Trigueiros / Teive (Torres Vedras, 1531)

   Morgados de Vale de Galegos
Senhores do Baião
(Torres Vedras, 1531)


TEIVE da Ilha da Graciosa
(Livro do Armeiro-Mor, f. 117)
TEIVE
(Livro do Armeiro-Mor, f. 126)




         Os TEIVES tomaram este apelido da Quinta de Teive, perto do Porto, da qual foi senhor VASCO PIRES DE TEIVE.
Este teve do seu casamento uma filha herdeira que foi D. Florença de Teive, casada com D. Ricarte, bastardo do rei João de Inglaterra, que veio a Portugal no reinado de D. Pedro I (1357-1367). Deste casal provêm os Teives que povoaram a Ilha da Madeira.
O brasão de armas dos TEIVES é: de prata, com nove arruelas de vermelho, postas 3, 3 e 3. Timbre: um leopardo de púrpura, armado de vermelho e carregado de uma arruela do mesmo na espátula, ou um leopardo de prata, carregado das arruelas do escudo.
Os Teives da Ilha da Graciosa trazem estas armas num escudo esquartelado da seguinte maneira: o 1.º e o 4.º de ouro, com seis arruelas de vermelho, postas 2, 2 e 2; o 2.º e o 3.º de prata, com três mosquetas de negro, alinhados em faixa. Timbre: um leopardo partido de ouro, e de arminhos. Os arminhos representam, presumivelmente, as armas dos Gusmões de Sevilha, cujos descendentes casaram com os Teives da Ilha da Madeira. 


Um ramo desta família, por linha feminina, provém de ANTÓNIO TRIGUEIROS (c. 1500).
          Vejamos:

2.       D. MELÍCIA DE GÓIS (c. 1583), filha de António Trigueiros (c. 1500), o primeiro da linhagem, e de sua
          mulher D. Joana de Góis (c. 1510). 
Casou «por gosto d’a Rainha D. Catarina», a quem serviu, com ANTÓNIO DE TEIVE (n. 1516)[1], natural da Ilha da Madeira e residente em Torres Vedras, que foi escudeiro e moço-fidalgo do rei D. João III, servindo na Índia onde participou nos cercos de Goa e Chaul (1570-71), assim como no de Mazagão (1563). Teve a mercê de vedor da fazenda da Índia (carta de 6-II-1567) pelos serviços prestados no reinado de D. João III[2]
Seu marido era 4.º filho de Diogo Vaz de Teive (c. 1470), vedor da rainha D. Catarina, e de sua mulher Catarina Rodrigues Cardoso (c. 1480); neto paterno de Diogo Vaz de Teive (c. 1440)[3] e de sua mulher Ana Machado (c. 1445); e neto materno de Guilherme Rodrigues Flamengo, casado na Ilha da Madeira com Grácia Dias Cardoso.
António de Teive instituiu um vínculo com os seus bens, tendo por cabeça a Quinta de Vale de Galegos com o seu respectivo palácio, junto a São Mamede da Ventosa, Torres Vedras. Partiu para o Oriente a 20-IV-1531, onde foi escrivão da feitoria de Goa. Em 1562, com seu filho João de Teive (f. 1622) ocorreu à defesa da Praça de Mazagão, pelo que recebeu a mercê «da capitania de uma nau para a Índia por três viagens»[4].
Tiveram[5]:
3.      JOÃO DE TEIVE (f. 1622), que segue abaixo.
3.     SEBASTIÃO DE TEIVE, pajem da princesa D. Joana em Madrid, e depois passou com seu pai à Índia onde esteve nos cercos de Goa e Chaul (1570-71), desaparecendo posteriormente no mar quando regressava ao Reino.
3.       Fr. BENTO DE TEIVE, frade Jerónimo em Belém.
3.    ANTÓNIO DE TEIVE, frade da Graça, grande teólogo e pregador, foi sucessivamente prior de Castelo Branco e de Vila Viçosa, assim como Visitador Geral na Índia, onde faleceu.
3.      D. MARIA DE TEIVE (c. 1550), casada com Fernão Martins de Sousa (c. 1550), natural de Lamego, 8.º Senhor de Baião, o qual disputou com seu primo João de Sousa Lima a Casa do Baião (c. 1522), que ganhou e foi confirmada por carta de Filipe II em 1594[6]. Tiveram geração.
3.    D. JOANA DE GÓIS (c. 1545), casada com MANUEL FURTADO DE MENDONÇA (c. 1540)[7], governador de Diu, irmão de André Furtado de Mendonça que foi governador da Índia. Seu marido era filho de Afonso Furtado de Mendonça[8], comendador de Serpa, e de D. Joana de Sousa Pereira; neto paterno de Jorge Furtado de Mendonça, comendador das estradas de Sines e da Represa, e de sua mulher D. Isabel da Cunha, filha do Alcaide-mor do Porto; e neto materno de André Pereira e de sua mulher D. Maria de Sousa. Sem geração.
3.       Fr. DIOGO DE TEIVE, cónego em Lisboa[9].
3.       Fr. VICENTE DE TEIVE (c. 1596), frade Jerónimo de Belém que reclamou ao rei D. Filipe I, junto da Corte de Madrid, acerca das necessidades que a sua Ordem passa «pelo pouco que tem para seu sustento»[10].
3.       ANTÓNIA DE TEIVE, freira de São Domingos de Santarém, onde foi prioresa.
3        INÊS DE TEIVE, freira da Anunciada em Montemor-o-Novo.
3.       ISABEL DE TEIVE, freira em Santa Clara de Évora.

3.     JOÃO DE TEIVE (f. 1622), natural de Lisboa, foi pajem da companhia da rainha D. Catarina, moço-fidalgo do rei D. Sebastião. Juntamente com seu pai foi em socorro da praça de Mazagão (1563), após o que partiu para a Índia a 25-III-1565 integrado na armada de Francisco de Sá. Era contador-mor do Reino cargo em que serviu durante trinta e seis anos, desde D. João III a D. Filipe I. Este último rei, em recompensa dos seus serviços, fez-lhe a serventia de provedor da Alfândega de Lisboa. Faleceu em 1622 e está sepultado no antigo Convento do Barro, junto a Torres Vedras, por baixo do altar de Santo António, onde havia uma pedra epigrafada que nos referia que ele «... serviu mais em diferentes jornadas da maior importância e em muitas ocasiões, e negócios de grande confiança aos reis D. João III, D. Sebastião, D. Henrique, D. Filipe I, II e III deste nome, sendo do concelho dos últimos»[11]. Por cima da citada inscrição estava o brasão de armas dos Teives da Madeira, o qual também figurava sobre o portão da sua Quinta do Vale de Galegos junto a São Mamede da Ventosa, Torres Vedras, na qual instituiu um morgado. Herdou ainda outro morgado instituído por seu tio Jerónimo da Cunha Coimbra, o qual reuniu dois vínculos no Bombarral que deixou a seus sobrinhos por ter falecido sem descendência[12]. Este vínculo veio mais tarde a passar para a posse dos senhores do Baião, pelo casamento de D. Antónia Teive com Fernão Martins de Sousa (c. 1594).
Casou com sua prima D. JOANA DE SOUSA (f. 1622), falecida em 1622 e sepultada junto a seu marido no citado Convento do Barro, filha de António de Coimbra da Cunha
Tiveram:
4.    ANTÓNIO DE TEIVE, casado já velho com D. ISABEL COUTINHO (c. 1652), filha de João de Viveiros. Sua mulher era já viúva em 1656. Faleceu sem geração, pelo que o morgado da Quinta de Vale de Galegos passou à posse do primo Cristóvão de Sousa Coutinho, filho de sua tia Maria de Teive.
4.       FRANCISCO DE SOUSA TEIVE, que foi à Índia onde morreu em batalha. Sem geração.
4.      JERÓNIMO DE TEIVE, que foi durante doze anos contador-mor por renúncia de seu pai. Teve uma comenda da Ordem de Cristo. Não casou, mas teve um filho que morreu de pouca idade.
4.      MANUEL DA CUNHA, que serviu muitas armadas, e foi durante sete anos Governador da Mina, cuja fortaleza edificou e onde fez muita guerra e tomou quatro navios Holandeses. Não casou nem teve geração e jaz enterrado no Convento do Carmo, junto à escada da porta principal.
4.       JOÃO DE TEIVE, cónego na Sé de Lisboa.
4.       MARGARIDA, freira em Santa Clara, Évora.
4.       CLARA, freira em Santa Clara, Évora.       


Anexo:


Teives
(povoadores da Madeira)

Autora: Catarina Garcia*

Diogo de Teive, escudeiro da Casa do Infante D. Henrique e filho de Lopo Afonso de Teive e de Leonor Ferreira, dirige-se no ano de 1452 para a ilha da Madeira para cumprir o contracto assumido com o Infante em Albufeira, a 5 de Dezembro de 1452, pelo qual se compromete a construir um engenho de água para a produção de açúcar e a entregar a terça parte da sua produção. Nesse mesmo ano de 1452, é atribuída a Diogo de Teive e João de Teive, seu filho do casamento com Leonor Gonçalves Vargas, a descoberta das ilhas das Flores (Flores e Corvo), as últimas a serem conhecidas no arquipélago dos Açores.
De acordo com Jacinto Monteiro, Diogo de Teive terá vindo comunicar de imediato a sua descoberta ao Infante, mas devido à natureza agreste das Flores e Corvo e à sua distância em relação às outras ilhas, terá preferido lançar-se no negócio mais rendoso de construir e explorar o engenho de água, em detrimento da difícil tarefa de exploração destas ilhas inóspitas. Assim, de acordo com este estudioso, Diogo de Teive, sem perder os seus direitos sobre as ilhas das Flores e Corvo, depois de 1452, terá preferido ficar na Madeira e dirigir o contracto feito com o Infante. Segundo Ernesto Gonçalves, Diogo de Teive terá sido eleito vereador da Câmara do Funchal em 22 de Junho de 1470, cargo esse que não terá chegado a desempenhar por ser capitão (sem dizer de qual terra) e em virtude da sua ausência, terá sido excluído do posto para que foi eleito.
A certeza quanto a uma data precisa no descobrimento das ilhas inicialmente chamadas de S. Tomás (Corvo) e Santa Iria (Flores) advém do facto de esta não ficar conhecida em nenhum documento régio que a certifique. Porém é possível delimitar a sua ocorrência através da consulta de outros documentos.»
No livro Le Histoire della Vita e dei Fatti di Cristóforo Colombo, Fernando Colombo, filho de Cristóvão Colombo, escreve que Diogo de Teive navegou 150 léguas para Ocidente do Faial, observando aves terrestres no regresso que o decidiram a seguir em sua direcção, descobrindo assim as duas mais ocidentais ilhas do arquipélago açoriano.
Zurara, em1449, na sua Crónica da Guiné, apenas refere a existência de sete ilhas no arquipélago dos Açores. Mais tarde, a 20 de Janeiro de 1453, numa carta de doação de D. Afonso V ao Duque de Bragança, seu tio, encontra-se pela primeira vez a referência à ilha do Corvo. Face à importância desta grande figura da nobreza parece um pouco estranho que lhe tenha sido doado o Corvo e não a ilha das Flores, considerando o insignificante tamanho desta ilha, a distância a que se encontrava do reino e tendo em conta que na Terceira ainda haviam terras por povoar.
Se por um lado o documento de 1453 doa as ilhas das Flores e Corvo ao Duque de Bragança, uma outra carta régia, de 24 de Janeiro de 1475, doa a Fernão Teles de Meneses estas ilhas ditas “foreiras”. Nesta última Diogo de Teive é reconhecido como o achador recente destas ilhas, que por sua morte tinham passado para João de Teive. Neste caso não terá sido Diogo de Teive a fazer valer os seus direitos de descobridor, mas sim seu filho João de Teive, que herda estas terras em 1475, supostamente 22 anos após a sua descoberta, sendo vendidas a Fernão Teles de Meneses, num contracto que celebra pertença e direitos deste último sobre as ilhas das Flores e do Corvo. João de Teive terá ainda recebido outras heranças, entre elas a Serra de Santiago, na ilha Terceira, em finais do século XV, e que terá sido motivo de disputas com Diogo Paim, conflito esse que é resolvido pelo próprio rei D. Manuel, acabando João de Teive por ser nomeado almoxarife régio na ilha de S. Miguel.

Investigadora do Centro de História de Além-Mar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, desde Janeiro de 2010.

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Notas:

[1]  SOUSA, Augusto Quirino de, «Torrienses na Expansão Quinhentista no Oriente», in. Turres Vedras II – 
     Actas de História Moderna, p. 172; GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Teives», § 4, N 4, Vol. IX, p. 545 (a tro-
     ca do apelido Trigueiros, por Figueiros e Figueiroa, é quase sistemática em F. Gaio); CARVALHO, Adão,
     Memórias de Torres Vedras, p. 91.
[2]  IAN/TT, Chancelaria de D. Sebastião, L. 18, fl. 352)
[3]  Diogo Vaz de Teive (c. 1440) era filho de Álvaro Gonçalves da Maia (f. 1449), e de sua mulher  Joana de Teive (c. 1420). Abandonou o apelido da Maia depois da morte de seu pai a 20-I-1449 na Batalha de Alfarrobeira, e da confiscação dos bens por parte do rei D. Afonso V.
[4]  IAN/TT, Chancelaria de D. Sebastião e D. Henrique, L. 9, fl. 350v.
[5]  GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Teives», § 4 e 5, N 4, Vol. IX, p. 545; e NORONHA, Henrique Henriques, Nobiliário da Ilha da Madeira, Tomo III, tít. Teyves, fol. 93 v
[6]  GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Sousas», § 588, N 23, Vol. X, pp. 667-668.
[7]  GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Mendonças Furtados», § 3, N 14, Vol. VII, p. 284.
[8]  Afonso Furtado de Mendonça teve os seguintes filhos: 1.º - Rodrigo Furtado casado em Cochim com D. Filipa de Melo, s.g.; 2.º - Manuel Furtado, já citado, 3.º - André Furtado, Governador de Malaca, e da Índia; 4.º - João Furtado de Mendonça serviu na Índia, foi governador de Angola e presidente do Senado de Lisboa; 5.º - D. Margarida de Sousa, casada em primeiras núpcias com António Perdigão de Góis, s.g., voltou a casar em segundas núpcias com Manuel Correia, senhor de Belas; 6.º - D. Margarida de Mendonça, c.c. Francisco de Melo, filho de Jorge de Melo, porteiro-mor; 7.º - António Furtado; 8.º - Jorge Furtado; 9.º - D. Francisco; 10.º - D. Mécia.   
[9]  Parece ser o mesmo que com o nome de Frei Diogo de Trigueiros (c. 1598), religioso Jerónimo, vigário do Convento de Belém, em 11-VII-1598 teve alvará de dez anos para imprimir as obras de Fr. Miguel de Valença, religioso da mesma Ordem (in. Brito Aranha, Documentos para a História da Tipografia Portuguesa nos séculos XVI e XVII, II, p. 58).
[10]  IAN/TT, Cópia da carta dos governadores do reino para D. Filipe I, Corpo Cronológico, Parte I, Mç. 113, n.º 56.
[11]  Adão de Carvalho, Memórias de Torres Vedras, p. 91.
[12] Jerónimo da Cunha e Coimbra tinha seu solar no Bombarral, datado do século XVI, o qual posteriormente ficou conhecido pelo «Palácio Gorjão», actual Museu Municipal do Bombarral. Por não ter tido descendência do seu casamento deixou o 1.º morgado «do Bombarral» a seu sobrinho Manuel da Cunha Coimbra, com obrigação de casar com D. Maria Henriques. O 2.º morgado «dos Cunhas Teives» ficou ao seu sobrinho João da Cunha Teive, sob condição de casar com sua prima, D. Joana de Sousa. – Cfr. RAMOS, Augusto José – Bombarral e o seu Concelho, p. 53.

Póvoas / Trigueiros (Lisboa, 1573)


Provedores das Alfândegas do Reino
 (Lisboa, 1573)


Armas dos PRIVADOS,
usadas pelos PÓVOAS.

   Os PÓVOAS, família bastante antiga que foi proeminente na cidade do Porto, descendem dos Albuquerques, dos Privados e dos Ferrazes. 
     O primeiro que se conhece deste apelido de origem toponímica é Gonçalo Anes das Póvoas, pai de Fernão Anes das Póvoas, o qual em 12-XII-1474 obteve licença de D. Afonso V para comprar a João Correia e a sua mulher D. Isabel de Castelo Branco o senhorio de Cunha-a-Velha, na Beira Alta.

      Não têm brasão de armas próprio e usam as dos PRIVADOS, dos quais descendem: de ouro, com quatro bandas de vermelho. Timbre: um grifo de vermelho, alado e armado de ouro.
Um ramo desta família, por linha feminina, provém de ANTÓNIO TRIGUEIROS (c. 1500).

Vejamos:

1.    D. LUÍSA DE GÓIS TRIGUEIROS (c. 1560) que viveu em Torres Vedras. Era filha de ANTÓNIO TRIGUEIROS (c. 1500), fidalgo castelhano que passou a Portugal em Outubro de 1500 no séquito da infanta D. Maria (1482-1517), filha dos Reis Católicos e segunda mulher de D. Manuel I[1]; e de sua mulher D. JOANA DE GÓIS (c. 1510)[2], já era viúva a 7-X-1566 quando foi madrinha de um baptizado realizado na Sé de Lisboa.
Casou com FRANCISCO DAS PÓVOAS (f. 1581), fidalgo da Casa Real, sucessor de pai no cargo de provedor e feitor-mor das Alfândegas do Reino, falecido a 27-X-1681 na freguesia da Sé em Lisboa, com testamento no qual «se mandou enterrar no Mostr.º do Carmo». 
Igreja do Convento do Carmo.
Seu marido teve o hábito de Cristo com 500 réis de tença e a promessa da comenda de 300 réis feita pelo rei D. Filipe II, e mais um vínculo que seu pai instituiu e não quis que o mesmo fosse herdado pelo seu irmão primogénito António das Póvoas[3], em virtude do primeiro casamento que este fez em Tânger contra a sua vontade com D. Maior de Sequeira. Era um dos nove filhos de Diogo Fernandes das Póvoas, provedor mor da alfândega de Lisboa, cavaleiro-fidalgo da Casa Real de D. João III, cavaleiro da Ordem de Cristo, comendador do Ervedal, e de sua mulher D. Mór Pacheco (f. 1565)[4], falecida «dona veuva» a 9-VIII-1565 na freguesia da Sé em Lisboa, deixando por seu testamenteiro o filho Francisco das Póvoas, provedor da Alfândega[5]; neto paterno de António Fernandes das Póvoas, fidalgo da Casa Real e residente em Lisboa, herdeiro do senhorio da Cunha Velha que vendeu a Rui Mendes de Vasconcelos em 12-XI-1499, e de sua mulher Isabel da Maia (ou Brito); neto materno de Álvaro Pacheco (c. 1537), provedor-mor das Alfândegas, fidalgo da Casa Real que a 16-V-1537 instituiu para sua sepultura e dos seus herdeiros a Capela de Nossa Senhora da Conceição no Convento do Carmo em Lisboa, e de sua mulher D. Brites Álvares.

A Capela de Nossa Senhora da Conceição no Convento do Carmo – nome que lhe foi dado por Álvaro Pacheco que a obteve por doação em 1537 – era anteriormente, designada por Capela dos Santos Reis (por ter um painel com a Adoração dos Magos) e ficava localizada no absidíolo exterior da Epístola.

Tiveram:
2.     DIOGO DAS PÓVOAS, que segue abaixo.
2.     MANUEL DAS PÓVOAS (b.1565-1625), que foi cónego da Sé de Lisboa (1606), na qual foi baptizado a 7-I-1565, apadrinhado por Manuel Correia e Luísa de Macedo, e aí crismado a 5-X-1577, juntamente com seus irmãos. Escreveu a obra «Vita christi», publicada em Lisboa em 1614.
2.    ANTÓNIO DAS PÓVOAS (1565-1594), capitão-mor do Mar de Diu, recebeu o baptismo a 29-XI-1565 na Sé de Lisboa, tendo por padrinho o seu tio Vicente Trigueiros (f. 1602)morador em Torres Vedras, e D. Maior de Sequeira, mulher de António das Póvoas que foi juiz da Alfândega de Diu (1546), ambos moradores à Horta de Santa Bárbara em Lisboa.
Foi crismado juntamente com seus irmãos a 5-X-1577 na Sé de Lisboa, e faleceu a 23-VI-1594 pelejando na nau Cinco Chagas, ao largo da ilha das Flores, nos Açores, quando regressava da Índia sob o comando de Francisco de Melo Canaveado[6].

Nau Cinco Chagas,
Museum Greenwich Maritime.
Um dos maiores naufrágios portugueses foi o da nau capitânia Cinco Chagas que teve um fim trágico. Nova e de grandes dimensões, esta partiu da Índia em Janeiro de 1593 com uma armada de cinco naus, tendo invernado em Moçambique com graves avarias que foram reparadas para seguir viagem no ano seguinte, sobrecarregada com grande parte dos passageiros e da carga da nau Nossa Senhora da Nazaré, a qual devido ao mau estado em que ficou foi abatida ao activo. Veio para Lisboa com grande parte da tripulação doente com os tormentos infligidos pelo escorbuto e integrada numa armada de cinco naus comandadas pela nau capitânia São Filipe das quais só duas chegaram ao destino. A Chagas, depois de vários e trágicos acontecimentos, afundou-se ao largo dos Açores a 23-VI-1594, após dois dias de manobras e de combates com cinco barcos de corsários ingleses (entre eles os velozes Royal Exchange, a Mayflower e a Sampson), aos quais os portugueses ofereceram uma cerrada e heróica resistência que causou muitas baixas. Repeliram, um após outro, os sucessivos ataques das naus do inimigas, mas a Chagas acabou por se incendiar e rebentar o seu paiol, indo ao fundo quando já tinha a vitória na mão, afogando-se a quase totalidade dos portugueses. Tendo então, o que restava da sua tripulação, saltado para o mar, aí foi toda morta à lançada pelos marinheiros dos batéis ingleses que estavam possessos pelas pesadas baixas que tinham sofrido. Sobreviveram dois nobres, onze marinheiros e escravos. Raros foram os combates da História marítima de qualquer país que possam ser comparados a este da nau Cinco Chagas, cuja penosa memória perdurou por muito tempo.

       2.     JOÃO DAS PÓVOAS (c. 1577), frade Dominicano que adoptou o nome religioso de Frei JOÃO DAS
               CHAGAS e foi crismado juntamente com seus irmãos. Faleceu em casa do seu irmão Diogo em 25-
               -IV-1609[7].
       2.     D. MARIA DAS PÓVOAS (c. 1598), crismada em 27-I-1598 na freguesia da Sé de Lisboa, juntamente
               com seus irmãos. Casou com António da Silva, de Soure.

2.    DIOGO DAS PÓVOAS, senhor da Casa e ofício de seu pai, foi provedor-mor da Alfândega de Lisboa em 1609, cidade onde morou na freguesia da Sé. Tinha escravos cativos dos quais fazem menção os registos de óbito da citada freguesia.
Casou com D. FILIPA DE SOUSA[8], filha de Lourenço da Veiga (1530-1581), 5.º governador do Brasil de 12-IV-1577 a 17-VI-1580, falecido na Bahía em 1581[9]; neta paterna de Manuel Cabral da Veiga e de D. Antónia de Lemos.
Tiveram:
3.     FRANCISCO DAS PÓVOAS (1590-1600), filho primogénito bapti-
        zado a 11-I-1590 na Sé de Lisboa por seu tio Diogo de Teive, apa-
        drinhado por Vicente Trigueiros e D. LuísaFaleceu «de peste»
        ainda moço a 13-VIII-1600 na freguesia da Sé, em Lisboa, tendo
        sido uma das muitas vítimas do surto que grassou nesta cidade
        de 1598 a 1603.
3.     LUÍS DAS PÓVOAS (n. 1597), que segue.

3.       LUÍS DAS PÓVOAS (n. 1597), baptizado a 22-9-1597 na Sé de Lisboa, tendo por padrinhos o cónego da Sé de Lisboa que era seu tio Manuel das Póvoas, e D. Luísa, sobrinha de sua mãe. Foi senhor da Casa e ofício de seu pai. Em 1607 aparece designado como «filho morgado do sõr provedor da Alfândega» num assento de baptismo em que é padrinho.
Casou com D. ANTÓNIA DE MENESES (n. 1580), filha de Gaspar de Sousa (c. 1550), 10.º governador-geral do Brasil (1613-1617), 2.º Senhor do morgado de Alcube, alcaide-mor de Meira, e de sua mulher D. Maria de Meneses (c. 1560); neta paterna de Álvaro de Sousa (c. 1490), 1.º Senhor do morgado de Alcube, e de sua mulher D. Francisca de Távora (c. 1520); e neta materna de D. João da Costa (c. 1530)[10], comendador-mor da Ordem de Cristo, e de sua segunda mulher D. Antónia de Meneses (c. 1540)[11].
Tiveram:
          4.     DIOGO DAS POVOAS (c. 1644), do qual sua mãe D. Antónia de Meneses, moradora na Graça e já
                  viúva, era tutora em 1644, assim como senhora da Quinta da Marinha, ao Carregado, que viria a
                  pertencer D. João de Lencastre (1713-1765?), 1.º Conde da Lousã.
          4.     D. MARIA DAS PÓVOAS.


Guarda, Casa os Póvoas.





Guarda, Casa os Póvoas.

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Notas:

[1]  D. Manuel I (1469-1521) fez três casamentos: o 1.º em 1497 com D. Isabel de Castela (f. 1498), que morreu de parto; o 2.º em 1500 com D. Maria de Castela (f. 1517), irmã da sua primeira mulher, que o monarca foi esperar à vila de Alcácer do Sal, onde esta princesa entrou a 30-X-1500, tendo falecido com 35 anos de idade; e o 3.º em 1518 com D. Leonor de Espanha (f. 1521), filha de Filipe I de Castela, e da rainha D. Joana, sua cunhada. Do 2.º casamento teve nove filhos, dos quais foram reis D. João III, o cardeal D. Henrique, e a imperatriz D. Isabel que casou em 1526 com Carlos V.

[2]  De Joana de Góis (c. 1510) desconhecemos a progenitura. Hipoteticamente poderá ser parente de um Pedro de Góis (c. 1513) morador em Óbidos, filho de Álvaro Gonçalves e de Leonor de Góis, irmão de Nuno de Góis que foi alcaide-mor de Alenquer e ao qual D. Manuel I passou Carta de brasão de armas (1513). – Cfr. Visconde Sanches de Baena, Archivo Heraldico-Genealogico, V. I, p.545.

[3]  Deste António das Póvoas e do seu terceiro casamento com D. Leonor de Azevedo, descende um longínquo neto que se distinguiu na Beira Alta e foi ÁLVARO XAVIER DA FONSECA COUTINHO PÓVOAS (1773-1852), o famoso «General Póvoas», natural da cidade da Guarda, o qual foi um dos mais famosos estrategas miguelistas durante as lutas liberais.

[4]  Diogo das Póvoas casou com D. Mór Pacheco (f. 1565), da qual teve nove filhos: 1.º - António das Póvoas, casado com D. Maior de Sequeira, c.g.; 2.º - Inácio das Póvoas, valoroso soldado que serviu na Índia onde do seu casamento teve Diogo das Póvoas, falecido solteiro s.g., e duas filhas que foram freiras em Santa Clara de Beja; 3.º - Francisco das Póvoas, 1.º do nome, morto s.g.; 4.º - Manuel das Póvoas, frade Dominicano; 5.º -  Damião das Póvoas; 6.º - D. Mariana das Póvoas, casada com António da Silva de Soure; 7.º - Inês das Póvoas, s.g.; 8.º - Isabel da Conceição, freira no Convento da Esperança; 9.º - Francisco das Póvoas (f. 1681), 2.º do nome, casado com Luísa de Góis Trigueiros, que vai biografada. – Cfr. GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Póvoas», § 1, § 2, N 4, Vol. VIII, p. 604 (novamente com gralhas de Figueiro em vez de Trigueiros).

[5]  Edgar Prestage e Pedro de Azevedo, Registos parochiais de Lisboa, freguesia da Sé, vol. I (1563 a 1569), Coimbra, 1924, p.129.

[6]  Cfr. MONTEIRO, Saturnino, Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa, vol. IV, pp. 276-280.

[7]  Edgar Prestage e Pedro de Azevedo, op.cit., vol. 2, p. 491.

[8]  Edgar Prestage e Pedro de Azevedo, , op. Cit, vol. 2, p.136.

[9]  VIANA, Hélio, História do Brasil, p. 83.

[10]  D. João da Costa (c. 1530), era filho de D. Gil Eanes da Costa (c. 1500), embaixador em Castela no reinado do Imperador Carlos V e Vedor da Fazenda do Rei D. Sebastião, e de sua mulher D. Joana da Silva (c. 1500).

[11]  D. Antónia de Meneses (c. 1540) era filha de António Correia (c. 1510), alcaide-mor de Vila Franca de Xira, e de sua mulher D. Maria de Meneses (c. 1515).


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