Brasão de Armas


TRIGUEIROS
Esquartelado: o 1.º e o 4.º de verde com

cinco espigas de trigo em ouro, desfolhadas
e postas em sautor; O 2.º e o 3.º de vermelho
com uma faixa de prata com as armas da
Casa de Áustria; por Timbre um trigueirão
de sua cor com uma das espigas do escudo
no bico.
(ANTT, Livro da Nobreza, 1521-1541, f. 36v)

Os TRIGUEIROS, segundo os nobiliários, são originários da vila de Trigueiros, no antigo Condado de Niebla, entre as cidades espanholas de Huelva e Sevilha. Passou este apelido a Portugal na pessoa de António Trigueiros (c. 1500), o qual veio no séquito da rainha D. Maria (1482-1517), segunda mulher do rei D. Manuel I[1].

Apesar de quase todos os tratados genealógicos portugueses registarem esta versão da origem dos Trigueiros, vindos para Portugal em 1500, sabemos que alguns deles já aqui estavam anteriormente à mencionada data. Temos conhecimento de um João Rodrigues Trigueiros, escudeiro do infante D. Duarte (1391-1438), que militou em Ceuta por volta de Fevereiro de 1425, onde se distinguiu na defesa desta praça contra um violento ataque de mouros, o que lhe valeu ser citado por Gomes Eanes de Azurara na sua Crónica do Conde Dom Pedro de Meneses. Também conhecemos um Rui Dias Trigueiro(s)[2], tabelião de Torres Vedras entre 1471 e 1485, o que revela a implantação desta família – ou de famílias com o mesmo apelido –, naquela região, muito antes da chegada de António Trigueiros.

TRIGUEIROS
ANTT,  Livro do Armeiro-Mor, 1509, f. 130.
Segundo alguns tratadistas espanhóis, os Trigueiros – Trigueros, em Espanha – são oriundos do reino de Leão, sem a menção de qual das várias províncias desse reino eles procedem. Isto leva-nos a supor que tiveram a sua primordial origem num dos contíguos municípios de Quintanilla de Trigueiros ou de Trigueros del Valle, na provincia de Valladolid. Destas localidades poderão ter tirado este apelido que se propagou inicialmente por toda a Península Ibérica, após o que passou à América Latina.

Uma das casas principais do ramo espanhol desta família radicou-se na Villa de Lillo, província de Toledo. Desta casa destacou-se D. Isabel de Trigueros, casada com Cristóbal Serrano de Vargas, do qual teve D. Maria Trigueros, por sua vez casada con Juan Pérez de Salazar. Este último casal teve Andrés Pérez de Trigueros y Serrano de Vargas (n. 1600?), nascido em Lilo, Toledo, corregedor de Zamora, General de Artilharia, Mestre de Campo e Cavaleiro da Orden de Santiago (11-I-1650), comandante do Tércio de Guarnição de Zamora (1648-1652), nomeadao para Governador da Praça Militar de Jaca (1654-1659).

A sua dispersão territorial em Portugal centrou-se, principalmente, nos concelhos de Lisboa, Mafra, Torres Vedras, Abrantes, Coimbra, Leiria, Sousel, Portalegre, Castelo Branco e Beja, tendo passado à Índia e posteriormente a África, onde um deles deixou em São Tomé e Príncipe númerosa prole cuja descendência se espalhou por grande parte das colónias portuguesas. Por casamentos, durante os séculos XVI e XVII, ligam-se a outras famílias de origem espanhola como era o caso dos Caldeirões e dos Henriques.

Os TRIGUEIROS usam um brasão de armas esquarteladas da seguinte forma: o 1.º e o 4.º de verde com cinco espigas de trigo em ouro, desfolhadas e postas em sautor; o 2.º e o 3.º de vermelho com uma faixa de prata, como as armas da Casa de Áustria; por Timbre tem um trigueirão de sua cor com uma das espigas do escudo no bico.

Conhecem-se alguns locais que a toponímia consagrou a esta família. Assim temos, na encosta do Castelo de Lisboa o Largo dos Trigueiros, na Amadora o Alto dos Trigueiros, e em Sacavém a Rua Trigueiros Martel, locais estes onde alguns deles habitaram. Na vila de Fronteira há uma rua com o mesmo nome que, caso não seja anterior a 1500, poderá ter tido origem num ramo desta família que se fixou na próxima Vila do Cano, actual concelho de Sousel. Sabemos ter havido uma rua dos Trigueiros em Torres Vedras, entretanto desaparecida, onde viveram os descendentes de António Trigueiros.


João Trigueiros

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Notas:

[1]      NORONHA, Henrique Henriques, Nobiliário da Ilha da Madeira, Tomo III, tít. Teyves, fol. 93 v.
[2]      RODRIGUES, Ana Maria Seabra de Almeida, Torres Vedras a Vila e o Termo, p. 603.