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Faro |
Os TRIGUEIROS, com origem na cidade de Faro na primeira metade do século XVII, caíram na alçada da Inquisição, quiçá com o objectivo de serem espoliados dos seus bens como aconteceu a muitas centenas de portugueses desta época.
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Faro, sepulturas oriundas do Cemitério Judaico. |
Curiosamente, registamos que, cerca de um século antes, os seus apelidos – GÓIS TRIGUEIROS –
andavam juntos na descendência de ANTÓNIO TRIGUEIROS (c. 1500) e sua mulher JOANA
DE GÓIS (c. 1510), residentes em Lisboa e Torres Vedras.
Estes Trigueiros, aqui abordados, eram mercadores abastados na cidade de Faro onde viviam, e alguns dos seus descendentes rumaram a Lisboa e Coimbra, em cujas universidades cursaram Medicina e Direito.
Sabemos que, em tempos passados, Faro foi uma cidade muito próspera devido à sua posição geográfica, ao seu bom porto de mar e à exploração do seu comércio. Anteriormente à nacionalidade, durante a dominação romana e islâmica, tornou-se um apetecível e dinâmico centro urbano que atraiu uma das mais notáveis e prósperas comunidades judaicas do País.
Este grupo social constituiu uma elite culta e poderosa
a nível económico, que prosperou e aumentou com os judeus expulsos de
Espanha (1492), muitos dos quais aqui se fixaram até à sua definitiva expulsão em 1497 e à sua conversão
forçada (cristãos-novos e criptojudeus).
O fanatismo que levou à
sua posterior perseguição, era na realidade motivado pela cobiça da sua riqueza e
inveja do seu sucesso social e intelectual — onde os pretextos religiosos foram
uma mera camuflagem das motivações reais de apropriação dos seus bens —, que levou à
sua debandada e conduziu Faro a um apagamento do brilho outrora alcançado,
do qual a comunidade judaica da cidade eram em parte responsável.
Foi na comunidade judaica de Faro que no século XV se
criou a primeira oficina tipográfica existente em Portugal, da qual saíram os
primeiros livros impressos nos fins do século XV (1487), entre os
quais se destacou o «Pentateuco» (Bíblia Hebraica).
Nesta pequena urbe vemos então surgir um ramo familiar dos TRIGUEIROS, talvez com origem nos mesmos de Lisboa e Torres Vedra, como já mencionamos, ou vindos dos mesmos de Espanha(?), a qual se
tornou alvo do Tribunal do Santo Ofício e dos seus atávicos preconceitos anti-semitas.
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Tribunal do Santo Ofício, Tortura |
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Lisboa, Terreiro do Paço, Auto de Fé. |
A provável descendência destes TRIGUEIROS, não se deve confundir com a que teve origem nos Forjaz Trigueiros (Lisboa, 1824), e mais
precisamente em JOÃO LOBO DE MIRANDA TRIGUEIROS (1888-1982), filho do
jornalista e escritor Luís Dantas Ricaldes da Silva Rodrigues Trigueiros
(1861-1934) que se fixou em Olhão no ano de 1917, e aí contrai matrimónio com
D. MARIA NATIVIDADE MENDES RIBEIRO NETO, da qual teve cinco filhos que deixaram
geração no Algarve até aos nossos dias.
Vejamos:
1. MANUEL DE GÓIS TRIGUEIROS (c. 1600)[1], cuja progenitura descohecemos. A sua descendência caiu
na alçada do Tribunal do Santo Ofício que a perseguiu e condenou por judaísmo.
na alçada do Tribunal do Santo Ofício que a perseguiu e condenou por judaísmo.
2. FRANCISCO MENDES DE GÓIS (c. 1635), que segue.
2. FRANCISCO MENDES DE GÓIS (c. 1635), natural de Faro, cidade onde
foi mercador.
Ainda solteiro foi preso por duas vezes e acusado de judaísmo: a 1.ª
em 29-XI-1635, e a 2.ª a 6-III-1637. Foi então «condenado a confisco, a
cárcere e hábito perpétuo e a penas espirituais» e saiu em auto de fé
de 14-VI-1637, e no ano seguinte a 10-XII-1638 foi-lhe «tirado o hábito
e levantado o Cárcere»[3].
De D. VIOLANTE DE PINA, natural de Beja, cristã-nova, solteira, filha
de Sebastião Francisco de Pina e de Filipa Nunes[4], teve os seguin-
tes filhos:
3. D. INÊS DE GÓIS TRIGUEIROS (n. 1644?), natural de Faro, moradora em Lisboa.
Cristã-nova, quando contava 23 anos de idade foi acusada de judaísmo a 24-X-1667 e condenada
por sentença de 12-XII-1667 a «abjuração em forma, penitências espirituais»[5].
Casou com SEBASTIÃO FRANCISCO DE PINA, cristão-novo, comerciante. S. m. n.
3. D. MARIANA DE GÓIS (n. 1650?), natural de Faro, moradora em Lisboa. Cristã-nova, quando con-
tava 20 anos de idade foi presa e acusada de judaísmo a 19-IX-1670 e posteriormente condenada
a «cárcere e hábito perpétuo sem remissão», assim como a degredo «por tempo de 7 anos para o
Reino de Angola» por sentença de 10-XII-1673. Recorreu do degredo e foi-lhe concedida a permu-
ta pelo Algarve por estar doente[6].
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Tribunal do Santo Ofício, Tortura. |
foi mercador.
Ainda solteiro foi preso por duas vezes e acusado de judaísmo: a 1.ª
em 29-XI-1635, e a 2.ª a 6-III-1637. Foi então «condenado a confisco, a
cárcere e hábito perpétuo e a penas espirituais» e saiu em auto de fé
de 14-VI-1637, e no ano seguinte a 10-XII-1638 foi-lhe «tirado o hábito
e levantado o Cárcere»[3].
De D. VIOLANTE DE PINA, natural de Beja, cristã-nova, solteira, filha
de Sebastião Francisco de Pina e de Filipa Nunes[4], teve os seguin-
tes filhos:
3. D. INÊS DE GÓIS TRIGUEIROS (n. 1644?), natural de Faro, moradora em Lisboa.
Cristã-nova, quando contava 23 anos de idade foi acusada de judaísmo a 24-X-1667 e condenada
por sentença de 12-XII-1667 a «abjuração em forma, penitências espirituais»[5].
Casou com SEBASTIÃO FRANCISCO DE PINA, cristão-novo, comerciante. S. m. n.
3. D. MARIANA DE GÓIS (n. 1650?), natural de Faro, moradora em Lisboa. Cristã-nova, quando con-
tava 20 anos de idade foi presa e acusada de judaísmo a 19-IX-1670 e posteriormente condenada
a «cárcere e hábito perpétuo sem remissão», assim como a degredo «por tempo de 7 anos para o
Reino de Angola» por sentença de 10-XII-1673. Recorreu do degredo e foi-lhe concedida a permu-
ta pelo Algarve por estar doente[6].
Casou com MANUEL FERNANDES DE CASTRO, advogado. S. m. n.
Tiveram:
4. FRANCISCO TRIGUEIROS DE GÓIS (1679-1732), nasceu em Lisboa, cidade onde veio a fale-
cer a 29-VII-1732.
Ainda solteiro, quando contava 25 anos de idade, foi preso a 4-X-1704 sob uma acusação de
judaísmo, tendo sido sentenciado a 30-VI-1709 a«Ir ao Auto de Fé, abjuração de veemente,
_______
Notas:
cer a 29-VII-1732.
Ainda solteiro, quando contava 25 anos de idade, foi preso a 4-X-1704 sob uma acusação de
judaísmo, tendo sido sentenciado a 30-VI-1709 a«Ir ao Auto de Fé, abjuração de veemente,
_______
Notas:
[1]
Por curiosidade aqui registamos a
junção dos apelidos GÓIS e TRIGUEIROS, na pessoa de António Trigueiros (c.
1500) e sua mulher Joana de Góis (c. 1510).
[2] ANTT, TSO, Inquisição de Évora, Joana da Grançanha (c. 1636), mç. 21, Proc. 4571 – Esta Joana da Grançanha (c. 1636) era filha de de Maria Mendes e de João de Aguiar. Foi denunciada ao Santo Ofício por seu irmão Francisco Mendes de Góis e saiu em auto de fé a 14-VI-1636.
[3] ANTT, TSO, Inquisição de Évora, Francisco Mendes de Góis, mç. 21, Proc. 3029.
[4] Francisco Rodrigues de Pina era irmão de André Rodrigues de Pina e de Manuel Rodrigues de Pina.
[5] ANTT, TSO, Inquisição de Lisboa, Inês de Góis, mç. 28, Proc. 5909.
[6] ANTT, TSO, Inquisição de Lisboa, Mariana de Aguiar, mç. 28, Proc. 9081.
[7] ANTT, TSO, Inquisição de Lisboa, Francisco Trigueiros de Góis, mç. 28, Proc. 3374.
[8] ANTT, TSO, Inquisição de Lisboa, Manuel Góis Trigueiros, mç. 28, Proc. 10267.
[9] ANTT, TSO, Inquisição de Lisboa, Francisco Mendes de Góis, mç. 28, Proc. 2142.
[10] ANTT, TSO, Inquisição de Lisboa, Filipa Nunes, mç. 28, Proc. 6870.
[2] ANTT, TSO, Inquisição de Évora, Joana da Grançanha (c. 1636), mç. 21, Proc. 4571 – Esta Joana da Grançanha (c. 1636) era filha de de Maria Mendes e de João de Aguiar. Foi denunciada ao Santo Ofício por seu irmão Francisco Mendes de Góis e saiu em auto de fé a 14-VI-1636.
[3] ANTT, TSO, Inquisição de Évora, Francisco Mendes de Góis, mç. 21, Proc. 3029.
[4] Francisco Rodrigues de Pina era irmão de André Rodrigues de Pina e de Manuel Rodrigues de Pina.
[5] ANTT, TSO, Inquisição de Lisboa, Inês de Góis, mç. 28, Proc. 5909.
[6] ANTT, TSO, Inquisição de Lisboa, Mariana de Aguiar, mç. 28, Proc. 9081.
[7] ANTT, TSO, Inquisição de Lisboa, Francisco Trigueiros de Góis, mç. 28, Proc. 3374.
[8] ANTT, TSO, Inquisição de Lisboa, Manuel Góis Trigueiros, mç. 28, Proc. 10267.
[9] ANTT, TSO, Inquisição de Lisboa, Francisco Mendes de Góis, mç. 28, Proc. 2142.
[10] ANTT, TSO, Inquisição de Lisboa, Filipa Nunes, mç. 28, Proc. 6870.
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