadrinhado por Simão Trigueiros do Rego Martel (n. 1807) e sua irmã D. Maria Adelaide Trigueiros (n. 1799) «tios maternos do baptizado», e por testemunhas Francisco José Leandro e José Teles do Rego. Casou com D. ANA PESTANA DE SAMPAIO DA FONSECA E EÇA (n. 1837), nascida em Génova, Itália, a 23-VII-1837, filha de Manuel Bernardes Pestana Goulão (n. 1796), nascido a 9-IV-1796 em Vila Velha de Ródão, e falecido em Nisa, o qual embarcou no navio Stag em Sines a 1-VII-1834 para acompanhar D. Miguel ao seu exílio em Génova após a Convenção de Évora Monte, e de sua mulher D. Maria Cristina Sampaio da Fonseca e Eça (n. 1801), nascida 29-V-1801; neta paterna de António Joaquim Pestana (1764-1846), sargento-mor de Ordenanças de Vila Velha de Ródão, nascido em 1764 em Monte Claro, Nisa, e de sua mulher Joana Bernarda Doroteia de São Paulo Goulão (1764-1814), nascida a 17-IX-1764 em Alcains.

2.    MARIA DA PIEDADE TELES TRIGUEIROS (n. 1832) nasceu a 26-IX-1832 na freguesia de Escalos de Baixo, onde foi baptizada a 10-X-1832, tendo por padrinhos José Pereira e D. Maria do Carmo. 

2.   JOÃO TELES TRIGUEIROS (1822-1886), ou JOÃO TELES TRIGUEIROS DO REGO MARTEL (1822-1886) como também aparece mencionado em diversa documentação. 

D. Carolina Cândida
Geraldes de Melo
(1837-1915).

João Teles Trigueiros
(1822-1886).
        Foi juiz desembargador, nascido a 20-3-1822 na fregue-
        sia de Escalos de Baixo, concelho de Castelo Branco,
        onde foi baptizado a 7-3-1823 na Igreja de São Silvestre,
        tendo por padrinhos Simão Trigueiros do Rego Martel
        (n. 1807) e por D. Doroteia Trigueiros Martel (n. 1803). 
        Faleceu a 19-IX-1886 na sua casa do Largo do Calvário, 
        em Aldeia Nova do Cabo, no concelho do Fundão.
        Proprietário em Escalos de Baixo, matriculou-se em
        Direito na Universidade de Coimbra a 20-X-1841, na qual
        obteve o grau de Bacharel a 23-VI-1845, concluindo a
        formatura a 14VI-1848. 
        Seguiu a carreira da magistratura. Inicialmente foi dele-
        gado do Procurador Régio e, mais tarde, juiz em Loulé
        (1852), Ourique (1853), Sabugal (1854), Portalegre (1860),
        Celorico da Beira (1862), Sertã (1865), Fundão (1866),
        Coimbra (1875) , Viseu (1880) e, por fim, juiz desembargador da Relação de Lisboa.

Casou a 26-VIII-1850 em Escalos de Baixo com D. CAROLINA CÂNDIDA GERALDES DE MELO (1837-1915)[21], proprietária nas freguesias de Aldeia de Joanes e de Aldeia Nova do Cabo, no concelho do Fundão, onde tinha uma casa alpendrada junto à Capela do Calvário – Casa do Calvário –, e em Escalos de Baixo. Esta nasceu a 18-I-1836 em Almeida onde foi baptizada a 29-I-1836 e teve por padrinho Nuno Brandão de Castro (n. 1805?)[22], de Ponte de Lima, capitão de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 21 (1833), herói da Causa do Liberalismo e camarada de armas de seu pai, e por madrinha D. Ana Celina.

Faleceu a 18-II-1915 na sua casa da rua do Eiró em Escalos de Baixo, onde foi sepultada no jazigo de seu genro o capitão António Augusto de Azevedo, tendo deixado uma herança de 18 prédios agrícolas aos seus herdeiros.

Era filha natural de José António Geraldes de Melo Coutinho (f. 1841)[23], tenente do Regimento de Infantaria n.º 21 (1833), o qual, à data do nascimento da sua filha estava a prestar serviço na Divisão Auxiliar a Espanha, e era natural de Aldeia Nova do Cabo, Fundão, tendo falecido solteiro a 12-VII-1841 em Castelo Branco em cujo cemitério foi sepultado, e de D. Maria da Encarnação dos Anjos, natural do Porto.

Era neta paterna de Manuel António Geraldes Leitão Coutinho de Melo (n. 1766), nascido a 28-IV-1766 em Aldeia Nova do Cabo, proprietário nessa freguesia e em Idanha-a-Nova, descendente dos morgados dos Geraldes que deram origem aos marqueses da Graciosa em Idanha-a-Nova, e de sua mulher D. Angélica Leocádia de Oliveira Fonseca Coutinho Botelho, natural de Penamacor; e neta materna de José Joaquim Gonçalves, natural de Santo Tirso, e de sua mulher D. Maria José, natural do Porto.

Tiveram:

3.     JOSÉ MARIA TELES TRIGUEIROS DE MELO (n. 1854), que segue abaixo.

3.   D. MARIA LIBÉRIA TRIGUEIROS MARTEL (1856-1907), casada com Joaquim Augusto de Oliveira Leitão (1854-1909), tenente-coronel de Cavalaria, com geração[24].

3.    D. CONCEIÇÃO TELES TRIGUEIROS GERALDES DE MELO, natural de Escalos de Baixo, casada com ANTÓNIO AUGUSTO DE AZEVEDO, capitão do exército. Ambos faleceram sem geração, em Escalos de Baixo, onde foram sepultados no jazigo de família do cemitério público desta freguesia.

3.     D. RICARDINA TELES TRIGUEIROS (f. 1934), que faleceu a 11-2-1934 na sua casa da freguesia de Pêro Viseu, no concelho do Fundão. Casou com CÉSAR AUGUSTO CALDAS E QUADROS (1866-1937), formado em Direito, conservador do Registo Civil do Fundão (1911-1936), proprietário na freguesia de Pêro Viseu, concelho do Fundão, nascido a 27-VIII-1866 no Castelejo , concelho do Fundão, falecido a 2-I-1937 na sua casa de Pêro Viseu, situada junto da Igreja Matriz, filho de José de Matos Caldas e Quadros, natural do Castelejo, casado com sua prima D. Maria do Patrocínio Caldas e Quadros, natural de Pêro Viseu; neto paterno de José de Matos, do Castelejo, e de sua prima co-irmã D. Ana Bárbara Caldas e Quadros (n. 1787), nascida a 4-V-1787) em Alcongosta; e neto materno de José Paulo Caldas (f. 1859), de Pêro Viseu, casado com sua prima co-irmã D. Leonarda Josefina Caldas e Quadros (n. 1791), nascida a 23-XII-1791 em Alcongosta. César Augusto licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra a 24-VII-1893. A sua casa nesta aldeia situava-se ao lado da Igreja e veio posteriormente a ser adquirida com a finalidade de aí ser instalada a Casa Paroquial. Não tiveram geração, pelo que o Dr. César fez testamento no qual legou uma habitação a uma sua empregada doméstica e designou para seu universal herdeiro um jovem afilhado que foi criado na sua casa.

José de Melo Geraldes Cajado
(f. 1904), e D. Maria do Carmo
Teles Trigueiros (f. 1936).
        3.    D. MARIA DO CARMO TELES TRIGUEIROS (f. 1936), casada com seu
                primo José de Melo Geraldes Cajado (f. 1904).

3.   JOSÉ MARIA TELES TRIGUEIROS DE MELO (n. 1854), nasceu a 31-VI-1854 em Aldeia Nova do Cabo, concelho do Fundão, onde foi baptizado a 9-IX-1854 tendo por padrinhos João António de Melo e D. Rita Leocádia Geraldes de Melo.

    Bacharel em Direito pela universidade de Coimbra (03-VII-1878), foi delegado do Procurador Régio e juiz em várias comarcas, tais como na Ilha de São Jorge nos Açores (1882), em Almeida, em Almada (1888), em Benavente (1899), e em Caldas da Raínha (1900).

Casou duas vezes.

     As suas primeiras núpcias foram celebradas com sua prima D. MARIA MARGARIDA DE MELO GERALDES CAJADO (1855-1888), nascida em 1855 e falecida prematuramente em Cacilhas, Almada, sem geração.

Esta era filha de Joaquim Cajado Geraldes de Melo (1813?-1887), proprietário, nascido por volta de 1813 em Idanha-a-Nova, onde faleceu a 15-II-1887 na Rua da Praça, casado a 28-IX-1843 em Idanha-a-Nova com D. Antónia Ludovina Leitão (1816-1892), proprietária, nascida em 1816 em Pedrógão Pequeno, Sertã, e falecida a 16-VI-1892 na Rua da Praça em Idanha-a-Nova; neta paterna de Francisco António de  Paula Geraldes de Melo Coutinho (c. 1805), nascido em Aldeia Nova do Cabo, Fundão, casado a 1-XII-1805 em Idanha-a-Nova com sua tia D. Maria Margarida Geraldes de Melo Coutinho (n. 1775) , nascida a 27-XI-1775 em Idanha-a-Nova; e neta materna de António José Leitão (f. 1850) , proprietário, natural de Pedrógão, concelho de Penamacor, o qual faleceu a 26-VII-1850 em Idanha-a-Nova, e era casado com D. Maria Lopes Xisto, natural de Idanha-a-Nova.

       As segundas núpcias, quando contava 41 anos de idade e após o falecimento de sua 1.ª mulher, foram celebradas a 26-XI-1896 na igreja paroquial de Idanha-a-Nova com a sua sobrinha D. MARIA ISABEL DE MELO CAJADO TRIGUEIROS (1874-1900), de 22 anos, tendo por padrinhos o doutor João Baptista Meireles, solteiro, médico do Partido Municipal, D. Clara da Fonseca Vaz Preto, viúva, João José Trigueiros de Aragão e Costa, solteiro, e D. Maria do Carmo Teles Trigueiros, casada, todos abastados proprietários e moradores em Idanha-a-Nova. Sua segunda mulher era filha de José de Melo Geraldes Cajado (f. 1904) e de sua prima D. Maria do Carmo Teles Trigueiros (f. 1936).

       Filhos do 2.º casamento:

4.    MARIA (1898-1900), nasceu 22-XII-1898 na freguesia de Idanha-a-Nova, em cuja igreja paroquial foi baptizada a 23-III-1899, tendo por padrinhos José de Melo Geraldes Cajado, casado, e D. Maria do Carmo Teles Trigueiros de Melo Martel, casada. Faleceu a 30-VII-1900 na Rua do Adro em Idanha-a-Nova, quando contava 19 meses de idade, tendo recebido sepultura no cemitério público.

4.  D. MARIA GERALDES DE MELO TRIGUEIROS (1901-1975), nasceu a 31-VIII-1901 em Idanha-a-Nova, em cuja igreja paroquial foi baptizada a19-X-1901, apadrinhada por José de Melo Geraldes Cajado, proprietário, casado, e por D. Maria do Carmo Teles Trigueiros de Melo Martel, casada. Faleceu em 1975.

Foi senhora de um apreciável património fundiário e várias casas; entre elas a Casa do Calvário em Aldeia Nova, no concelho do Fundão, e a casa da rua do Adro, em Idanha a Nova.

Casou a 23-X-1925 com ISIDORO JOAQUIM FERREIRA PINTO (f. 1968), falecido a 20-IX-1968, proprietário agrícola em Idanha-a-Nova, onde era senhor da Herdade da Cachouça.

Tiveram geração que seguiu os apelidos PINTO DA SILVA, entre outros.



Notas:

[1]   D. MARIANA BÁRBARA TRIGUEIROS MARTEL (1794-1880) era tetravó de João Trigueiros, o autor destas notas. o
[2]  JOAQUIM TRIGUEIROS MARTEL (1801-1873), 1.º Conde de Castelo Branco, em cujo distrito foi grande proprietário rurai, nomeadamente em Sarnadas de Ródão onde tinha uma grande casa, e na freguesia de Alfrivida. Foi general da Arma de Cavalaria (1866), Par do Reino (carta de 28-XII-1871), e pertenceu ao Conselho de D. Pedro V, e de D. Luís I, do qual foi ajudante de campo honorário. Pelas suas convicções liberais, foi forçado a emigrar para Inglaterra, pela Galiza, e depois para a Ilha Terceira onde se reuniu o exército liberal para se incorporar nas forças militares de D. Pedro. Como militar foi um dos heróis da Causa Liberal, o qual desembarcado com o exército libertador em Pampelino, próximo da Praia do Mindelo a 8-VII-1832. Distinguiu-se pela sua bravura em diversos recontros, nomeadamente na batalha de Almoster a 18-II-1833, e na batalha de Asseiceira a 18-V-1833, na qual, após uma carga que efectuou sobre três esquadrões de cavalaria inimiga, aprisionou por esse golpe toda a artilharia das forças contrárias; assim como na Acção de Pernes a 30-I-1834, em que carregou vitoriosamente com o esquadrão do seu comando sobre o quadrado de infantaria das forças contrárias. Em 1837, durante a Revolta dos Marechais (12-VIII-1837) – contra o governo saído da Revolução de Setembro que substituiu a Constituição de 1822 pela Carta Constitucional de 1826 (outorgada por D. Pedro IV) –, seguiu o partido destes e foi separado do serviço em virtude da Convenção de Chaves. Com as mudanças subsequentes regressou ao serviço, retomando a carreira militar. 
Comandou as divisões militares de Lisboa, Estremoz e Castelo Branco, até que no dia 2-V-1844 foi decretado que o regimento de Cavalaria nº 8 em Castelo Branco ficasse sob o seu comando, sendo então edificado por sua iniciativa o novo Quartel de Cavalaria no Largo da Devesa. Foi promovido a General de Brigada em 1870, e em 1872 deixou por doença o comando da 1.ª Divisão Militar. Possuía várias condecorações: era grã-cruz da Ordem Militar de São Bento de Avis; comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa; oficial da Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito; medalha das Campanhas da Liberdade, n.º 9; medalhas de ouro, de Valor Militar, Bons Serviços, Comportamento Exemplar. Tinha ainda as condecorações espanholas de grã-cruz da Ordem de Carlos III, e comendador da Real Ordem de Isabel a Católica.
Casou a 4-VII-1834 com sua prima D. MARIA JOSÉ PESTANA GOULÃO (n. 1803), nascida a 15-XI-1803 em Sarnadas de Ródão, concelho de Vila Velha de Ródão, filha de António Joaquim Pestana (1764-1846), natural de Monte Claro, Niza, proprietário, sargento-mor de Ordenanças de Vila Velha de Ródão, e de sua mulher D. Joana Bernarda Doroteia de São Paulo do Rego Teles Goulão (1764-1814), nascida a 17-IX-1764 em Alcains, concelho de Castelo Branco, onde veio a falecer em 1814.

[3]    A família Goulão de Alcains, deu a esta paróquia vários sacerdotes. A saber: Pe. Manuel Rodrigues Goulão (1683); António Rodrigues Goulão (1696); Frei Dr. Manuel Sanches Goulão (1708-1719), bispo de Meliapor; seu irmão Frei Dr. Martinho Pereira Goulão (1717-1741); Pe. Fr. Simão Sanches Martins Goulão; Pe. João Martins Goulão (1740); Pe. Estêvão da Cruz Goulão (1747); Pe. António Álvaro Goulão (1777); Pe. João Carlos Pereira Goulão (1787); Pe. João Pereira Goulão (1820); e Pe. Joaquim Pedro Goulão (1898).

[4]      ANTT, Cartório da Nobreza, Livro I, fl. 63 v.

[5]   JOSÉ MARTINS PEREIRA GOULÃO (n. 1725) e sua mulher D. JOANA BERNARDA DO REGO TELES CARMONA, tiveram: 1. João José, já mencionado; 2. Manuel Bernardo, cónego da Sé da Guarda; 3. Joana Doroteia de S. Paulo Goulão (1764-1814), casada com António Joaquim Pestana (1764-1846), sargento-mor das Ordenanças de Vila Velha de Ródão, proprietário c.g.; 4. Joaquim José, capitão-mor das Ordenanças de Castelo Branco, em cuja Câmara foi vereador em 1810, 1815, 1819 e 1824; 5. Domingos do Rego, religioso da Ordem de Santo Agostinho; 6. Leonardo António, cónego regular de Santo Agostinho.

[6]     INÊS PEREIRA GOULÃO (1688-1746), era filha de José Martins Goulão (1649-1716), sargento-mor das Ordenanças de Castelo Branco com grandes serviços prestados durante a invasão espanhola de 1704, casado em segundas núpcias com D. Ana Pereira (f. 1755), falecida a 18-IV-1755 e sepultada em Alcains na capela de Nossa Senhora da Piedade (actualmente denominada de São Brás) e anexa ao Solar dos Goulões, que ela própria mandou edificar em 1725 de harmonia com a última vontade do seu enteado D. Manuel Sanches Goulão (1677-1719), bispo de Meliapor, expressa em testamento por este feito em Lisboa a 5-IV-1719, pelo qual também instituiu um hospital que funcionou a partir de 1725, numa casa situada perto do solar, o qual deu o nome à «Rua do Hospital»; neta paterna de Simão Martins Goulão (1593-1658), capitão, nascido a 7-XI-1593 em Castelo Branco, cidade onde faleceu a 29-XII-1658, e de sua primeira mulher D. Maria Sanches (1617-1673), nascida a 22-II-1617 em Alcains, Castelo Branco, cidade onde faleceu a 4-X-1673, tendo deixado doze filhos deste casamento; e neta materna de Bernardino Pereira (n. 1620), capitão, e de sua mulher Maria Esteves, naturais da Covilhã; bisneta paterna de António Martins Goulão (1568-1634), capitão, nascido em 1568 (?) em Alcains, Castelo Branco, onde faleceu a 27-VIII-16341, casado a 9-II-1592 em Alcains com D. Maria Gomes (1574?-1663), nascida por volta de 1574 e falecida a 20-II-1663 em Alcains, da qual teve nove filhos.

[7]   A reorganização militar operada para sustentar a Guerra da Restauração, após a declaração da independência em 1640, militarizou a população do reino em, basicamente, três escalões de tropas: 1.º - Exército de Linha, destinado à guerra de manobra nas fronteiras, organizado em terços de infantaria, com 200 soldados cada (num total de 20.000 infantes), provenientes de entre os filhos segundos (excepto os filhos de viúvas e lavradores); e companhias de cavalaria, de 100 ginetes cada (num total de 4.000 ginetes), com oficiais e soldados recrutados entre a nobreza; 2.º - Terços Auxiliares ou milícias, organizadas por 30 comarcas, vocacionados para guarnecer ou defender as praças fortes junto à fronteira, cada terço com 600 homens agrupados em 10 companhias de 60 homens, recrutados entre os filhos de viúvas e lavradores, comandados por um mestre de campo (coronel), e os respectivos sargentos-mores, capitães e alferes; 3.º - Companhias de Ordenanças, organizadas por comarcas, cada uma com 240 homens, as quais serviam fundamentalmente como depósitos de recrutamento e eram comandadas por um capitão-mor, com seu sargento-mor e dois ajudantes, geralmente fidalgos.

[8]     SIMÃO REBELO MARTEL (1660?-1722), era filho de António Rebelo Martel (n. 1640?) natural de Leça, Matosinhos, residente em Idanha-a-Nova, e de sua mulher D. Úrsula Isabel da Silva Toscano (n. 1640?) natural do Porto, provável parente de Cristóvão de Madureira que foi  comendador do Porto na Ordem de Cristo, o qual viveu algum tempo em Castelo Branco e foi casado com Guiomar Toscana, filha de Jorge Toscano e de sua mulher Antónia Toscano, supostos senhores da Quinta de Santa Cruz, na freguesia de Canelas, concelho de Penafiel. Destes deve ser parente Úrsula da Silva Toscano (n. 1640?). – Cfr. GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Azevedos», § 37, Vol. I, p. 564; e Tít. «Madureiras», § 2, 8, Vol. VII, p. 150; e Cristóvão Alão de Morais, Pedatura Lusitana, t. III, v. 2, p. 418. Estes Madureira Toscano, parecem ser os do antigo Morgadio da Quinta do Freixo, na freguesia de Guilhabreu, então no concelho da Maia e hoje no de Vila do Conde. Dos Toscano há a registar, na Beira: João Toscano de Sousa (c.1683), vigário da freguesia de Santa Maria, a actual Sé de Castelo Branco; e Pedro Toscano de Sousa, de Alpedrinha, casado com uma filha de Luís Taborda, que fundou a Misericórdia da mesma vila em 1630, para a qual deu a capela de S. Fernando. – in António Salvado Mota, Alpetrinienses Ilustres, 1929, Alpedrinha, p.129.

[9]     ANTT, Registo Geral de Mercês, D. Pedro II, Liv. 5, fl. 18v.

[10]  Segundo Manuel Álvares Piteiros (n.1700), de Idanha-a-Nova, declarou no Processo de Justificação de Nobreza de Joaquim Rebelo Trigueiros Martel Leite (Autos), p. 16 v.º.

[11]   D. ISABEL TRIGUEIROS DA COSTA (1688-1768), era filha de Jorge Trigueiros da Costa (1658-1704), baptizado a 7-IX-1658 na Igreja de São Tiago de Coimbra pelo padre Francisco Curado e apadrinhado pelo Doutor Luís Tavares. Nesta cidade de Coimbra «serviram de vereadores seus ascendentes e parentes colaterais». Fez habilitação para o Santo Ofício, obtendo a Carta de Familiar a 20-XI-1699 (ANTT, Cartório da Nobreza, Processo de Justificação de Nobreza de Joaquim Rebelo Trigueiros Martel Leite (Autos), Mç 22, Doc. 15; e ANTT, TSO, Inquisição de Coimbra, Carta de Familiar de 20-XI-1699, Mç 2, Diligência 55).
Seu pai JORGE TRIGUEIROS DA COSTA (1658-1704) veio residir em Idanha-a-Nova e faleceu a 16-VII-1704 na cidade de Alcântara, província de Cáceres, em Espanha, na qualidade de prisioneiro da Guerra da Sucessão deste país «captivo que foi pello inimigo constou que falleceo em Alcantara (…) como constou por ditto de sua mulher» e ficou registado no livro de óbitos de Idanha-a-Nova.
Casou a 29-X-1685 em Idanha-a-Nova com D. ISABEL NUNES CALVO (f. 1726), daí natural e aí falecida a 20-VIII-1726, em cuja igreja matriz foi sepultada. Foram testemunhas deste casamento o capitão António de Oliveira Lagarto e Francisco Nunes Piteiros (c. 1715).
Sua mulher era filha de Manuel Roiz Mestraires e de Maria Nunes Calvo (f. 1719), esta última falecida já viúva a 13-IX-1719 em Idanha-a-Nova, os quais eram «lavradores honrados que viviam de sua fazenda»; neta paterna de Manuel Martins Mestraires e de sua mulher Maria Fernandes Ovelheira, lavradores; e neta materna de António Afonso Calvo (c. 1631) e de sua mulher Isabel Gonçalves, os quais «viveram de suas fazendas» e eram naturais da freguesia de Nossa Senhora da Conceição em Idanha-a-Nova.

[12]   O padrinho Dr. Domingos Marques Giraldes, conselheiro da Fazenda, filho de Marçal Pires Leitão e de sua mulher Constança Marques Giraldes, era casado com Catarina Trigueiros (Cfr. Luís Bivar Guerra, A Casa da Graciosa, § - 7, p. 203)

[13]  No processo de Justificação de Nobreza de seu filho aparece também com o nome completo de Jerónimo Trigueiros Martel Toscano Silva.

[14]  A reorganização militar operada para sustentar a Guerra da Restauração, após a declaração da independência em 1640, militarizou a população do reino em, basicamente, três escalões de tropas: 1.º - Exército de Linha, destinado à guerra de manobra nas fronteiras, organizado em terços de infantaria, com 200 soldados cada (num total de 20.000 infantes), provenientes de entre os filhos segundos (excepto os filhos de viúvas e lavradores); e companhias de cavalaria, de 100 ginetes cada (num total de 4.000 ginetes), com oficiais e soldados recrutados entre a nobreza; 2.º - Terços Auxiliares ou milícias, organizadas por 30 comarcas, vocacionados para guarnecer ou defender as praças fortes junto à fronteira, cada terço com 600 homens agrupados em 10 companhias de 60 homens, recrutados entre os filhos de viúvas e lavradores, comandados por um mestre de campo (coronel), e os respectivos sargentos-mores, capitães e alferes; 3.º - Companhias de Ordenanças, organizadas por comarcas, cada uma com 240 homens, as quais serviam fundamentalmente como depósitos de recrutamento e eram comandadas por um capitão-mor, com seu sargento-mor e dois ajudantes, geralmente fidalgos.

[15]    O Convento de Santo António foi adquirido pela família Manzarra que o converteu em residência solarenga, afectando as suas duas capelas já dessacralizadas em celeiros agrícolas.

[16]    No mês de Setembro de 1762, nas operações da Guerra dos Sete Anos, os exércitos castelhanos invadem Portugal através dos concelhos de Idanha-a-Nova e Castelo Branco, onde fazem grandes pilhagens de casas e capelas, aí deixando um grande rasto de miséria e de luto. A análise da sazonalidade dos óbitos no concelho de Idanha-a-Nova, associada à guerra, indicia a existência de alguma epidemia de tipo estivo-outonal nos anos de 1760-63. – Cfr. Maria João Guardado Moreira, Vida e Morte no Concelho de Idanha-a-Nova, pp. 128-157.

[17]    Domingos Lopes Ambrósio, fez uma escritura de trespasse de juro no valor de 30.000 reis ao capitão-mor de Idanha-a-Nova Manuel Álvares Rico a 10-V-1695. Cfr. ANTT, Feitos Findos, Administração de Casas, mç. 99, nº 11, cx. 100. 

[18]    Cfr. Sanches Roque, Alcains e a sua História, p. 313.

[19]  DOMINGOS NUNES GUEDELHA (N. 1672?), segundo declara uma testemunha na sua habilitação para o Santo Ofício (f. 16v), este «teve uma criança de uma criada de casa, a qual é natural dos Escalos de baixo, mas não sabe se é viva ou morta, o que ele testemunha sabe por servir nesse tempo de juiz e lhe levarem a dita criança a Casa Do Meirinho, e Escrivão para se mandar dar a criar», a qual, segundo outra testemunha «era filha de uma moça solteira chamada Joana Marruja (…), a qual é filha de António Gonçalves e de Maria Gonçalves Maruja» (f. 21v).

[20]    PEDRO NUNES DE SOUSA GUEDELHA (1659-1719), foi desembargador e cavaleiro da Ordem de Cristo (1691), natural de Castelo Branco, com uma carreira pública relevante no reinado de D. João V. Formou-se em Cânones na Universidade de Coimbra (4-V-1685), foi juiz de fora de Mértola (1687-1690), ouvidor de Vila Real (1691), superintendente dos descaminhos da administração do Tabaco do Algarve (1697), desembargador da Relação do Porto (1697), cargo este que abandonou por ter sido nomeado administrador geral da Companhia Real da Guiné e Índias de Espanha em Cartagena (cidade do império espanhol na América do Sul), onde permanece por alguns anos fazendo jornadas ao Perú e às Índias Ocidentais Espanholas, após o que regressa a Portugal para ocupar o cargo de desembargador extraordinário da Casa da Suplicação (1705), ouvidor do Crime da Casa da Suplicação (1708), vereador do senado da Câmara de Lisboa (1712), e ter sido instituindo um morgado em cuja sucessão nomeou o Hospital da Misericórdia de Castelo Branco, cidade onde casou na freguesia de Santa Maria a 13-IX-1684 com D. Agostinha Teles Barroso de Sousa (f. 1702), filha do capitão João Teles, natural de Castelo Branco, e de sua mulher D. Maria Barroso, natural de Ferreira do Zêzere. Falecida sua primeira mulher, casou em segundas núpcias com D. Brites Maria Pessoa de Vasconcelos Spínola que em 1717 obteve uma tença de 60.000 réis. Fez testamento a 8-III-1717 no qual nomeou por testamenteiros sua mulher e Raimundo Manuel da Cunha, tendo falecido em 1719 na sua casa da Rua Nova de Jesus em Lisboa, sem filhos legítimos, com uma filha natural perfilhada que foi Cecília Marques.

[21]    Há dois assentos de baptismo de D. CARONINA CÂNDIDA. O primeiro deles, com este nome, foi anulado devido à não inclusão do nome da sua progenitora. O segundo registo corrige este lapso, mas apenas a nomeia como CAROLINA.

[22]    NUNO BRANDÃO DE CASTRO (n. 1805?), de Ponte de Lima, o padrinho de Carolina Cândida, casou com a açoriana D. Mariana Carolina Rebelo Borges de Castro (1806-1874), foi um glorioso e condecorado combatente da Causa do Liberal – Oficial da Ordem de Torre e Espada, em 1845 – que emigrou pela Galiza em direcção a Londres (1828), e daí para a ilha Terceira (1829) onde se concentraram as forças liberais, com as quais veio desembarcar na Praia do Mindelo a 8-VII-1832, após o que travou quase todos os combates até à derrota de D. Miguel (1834). Prestou serviço no Regimento de Infantaria n.º 21 quando foi promovido ao posto de Capitão (25-IX-1833), e veio a ser coronel graduado e tenente-rei da Praça de Abrantes (1853), terminando a carreira como comandante da subdivisão militar de Ponta Delgada (Açores). Aquando do nascimento de Carolina Cândida, este seu padrinho também teve um filho natural que foi Aristides Brandão de Castro (n.1836), nascido a 25-IV-1936 em Almeida, o qual seguiu a carreira militar.

[23]  JOSÉ ANTÓNIO GERALDES DE MELO COUTINHO (f. 1841), era irmão de Francisco António de Paula Geraldes de Melo Coutinho (c. 1805), nascido em Aldeia Nova do Cabo, casado com sua tia Maria Margarida Geraldes de Melo Cajado (n. 1775), nascida a 27-XI-1775 em Idanha-a-Nova. Por altura do nascimento desta sua filha Carolina Cândida, ele estava em Almeida integrado nas tropas portuguesas aqui reunidas (Ordem do Exército de 17-XI-1834) para se oporem ao levantamento dos partidários do pretendente absolutista D. Carlos de Espanha contra a rainha D. Isabel II (1.ª Guerra Carlista). Estas tropas passaram a Espanha com um exército de 6 mil efectivos e aí prestaram relevantes serviços, com destaque para a batalha de Arminon (País Basco, Espanha), após o que regressaram a Portugal em Setembro de 1837. 

[24]  D. MARIA LIBÉRIA TRIGUEIROS MARTEL (1856-1907), foi bisavó de João Trigueiros, autor destas notas. 


JOÃO ANTÓNIO PORTUGAL TRIGUEIROS DE ARAGÃO (1940-2017) - Mestre Picador na Escola Portuguesa de Arte Equestre.



João Trigueiros Aragão (1940-2017), montado o "Ansioso" (Lusitano Alter Real)


JOÃO ANTÓNIO PORTUGAL TRIGUEIROS DE ARAGÃO (1940-2017), nasceu a 24-XII-1940 na freguesia de São Sebastião da Pedreira em Lisboa, cidade onde faleceu 23-VII- 2017 tendo sido cremado no Cemitério do Alto de São João.
Mestre de Equitação, foi um dos fundadores da Escola Portuguesa de Arte Equestre, a sucessora da Picaria Real no Palácio de Belém, posteriormente “Museu Nacional dos Coches”, assim como administrador da «Fábrica Lusitana – Produtos Alimentares» em Alcains».

João Trigueiros Aragão (1940-2017).
Era filho de JOAQUIM TRIGUEIROS DE ALMEIDA OSÓRIO DE VILHENA DE ARAGÃO E COSTA (1908-1976), que nasceu a 24-XI-1908 em Idanha-a-Nova, e faleceu a 3-XII-1976 em Alcains. Piloto aviador civil, distinto bibliógrafo, possuidor de uma grande e curiosa colecção de armas, foi herdeiro de uma grande casa agrícola e senhor dos solares de Idanha-a-Nova e Escalos de Baixo, assim como da Casa de São Sebastião em Alcains, onde viveu. Era casado a 16-X-1938 na capela da casa da família de sua mulher, na vila de Alcains, com sua prima D. MARIA ANGÉLICA DE PORTUGAL LOBO TRIGUEIROS DE ARAGÃO (n. 1918), nascida a 26-X-1918 na Casa do Outeiro em Aldeia de Joanes, concelho do Fundão, filha de António Trigueiros Coelho de Aragão (1894-1976) e de sua mulher D. Ana Augusta Portugal Lobo Teles de Vasconcelos (1895-1988).

D. Maria da Conceição de
 Lancastre e Távora (1946-2020)
JOÃO ANTÓNIO casou a 5-VII-1971 na Quinta da Fonteireira, em Belas, com D. MARIA DA CONCEIÇÃO DE LANCASTRE E TÁVORA (1946-2020), nascida a 14-III-1946 em Lisboa, onde faleceu a 22-VI-2020, filha de D. José Maria da Piedade de Lancastre e Távora (1887-1961), 9.º Marquês de Abrantes, 16.º Conde de Penaguião, 12.º Conde de Vila Nova de Portimão, nascido a 27-VI-1887 na Póvoa de Santa Iria, Vila Franca de Xira, e falecido a 16-XI-1961 em Lisboa, licenciado em engenharia Civil e de Minas trabalhou na Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, e de sua mulher, com a qual casou as 26-II-1928 em Lisboa, D. Maria Emília do Casal-Ribeiro Ulrich (1907-1994), nascida a 27-VII-1907 em Sintra, e falecida a 7-III-1907 em Lisboa.
Tiveram:
13.  FRANCISCO XAVIER DE LANCASTRE E TÁVORA TRIGUEIROS DE ARAGÃO (n. 1973), nascido a 17-II-1973 em Lisboa.
13.  D. CATARINA DE LANCASTRE TRIGUEIROS DE ARAGÃO (n. 1976), nascida a 24-XI-1976 em Lisboa.
13.    DUARTE MARIA DE LANCASTRE E TÁVORA TRIGUEIROS DE ARAGÃO (1978-1996), nasceu a 23-V-1978 em Lisboa, tendo falecido prematuramente vítima de um trágico acidente a 9-VIII-1996 em São Martinho do Porto, concelho de Alcobaça.



Escola Portuguesa de Arte Equestre.

MORGADO DE PEROVISEU E CHÃOS, Concelho do Fundão, Século XVII

Pêro Viseu


INTRODUÇÃO

A instituição do morgadio com bens vinculados tinha quase sempre por objectivo perpetuar a memória do seu fundador, assim como a manutenção do respectivo património fundiário – indivisível e inalienável –, na posse do varão primogénito como chefe da linhagem à qual este devia providenciar uma subsistência condigna.
Regra geral os seus instituidores eram sepultados em capelas edificadas à sua custa e sustentadas com uma pequena parte do rendimento dos bens vinculados, sobre os quais recaiam vários encargos pios e missas celebradas pela alma do seu fundador e de familiares.

No passado, muitas casas abastadas ambicionavam vincular em morgadio grande parte do seu património. Assim se evitava que este viesse a fraccionar-se em partilhas, a responder por dívidas pessoais dos herdeiros, ou a ser alienado por algum morgado perdulário.
O instrumento jurídico da instituição destes vínculos – escritura notarial, testamento, etc. – regra geral impunha ao seu administrador o uso e a transmissão do nome e das armas da família, caso as houvesse, assim como “regras de conduta social e formas de relacionamento com o mundo dos antepassados, destinados a vigorar durante gerações e condicionando tanto a posse dos bens como a chefia da linhagem” (Rosa, 1995: 20).

O matrimónio era uma das estratégias usadas para aumentar este património. Os cônjuges dos futuros morgados/administradores eram muitas vezes recrutados entre a parentela próxima de abastadas figuras eclesiásticas que, na ausência de filhos, os dotavam, contribuindo assim para ampliar os bens do morgadio. Deste modo se aumentava o poder económico e o prestígio social da família, a qual vivendo nobremente e no desempenho de cargos nobilitantes (oficiais superiores do exército e das ordenanças, magistratura ou administração local), acabaria por ver facilitada a sua ascensão à nobreza, como sucedeu neste caso.

Este vínculo reuniu duas famílias do concelho Fundão: os Machado Freire com vários clérigos cujo património esteve na origem deste morgadio; e os Dias Preto, membros da elite militar e social desta região, cuja linha varonil se consorciou com a herdeira do vínculo inicial.
Foi neste contexto que surgiu o morgadio de Peroviseu e Chãos – ou Pêro Viseu, como modernamente se voltou a grafar este topónimo –, o qual acabou por reunir três vínculos que estão na sua origem, devido à iniciativa testamentária de dois párocos homónimos, respectivamente tio e sobrinho.

FIG.1 | Capela de São Romão; Pêro Viseu.
O morgadio de Peroviseu e Chãos teve uma evolução estável ao longo de quase dois séculos, atravessando oito gerações da mesma família e distribuindo o seu património essencialmente pelas aldeias de Pêro Viseu, Valverde, Chãos (Donas) – todas elas no concelho do Fundão. Só viria a extinguir-se na segunda metade do século IXX por via da legislação liberal que aboliu definitivamente o sistema do morgadio em 1863.

À semelhança da maioria dos vínculos de grande dimensão, também este teve a sua capela familiar, sendo esta sediada em Pêro Viseu. Inicialmente denominada de Capela de São Francisco Xavier (1734), a sua designação acabou mudada para Capela de São Romão em homenagem a uma imagem deste santo nela existente, o qual era protector dos cães raivosos e suscitava grande devoção entre a população local[1]. A sua existência é referida pelo pároco Inácio da Costa nas Memórias Paroquiais de 1758, quando enumera as capelas da paróquia: “… tem outra de Sam Francisco Xavier, dentro deste povo, que he a capella do Morgado Diogo Dias Preto Machado da Cunha[2]. Como muitas outras capelas de morgadios, também esta terá sido edificada para túmulo de um dos fundadores, o que não se concretizou por este ter falecido antes da sua conclusão no ano de «1734», data esta que está gravada no lintel da porta principal.

INSTIUIÇÃO DO MORGADIO

A complexa fundação deste morgadio ficou a dever-se à iniciativa de dois instituidores que eram sacerdotes homónimos: o padre Luís Machado Freire (1.º), e o seu sobrinho Luís Machado Freire (2.º) (n. 1661), ambos naturais do lugar de Chãos (Donas) e párocos em Pêro Viseu onde granjearam meios de fortuna.

O morgadio de Peroviseu (1696) resultou da união de dois vínculos instituídos separadamente a favor de duas herdeiras nomeadas por disposição testamentária de 24-XI-1696, da autoria do citado Luís Machado Freire (1.º) que foi pároco de Pêro Viseu (1670-1696), filho de Manuel Machado natural de Chãos.
Estes dois vínculos iniciais foram constituídos com os bens próprios e herdados por morte de dois irmãos, um dos quais o precedeu o instituidor como pároco na citada freguesia.
Algumas das principais propriedades deste morgadio situavam-se nos arredores desta aldeia do concelho do Fundão, nos produtivos Vales de Pêro Viseu e do Brejo.
As suas destinatárias foram duas irmãs do instituidor – Maria Machada (1.ª) e Isabel Machada da Cunha, já viúvas –, o qual lhes queria garantir deste modo a sobrevivência com algum desafogo económico e, por morte destas, a transmissão destes bens vinculados aos respectivos descendentes – um filho e uma filha – com o intento de estes se casarem, unindo assim a fortuna que lhes foi deixada para garantir o seu sustento enquanto vivas.

A preferência na sucessão destes dois vínculos, expressa em testamento pelo instituidor, exclui outros sobrinhos e sugere até alternativas caso o desejado casamento não se concretizasse. O seu objectivo era a reunião destes bens através da união matrimonial de dois ramos familiares e a sua transmissão à linhagem, com a exclusão de algumas linhas sucessórias.
Refere o citado testamento:
quero instituir dois morgados os quais instituo na forma seguinte: Que por quanto tenho as minhas fazendas de raiz assim de terras, olivais, vinhas, soutos, chãos de regadio, casas, engenhos de moer pão e lagares de azeite nos limites deste lugar de Peroviseu e outros lugares do termo da vila da Covilhã[3], por tanto por esta clausula do meu testamento quero e é minha vontade de deixar e deixo metade da dita tal fazenda e quanto se achar ser minha, a minha irmã Maria Machada mulher viúva que ficou do capitão Francisco Gil do lugar dos Chãos, freguesia d’Aldeia Nova das Donas …(Esteves, 2004:190).
Diz ainda mais adiante:
… e casando o dito meu sobrinho Frei Diogo Dias Machado com a minha sobrinha Maria Machada [Freire] filha de minha irmã Maria Machada se vinculará este morgado e capela que também acima neste meu testamento deixo a dita minha irmã Maria Machada ...” (Ibid, 204: 193)

Cerca de trinta anos depois da sua instituição (1696) foi-lhe anexado o vínculo de Chãos (1725), passando então a designar-se por Morgado de Peroviseu e Chãos, denominação tomada de duas aldeias do concelho do Fundão nas quais estava disperso o seu património que era constituído por diversas propriedades com solos de razoável aptidão agrícola, cuja produtividade terá contribuído para a grandeza desta casa.
FIG.2  | Chãos, Casa dos Machados (ruína).

O vínculo de Chãos foi criado por outro testamento datado de 1725 da autoria do padre Luís Machado Freire (2.º) (n. 1661), sobrinho homónimo do instituidor dos dois primeiros vínculos.
Este sacerdote era um dos três filhos conhecidos da sua irmã D. Maria Machada Freire (1.ª), herdeira do primeiro instituidor, casada com o capitão Francisco Gil do lugar de Chãos.
Para administradora deste último morgadio nomeou a sua irmã Maria Machada Freire (2.ª) (f. 1742), a qual, juntamente com seu primo e marido Diogo Dias Machado (II) (1676-1709) já eram senhores dos dois primeiros vínculos[4].

Sem sobressaltos, e segundo a preferência manifestada pelo instituidor, a unificação deste património acabou por se realizar através do almejado casamento realizado a 19-X-1699 em Pêro Viseu entre os seus dois sobrinhos: os primos co-herdeiros Diogo Dias Machado (II) (1676-1709), filho das segundas núpcias de sua irmã Isabel Machada da Cunha e do Mestre de Campo Diogo Dias Preto[5], com a sua prima D. Maria Machado Freire (f. 1742), a qual era filha da irmã do instituidor, de seu nome D. Maria Machada Freire (1.ª), casada com o capitão Francisco Gil.

Vejamos a instituição deste morgadio:

O 1.º vínculo morgado de Pêro Viseu era constituído pelo património que o padre Luís Machado Freire (1.º) herdou de dois irmãos, os quais deixaram expressa esta sua vontade, como declara o instituidor no seu testamento no qual nomeia para 1.ª administradora a sua irmã D. Maria Machada Freire (1.ª), viúva do capitão Francisco Gil, de Chãos. Após a morte desta senhora, devia este vínculo passar ao seu filho o padre Luís Machado Freire (2.º) (n. 1661), homónimo de seu tio o instituidor, e posteriormente a este sucederia na sua administração a sua irmã Maria Machada Freire (2.ª), pelo facto de ter vindo a casar em Pêro Viseu a 19-X-1699 com seu primo Diogo Dias Machado (1676-1709), ou Diogo Dias Preto como também é mencionado noutros documentos, cumprindo-se assim o desejo do instituidor.
Caso houvesse uma recusa desta proposta aliança matrimonial por parte de Maria Machado Freire (2.º) com o indigitado Diogo Dias Machado, ou, em alternativa que também deixou expressa, com o seu irmão Lourenço Dias Machado (que neste caso passaria a ser o herdeiro do vínculo), os bens dos dois vínculos seriam transmitidos aos respectivos herdeiros sem se unirem.
No citado testamento menciona ainda que, se estes não casarem “não deixo à dita minha irmã Maria Machada e sua filha Maria Machada minha sobrinha este segundo morgado e capela antes o deixo a minha irmã sobredita D. Isabel Machada da Cunha e seus descendentes para sempre (…)” (Esteves, 2004,191).

O 2.º vínculo – morgado de Pêro Viseu – constituído com metade dos bens de raiz do padre Luís Machado Freire (2.º) (n. 1661), foi instituído em “capela e morgado que deixo a minha irmã D. Isabel Machada da Cunha mulher que foi do Mestre de Campo Frei Diogo Dias Preto cavaleiro professo da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo do lugar de Alcongosta”, à qual devia suceder o seu filho varão Diogo Dias Machado (1676-1709), como é designado pelo instituidor, ou Diogo Dias Preto como também aparece designado noutros documentos, o qual, como já referimos, viria a casar na Pêro Viseu (1699) com sua prima Maria Machada Freire (2.ª) (f. 1742).
Deste consórcio resultou a união dos dois vínculos inicialmente instituídos com bens da família Machado Freire, os quais originaram uma grande casa que deveria perpetuar o seu nome:
Também quero e mando que toda a pessoa que suceder no dito meu morgado e fazenda que tenham e usem do dito apelido e sobrenome − Machado – e assim quero que usem do dito apelido, para sempre e enquanto o dito morgado durar haja memória e lembrança da dita família e geração de meu pai Manuel Machado[6].
O padre Luís Machado Freire (2.º) (n. 1661), instituidor do segundo morgado, acrescenta no seu testamento: “com a condição que todos os chamados para administradores deste morgado ou capela tenham o apelido de Machado Freire.”[7]
Quanto à imposição do uso dos apelidos “Machado Freire” pelos administradores/morgados, esta acabou desrespeitada, pois, logo no início da sucessão vieram a ganhar relevância os apelidos dos “Dias Preto” sem que isso tivesse levantado qualquer contestação.

O 3.º vínculomorgadio de Chãos – instituído com bens vinculados na freguesia de Chãos, foi-lhe anexado por outro testamento datado de 17-XI-1725 da autoria do sobrinho do fundador que foi o homónimo padre Luís Machado Freire (2.º) (n. 1661), natural de Chãos. Este nomeou para administradora a sua irmã Maria Machada Freire (2.ª) que à data era viúva de Diogo Dias Preto Machado da Cunha, já possuidores dos vínculos de Pêro Viseu, muito aumentados com este património, o qual teria por cabeça deste morgado a seiscentista Casa de Chãos/Casa dos Machados (actual Casa da Cerca).

FIG.3 | Planta de Pêro Viseu

Quanto aos bens vinculados em morgado – de Peroviseu – que foram legados a D. Maria Machada Freire (1.ª), a primeira deste nome, o 1.º instituidor expressa em testamento as condições da sua transmissão. Estes, após a morte desta sua irmã, devem passar a seu filho o padre Luís Machado Freire (n. 1661), sobrinho do instituidor, enquanto este viver, após o que passarão para a irmã D. Maria Machada Freire (2.ª), com a exclusão do seu irmão Francisco Gil, filho homónimo e primogénito do capitão Francisco Gil, provavelmente por este ter feito um casamento que não era do seu agrado.


Acrescenta ainda que pelo falecimento desta sobrinha, tendo filhos, “suceda na tal fazenda seu filho varão mais velho, e em defeito de varão, sua filha mais velha, e em defeito do filho ou filha o herdeiro mais chegado, preferindo sempre, em igual grau o varão a fêmea”. 
O instituidor dos dois primeiros vínculos especificou ainda no seu testamento:
… deixo por meus testamenteiros e testamenteiras a minha irmã Maria Machada e a minha irmã Dona Isabel Machada da Cunha e em sua falta, os meus sobrinhos o Padre Luís Machado Freire [2.º] e o Frei Diogo Dias professo da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo do lugar de Alcongosta (Esteves, 2004:190).
Os testamenteiros nomeados pelo 1.º instituidor foram: 1.º – a irmã D. Maria Machada Freire (1.ª) de Pêro Viseu, viúva do capitão Francisco Gil do lugar dos Chãos; 2.º – a irmã D. Isabel Machada da Cunha que foi casada a 31-VIII-1665 em Pêro Viseu com o Mestre de Campo Diogo Dias Preto[8], de Alcongosta, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, coronel de um regimento de infantaria e governador interino da arma da província da Beira (Baena, 1872: 138-39); 3.º – o sobrinho homónimo padre Luís Machado Freire (2.º) (n. 1661), nascido em Chãos, filho de sua irmã D. Maria Machada Freire (1.ª) e do capitão Francisco Gil; 4.º – o sobrinho Frei Diogo Dias Machado, de Alcongosta, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, filho de sua irmã D. Isabel Machada da Cunha e do Mestre de Campo Diogo Dias Preto, o qual veio a casar com sua prima D. Maria Machada (2.ª).
Foram excluídos da sucessão, segundo declaração expressa no citado testamento: a descendência do irmão Domingos da Cunha; da irmã D. Ana Machada, moradora no Fundão; do sobrinho Manuel Giraldes que era filho da irmã D. Catarina Gil; assim como do sobrinho Francisco Gil (2.º), filho do capitão Francisco Gil (1.º) e de D. Isabel Machada da Cunha, irmã do instituidor, talvez devido a casamentos não consensuais feitos contra a vontade deste clã, segundo presumimos.
Ficamos ainda a saber que o 1.º instituidor, o padre Luís Machado Freire (1.º), além das duas irmãs beneficiadas, tinha outros irmãos e irmãs. Alguns destes foram apenas contemplados com pequenos legados, e outros foram simplesmente arredados da sucessão do morgado: à irmã Ana Machada legou vinte mil réis; ao irmão Tomé Machado deixou dez mil réis; à irmã Catarina Machada que foi casada com Francisco Giraldes do qual teve o filho Manuel Giraldes, não deixou nada; assim como ao irmão Domingos da Cunha e seus descendentes, também não deixa nada.
FIG.4 | Casa do Morgado de Peroviseu, Fundão.
No citado testamento justificou a instituição de um dos primeiros vínculos pela já mencionada vontade expressa de dois dos seus irmãos já falecidos, cujos bens lhe foram legados para com eles instituir, por sua morte, um vínculo a favor da sua irmã Maria Machada Freire (1.ª).

Em cumprimento desta vontade, o referido pároco viria a instituir dois vínculos separados: um deles dando cumprimento à vontade post mortem de seus irmãos; o outro com os bens próprios. Tudo isto com o propósito de se poderem vir a reunir, posteriormente, através do matrimónio dos sobrinhos já mencionados – Diogo Dias Preto Machado da Cunha e sua prima direita Maria Machada Freire (2.ª) –, o que veio a suceder a 19-X-1699 através das núpcias celebraram na Igreja de Pêro Viseu pelo padre Manuel de Paiva.

Este vínculo continuou a aumentar o seu património, pois, em 1816, por iniciativa do chantre da Sé da Guarda e pároco em Pêro Viseu (1776) Diogo Dias Preto da Cunha morador em Chãos, foram-lhe acrescentadas várias propriedades.

Os seus administradores, além de várias casas rurais dispersas pelas diversas propriedades, tinham pelo menos três importantes casas residenciais a partir das quais se movimentavam para administrar o vasto património: uma delas era a então conhecida Casa do Morgado de Peroviseu, sita à rua do Terreiro (actual Praça do Município)[9], na então vila do Fundão; outra delas era a Casa dos Machados/Casa da Cerca no lugar de Chãos (Donas); assim como uma grande casa em Pêro Viseu, onde tinham grande parte do património.

SUCESSÃO DO MORGADO DE PEROVISEU
E CHÃOS

Por imposição do 1.º instituidor o padre Luís Machado Freire (1.º), a posse dos dois primeiros vínculos da Pêro Viseu reunidos num só morgado vieram a recair no sobrinho Diogo Dias Machado (1676-1709) (II)[10], nascido em 1676 em Alcongosta, onde faleceu e foi sepultado em 1709, o qual era familiar do Santo Ofício, alferes de cavalos do Regimento de Dragões de Castelo Branco, casado a 19-X-1699 em Pêro Viseu com sua mulher e prima, a co-herdeira do vínculo D. Maria Machada Freire (2.ª) (f. 1742), falecida com a 12-IX-1742 em Chãos com cerca de setenta anos de idade, filha homónima de sua mãe e herdeira do 3.º vínculo de Chãos por imposição do 2.º instituidor que foi o padre Luís Machado Freire (n. 1661) (2.º), sobrinho homónimo do 1.º instituidor.
Devido a este vantajoso casamento, deu-se a unificação dos três vínculos na posse deste clã, agora sob a designação de “Morgado de Peroviseu e Chãos, do qual fazia parte um já apreciável património fundiário que foi aumentando no século seguinte.

A este morgado sucedeu na sua administração o filho Diogo Dias Machado Preto (1700-1757) (III), familiar do Santo Ofício (14-XI-1726), alferes de cavalos do Regimento de Dragões da Beira (em Almeida), nascido a 22-III-1770 em Pêro Viseu em cuja matriz foi baptizado a 30 de Março, falecido a 26-II-1757 e sepultado na capela-mor da igreja “como padroeiro que era dela e de sua anexa S. Pedro do Catrão”. Este casou com D. Micaela da Mota Godinho (f. 1757) que sabemos ter falecido a 17-II-1771 em Pêro Viseu com cerca de sessenta anos de idade e foi sepultada junto a seu marido[11], a qual era senhora da Quinta de Varzielas na antiga freguesia de Santa Maria de Tábua, no distrito de Coimbra (Gaio, 1992; VIII, 624), irmã do padre Inácio Godinho da paróquia de Pêro Viseu, filha de Manuel Nunes Roque e de D. Maria da Mota da Veiga. Estes tiveram três filhos: 1.º - Diogo, o varão primogénito sucessor na administração do morgado; 2.º - Angélica, falecida prematuramente; 3.º - Paula, a qual herdou após o falecimento da mãe a terça dos seus bens para seu sustento, os quais por sua morte deviam ser vinculados ao morgado instituído em 1696. Esta última filha, de seu nome completo Paula Maria Angélica Preto da Cunha, viria a casar com o Dr. Manuel Tavares Falcão (c. 1622), tabelião do público judicial e notas da Atalaia[12], morador no Alcaide, concelho do Fundão (Silva, 2002: 107).

Recaiu a sucessão dos anteriores administradores no filho varão primogénito Diogo Dias Preto da Cunha (n. 1727) (IV), nascido a 5-V-1727 em Pêro Viseu, monteiro-mor da comarca da Guarda (1786), vereador eleito para a Câmara do Fundão (em 1779 e 1790), casado com D. Catarina Maria de Sousa Osório Coutinho Veloso Cabral natural do lugar da Rapa, concelho de Celorico da Beira, da qual sabemos ter tido seis filhos.
O primogénito deste casal, o homónimo Diogo Dias Preto da Cunha (n. 1744), seguiu a vida religiosa, foi canonista, prior de Pêro Viseu e chantre da Sé da Guarda, o qual não tendo filhos não sucedeu neste vínculo, o que não o impediu de zelar pela sua administração e reunir bens no lugar de Chãos, os quais anexou a este morgadio por escritura feita no ano de 1816.
 
A administração do morgado veio a recair num sobrinho do citado chantre, filho de seu irmão José de Sousa Preto da Cunha Osório Veloso Cabral (V) (n. 1752), cavaleiro da Ordem de Cristo, vereador e capitão-mor do Fundão, casado com D. Antónia de Vilhena Osório Soares Machuca filha de Francisco Xavier Osório Soares Machuca, fidalgo da Casa Real, e de sua mulher D. Luísa Margarida de Vilhena Soares, naturais de Celorico da Beira.
FIG.5 | Sepultura da 1.ª Viscondessa do
 Outeiro, última morgada de Peroviseu e
Chãos; Cemitério do Fundão.
Este sobrinho, de seu nome Diogo Dias Preto Osório Veloso Cabral (VI) (n. 1776), ainda adolescente e certamente por iniciativa dos seus progenitores, após o respectivo processo de justificação de nobreza foi feito fidalgo de cota de armas ao obter de D. Maria II a Carta de Brasão de Armas datada de 3-VIII-1791, com atribuição de um escudo esquartelado de Preto, Cunha, Cabral e Osório[13] (Baena, 1872: 138, 139). Sucedeu também no padroado de Nossa Senhora da Consolação e da capela de São Pedro de Catrão em Vale de Prazeres, hoje desaparecida[14]. Ocupou o lugar de vereador da 1.ª Câmara do Fundão e veio a casar a 6-VII-1896 em Pêro Viseu com D. Ana Justina de Sousa Homem de Brito, filha de Diogo Homem de Brito, casado no Castelejo com D. Joana Teresa de Jesus Centúrio. Foi muito beneficiado por heranças, tendo recebido parte dos bens do seu tio o chantre da Sé da Guarda, assim como do irmão de sua mãe D. Luís de Brito Homem (1748-1813) que foi bispo de Angola (1791-1801) e do Maranhão (1801-1813), e de seis irmãs da sua mulher[15]; tudo isto proporcionando-lhe uma vida muito desafogada.
Estes tiveram pelo menos seis filhos, sucedendo no morgadio o primogénito Diogo Dias de Sousa Osório de Brito Cabral (VII) (1796-1860)[16], nascido a 1-V-1796 em Pêro Viseu onde foi baptizado a 15-V pelo seu tio (irmão de sua mãe) o padre Dr. Domingos Centúrio provisor e vigário-geral da diocese da Guarda, apadrinhado por Diogo Dias Preto da Cunha (n. 1744) chantre da Sé da Guarda. Faleceu a 28-XII-1860, na sua casa da Rua do Terreiro (actual Praça do Município) no Fundão, já viúvo e após uma longa demência como refere o seu assento de óbito. Foi casado em primeiras núpcias com D. Maria Joana, entretanto falecida, tendo passado a segundas núpcias a 27-IX-1820 no Fundão com D. Maria Justina de Macedo Pereira Forjaz de Gusmão e Azevedo (f. 1853)[17], falecida de pneumonia a 12-XII-1853 com cinquenta e nove anos de idade e sepultada no adro da Capela de São Francisco, filha de João de Macedo Pereira da Guerra Forjaz (c. 1783) que foi vereador da Câmara do Fundão e de sua mulher D. Ana de Gusmão Freire Osório de Azevedo Mendonça, cujos descendentes viriam a ser senhores da Casa dos Macedos situada à Rua da Cale no Fundão.
Por sua vez, e na falta de um herdeiro varão, aos anteriores morgados sucedeu a filha única deste casal D. Maria Isabel Osório de Sousa Preto Macedo Forjaz Pereira de Gusmão (VIII) (1836-1878)[18], derradeira senhora do morgado de Peroviseu que, entretanto, foi extinto.

EXTINÇÃO DO MORGADIO

Após a sucessão tranquila de algumas gerações desta família na administração deste morgadio, este vínculo chegou ao fim da sua existência.
O seu epílogo não se ficou a dever a uma administração insipiente, mas antes ao triunfo dos ideais liberais que consideravam estas instituições como um entrave ao desenvolvimento económico e social, assim como à influência da agiotagem bancária que até então estava impedida penhorar os bens dos morgadios por dívidas pessoais dos seus administradores.

FIG.6 | Armas de PRETO, MACEDO, CABRAL,
e OSÓRIO; Cemitério do Fundão.


O Decreto de 30-VII-1860 obrigou ao registo deste morgado no Governo Civil de Castelo Branco e, três anos depois, o Decreto de 19-V-1863 põe definitivamente termo a este vínculo ao declarar que “ficam desde já abolidos todos os morgados e capelas actualmente existentes no continente do reino, ilhas adjacentes e províncias ultramarinas e declarados alodiais os bens de que se compõem”.
Como consequência deste processo e devido ao fraccionamento e dispersão das suas propriedades agrícolas por vários herdeiros, muitas destas casas/solares acabariam em ruína devido ao facto de quem as herdou já não dispor da totalidade dos rendimentos que antes possibilitava a sua conservação e manutenção.

A última administradora deste vínculo foi a já citada filha única D. Maria Isabel Osório de Sousa Preto Macedo Forjaz Pereira de Gusmão (VIII) (1836-1878)[19], 1.ª Viscondessa do Outeiro pelo seu casamento, nascida a 26-VIII-1836 em Lisboa e falecida prematuramente a 12-VII-1878 no solar do Outeiro, freguesia de Aldeia de Joanes/Aldeia Nova do Cabo, quando contava quarenta e tês anos de idade. Recebeu sepultura no adro da Capela de Santo António do Fundão, de onde, por altura da extinção deste cemitério, foi transladada para uma campa armoriada no cemitério público desta localidade[20].
Esta senhora veio a casar a 22-IV-1850 em Aldeia de Joanes no concelho do Fundão com Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel e Costa, (1825-1900), 1.º Visconde do Outeiro (1866), 1.º Conde de Idanha-a-Nova (1892), senhor do morgado do Outeiro (Aldeia de Joanes/Aldeia Nova do Cabo, Fundão), e do morgado de Idanha-a-Nova.
Pelos dez filhos sobrevivos deste casal, dispersou-se este avultado património, agora fraccionado e desvalorizado em consequência da crise agrícola que se seguiu.

CASA DOS MORGADOS DE PEROVISEU,
PÊRO VISEU.

As derradeiras gerações dos morgados de Peroviseu, apesar de residirem preferencialmente na Rua do Terreiro (actual Praça do Município), no Fundão, também tinham a sua casa principal na aldeia de Pêro Viseu, pois aí estava localizado a maior parte do seu património.
Condizente com o elevado estatuto económico e social desta linhagem, talvez uma das mais poderosas desta aldeia durante o século XVIII, aí existiria uma habitação de feição solarenga, certamente armoriada com o respectivo escudo de armas, o qual não chegou aos nossos dias. Esta última casa terá sucedido a outra anterior mais modesta que pertencera aos primeiros administradores deste vínculo. Quanto à sua localização, a generalidade da população não guardou memória, pois, com a extinção deste vínculo em 1860, e a dispersão dos bens por diversos herdeiros, acabou por ser abandonada.
 
FIG.8 | Casa dos Morgados de Peroviseu
(portal); Pêro Viseu.


FIG.7 | Casa dos Morgados de Peroviseu (?); Pêro Viseu.





















O esplendor desta casa terá sido atingido nos finais do século XVIII quando era seu detentor o morgado Diogo Dias Preto Osório Veloso Cabral (VI) (n. 1776) que obteve Brasão de Armas (1791), o que lhe aumentaria o prestígio, ao qual não foi alheio o acréscimo da sua apreciável fortuna com várias heranças recebidas de parentes colaterais.

Não sendo possível identificar documentalmente qual foi a principal residência dos administradores deste morgadio em Pêro Viseu, entre algumas das vetustas casas aí existentes, tivemos que recorrer a informações prestadas por uma antiga família com uma casa solarenga nesta localidade, a qual nos mencionou que a antiga casa dos morgados foi reaproveitada para instalação da Escola Primária de Pêro Viseu. Sem referências documentais que comprovem esta informação, aqui a registamos com algumas reservas.
Esta terá sido edificada por volta dos finais do século XVIII, apresentando dois pisos com oito vãos de janelas e um portal central com volutas, entre as quais há um espaço que em tempos terá sido destinado a exibir a pedra de armas desta família, as quais, a terem existido, terão sido apeadas quando esta a casa foi alienada por um dos herdeiros (?) e reedificada para escola.

CASA DOS MACHADOS / CASA DA CERCA,
CHÃOS.

A Casa dos Machados, localizada no Largo da Praça, em Chãos (Donas), também conhecida pela designação popular de “Casa da Cerca” devido ao facto de estar situada numa propriedade toda murada, foi cabeça do morgadio de Chãos que após a sua instituição (1725) foi anexado ao de Pêro Viseu.
Posteriormente à sua existência inicial como casa rural do século XVII, viria a ser modernizada no século seguinte com fachadas a alteração da sua volumetria com dois pisos pelos quais se distribuíam as instalações domésticas e de apoio às actividades agrícolas. Possuía uma pequena capela interior situada no andar nobre com acesso para a rua através do alpendre e sinalizada no exterior da fachada principal pela existência de um óculo quadrilobado que lhe proporcionava alguma iluminação[21]

FIG.9 | Casa dos Machados / «Cêrca Design House»;
Chãos (Donas).
Esta nova fisionomia destinava-se a dar-lhe uma feição senhorial de acordo com o estatuto social adquirido pelos herdeiros dos seus fundadores, os quais alcançaram alguma proeminência nesta região e foram feitos fidalgos de Cota de Armas em 1791, desconhecendo-se no entanto a existência de qualquer pedra de armas – tanto em Pêro Viseu como em Chãos – que certamente as houve nesta família.
Num “Tombo de Bens” do morgadio de Peroviseu, feito a pedido Diogo Dias Preto da Cunha (n. 1727) (IV) por volta de 1784, esta casa aparece mencionada como “Uma morada de casas nobres sitas no Logar dos Chãos ...” composta por “tres salas e uma capella e outras tres salas, e nellas tres quartos e duas cozinhas, tem um pateo e tres logeas…”.

FIG.10 | Casa dos Machados / «Cêrca Design House»;
Chãos (Donas).
Sediada num vale encostado ao sopé Norte da Serra da Gardunha, esta casa, já nos fins do século XVII terá sido residência do capitão Francisco Gil, daqui natural, o qual veio a casar com Maria Machada Freire (1.ª), a herdeira do morgado de Peroviseu, instituído por um seu tio que foi pároco em Pêro Viseu.

A Casa dos Machados chegou ao início do século XXI já muito arruinada e na posse de um dos herdeiros desta família que foi o Dr. Carlos Nuno Trigueiros de Martel e Vasconcelos (1924-2012), o qual dela de desfez em proveito de um arrojado projecto de turismo de charme com o nome de «Cerca Design House» (turismo de habitação) – elegante refúgio para relaxar no aconchego das serras da Estrela e da Gardunha, no meio de uma paisagem verdejante.

Embora sacrificando parte da traça original com acrescentos de alguns espaços para a adequar à nova funcionalidade, este projecto teve pelo menos o mérito da salvaguardar esta casa da total ruína em que se encontrava.
Deste modo se conservou a memória do nome e da família dos Machado Freire, morgados de Chãos, uma das finalidades da criação deste vínculo.
Caso não fosse este projecto, estamos em crer que acabaria por ruir totalmente tornando-se objecto do reaproveitamento do que restava da sua cantaria de pedra para outras edificações, como amiúde tem sucedido nesta região.



FIG.11 | Casa dos Machados / «Cêrca Design House»;
Chãos (Donas).Adicionar legenda



        João Trigueiros







Diogo Dias Preto Osório Veloso Cabral (VI) (n. 1776).
Carta de Brasão de Armas datada de 3-VIII-1791.
Esquartelado de Preto, Cunha (invertidas, por erro), Cabral e Osório. 
Diferença: brica de vermelho, farpão de prata. 
Elmo de grades de perfil, virol, paquife simétrico e correias com fivela e biqueirão. 
(Baena, 1872: 138, 139).
* Tampo de mesa, colecção particular de um descendente.



















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Bibliografia:

ESTEVES, Judite Maria Nunes (2004), Práticas de Construção e Reprodução de Poder no Portugal Rural do Século XVII ao Século XIX – O Caso do Morgadio de Peroviseu e Chãos (Fundão), Separata dos Trabalhos de Antropologia e Etnologia, vol. 44 (1-2), p. 187-208, 2004.
GAIO, Manuel José da Costa Felgueiras (1992), Nobiliário das Famílias Ilustres de Portugal, 12 vols. Braga: Carvalhos de Basto.
ROSA, Maria de Lurdes (1995), O Morgadio em Portugal – sécs. XIV-VV. Lisboa: Editorial Estampa.
SANCHES DE BAENA, Visconde (1872), Archivo heraldico-genealogico. 1.ª ed.  Lisboa: Typographia Universal.
SILVA, Joaquim Candeias (2002), Concelho do Fundão – História e Arte, vol. I – Ao Sul da Gardunha. Câmara Municipal do Fundão.
SILVA, Joaquim Candeias (1993), O Concelho do Fundão através das Memórias Paroquiais de 1758. Fundão.


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Notas:

[1]     A Capela de São Romão já não é privada, pois foi oferecida ao povo pela família Trigueiros Aragão que descende da família fundadora.
[2]     ANTT, DGP, Memórias Paroquiais de 1758, vol. 29, f. 265.
[3]     O concelho do Fundão só foi criado em 10-V1747.
[4]     Os testamentos dos dois citados padres foram dados a conhecer pela investigadora Dra. Judite Esteves, a partir dos “Vínculos Abelho” (Processo de Registo de Vínculos) onde estes vêm transcritos (ANTT, Vínculos Abelho, Castelo Branco, Proc. N.º 27, fl. 121).
[5]     Diogo Dias Preto foi casado em primeiras núpcias em Alcongosta com D. Maria Rodrigues. 
[6]     Testamento de Luís Machado (1.º), datado de 1696, transcrito no processo de registo do morgadio nos “Vínculos Abelho”.
[7]     Testamento de Luís Machado Freire (2.º), datado de 1725 e transcrito no processo de registo do morgadio nos “Vínculos Abelho”.
[8]     DIOGO DIAS PRETO (c. 1663), um dos muitos homónimos nesta família, na qualidade de mestre de campo comandaria um terço de infantaria. Segundo Felgueiras Gaio, notabilizou-se durante a Guerra da Restauração na tomada da Vila de Várzea em 1663 (Nobiliário, Tít. «Pretos», § 12, v. VIII, p. 624). O seu nome transmitiu-se durante várias gerações ao primogénito da linhagem familiar que administrava este morgadio, sobrepondo-se à obrigação do uso dos apelidos “Machado Freire” imposta pelos instituidores.
[9]     Esta casa, que ainda subsiste na posse da sua descendente Dr.ª Maria da Graça Rosado Trigueiros de Aragão (n. 1960), e tinha outrora um enorme quintalão que ia até à Rua dos 3 Lagares e hoje está urbanizado.
[10]  Felgueiras Gaio atribui-lhe o nome completo de Diogo Dias Preto Machado Freire da Cunha (Nobiliário, Tít. «Pretos», § 12, v. VIII, p. 624).
[11]    Segundo dados que nos foram facultados pelo investigador Doutor Joaquim Candeias da Silva.
[12]    ANTT, Registo Geral de Mercês, Mercês da Torre do Tombo, liv. 24, f. 72v-74.
[13]    ANTT, Cartório da Nobreza, liv. IV, fl. 228.
[14]    Da antiquíssima capela de São Pedro do Catrão, já conhecida em 1320, apenas restam vestígios. Estava localizada no actualmente designado Monte de Santa Catarina.
[15]    ANTT, Chancelaria de D. Maria, Próprios, liv. 47, fls. 229-300 (Esteves, 204: 200).
[16]  Ao longo da sua vida, aparece com diversos apelidos, mas estes são os que figuram, por esta ordem, no seu assento de casamento.
[17]    Este nome consta do seu assento de casamento, pois, ao longo da sua vida, usou vários apelidos de modo aleatório, tal como grande parte dos morgados aqui biografados (Arquivo Distrital de Castelo Branco, Pêro Viseu; Matrimónios 1811-1853, fl. 49).
[18]    Ao longo da sua vida usou vários apelidos de modo aleatório, tal como grande parte dos morgados aqui biografados.
[19]    Ao longo da sua vida usou vários apelidos de modo aleatório, tal como grande parte dos morgados aqui biografados.
[20]    A sua sepultura apresenta uma cabeceira armoriada com um brasão esquartelado de Preto, Macedo, Cabral e Osório, encimado por uma coroa de visconde. Tem a seguinte inscrição: «A SAUDOZA MEMÓRIA / DA VISCONDESSA DO OUTEIRO / FALECIDA EM 12 DE JULHO DE 1878 / POR SEU MARIDO O VISCONDE DO OUTEIRO».
[21]    A Capela desapareceu nas remodelações actuais para dar lugar a mais um quarto.

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Publicado na Revista

EBVROBRIGA n.º 9, 2018
Câmara Municipal do Fundão, Museu Arqueológico Municipal José Monteiro.
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De João Trigueiros
«MORGADO DE PEROVISEU E CHÃOS, Concelho do Fundão, séc. XVII».
pp. 101-110
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Pedido de exemplares ao Museu Arqueológico Municipal José Monteiro
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