JOSÉ CAMPELO TRIGUEIROS MARTEL (1852-1888), jornalista republicano & sua sobrinha D. MARIA MADALENA VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL, (1884-1947), poetiza e escritora


José Campelo Trigueiros Martel (1852-1888)
(in «Pontos nos ii», n.º 158, 24-V-1888,
por Rafael Bordalo Pinheiro (?)


JOSÉ CAMPELO TRIGUEIROS MARTEL (1852-1888) nasceu a 25-I-1852 em Lisboa onde foi baptizado a 9-III-1852 na Igreja de Nossa Senhora da Encarnação, apadrinhado por José de Oliveira Melo e D. Mariana Vitória Campelo de Barros. Faleceu em 1888 e teve um funeral civil para o «Jazigo da Família Campelo Trigueiros Martel» no cemitério dos Prazeres em Lisboa.
Lisboa, Igreja de N.ª Sr.ª
da Encarnação (ao Chiado)
Proprietário abastado por herança dos seus maiores, bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra em 1873, viveu parte da sua juventude em Paris e pertenceu à elite de jornalistas e intelectuais republicanos que fundaram o jornal «O Século» em finais de 1880, dos quais era um dos principais accionistas juntamente com os Drs. Sebastião Magalhães Lima (1850-1928), advogado; António Pinto Leão de Oliveira (1846-1898), médico; João de Almeida Pinto, jornalista; e Anselmo Xavier (f. 1915), advogado[1].
Ainda muito novo foi um republicano avant la lettre, pois, desde muito cedo combateu o regime monárquico e fez parte do Directório Republicano Democrático que foi criado em 1870, então embrião do Partido Republicano que inicia a sua actividade em 1876 e elege o seu primeiro deputado em 1878.
Trigueiros Martel, 
«A Republica em Portugal»,
 
1886.
Em 1886 publicou um pequeno livro intitulado «A República em Portugal» (Lisboa: Typ. Nacional, 1886).
Teve uma vida curta, pois veio a falecer aos 36 anos de idade vitimado por uma «doença cruel», à qual não terá sido alheia uma juventude boémia que «foi criando estragos no seu organismo e abrindo brechas na sua saúde», no dizer de um panfletário republicano que não lhe reconhecia grandes capacidades jornalísticas e políticas, porém dele dizia ser «cavalheiroso e digno, no que se afastava de quase todos os dirigentes do partido republicano»[2].  
Este «homem de iniciativa, vindo do estrangeiro com ideias largas», fez mecenato cultural e destinou o Pátio do Martel – actualmente conhecido por Vila Martel –, anexo traseiro da sua casa situada na Rua D. Pedro V, n.º 56, em Lisboa, com entrada pelas traseiras na Rua das Taipas, para «refúgio e mansões de trabalho de pintores e escultores»[3]. Nestes ateliês laboraram alguns dos melhores artistas da sua geração, entre os quais se destacaram os pintores Columbano, Malhoa, Carlos Reis, e Eduardo Viana, assim como o escultor Francisco Franco, e o ceramista Jorge Colaço. Todos eles produziram neste espaço de arte e cultura quase tudo que que de melhor foi feito nesta época em termos de artes plásticas.


Lisboa, Rua D. Pedro V, Casa Trigueiros Martel, dos Condes de Castelo Branco.
Casa dos Conde de Castelo Branco
          e o Pátio do Martel.















Lisboa, Rua D. Pedro V, Casa Trigueiros Martel. 
Portão com escudo esquartelado de:
1.º - PEREIRA, 2.º - MARTEL, 3.º - TRIGUEIROS,
 e 4.º - REGO.
Em Paris casou com D. MARIE GUIRAND MATIEU SICUT (f. 1939), de nacionalidade francesa, cuja rara beleza surpreendeu os seus contemporâneos de Lisboa.
Não teve filhos  e veio a falecer  a 3-V-1939 em Lisboa, sendo sepultada no «Jazigo da Família Campelo Trigueiros Martel» no cemitério dos Prazeres.
João José Campelo Trigueiros Martel era filho seundogénito de SIMÃO TRIGUEIROS DO REGO MARTEL (n. 1807) nascido a 12-VII-1807 em Idanha-a-Nova, onde foi baptizado a 23-VII-1807, proprietário, casado no Oratório da Quinta da Francelha em Sacavém, concelho de Loures, com D. HENRIQUETA JÚLIA CAMPELObaptizada na Igreja de São Nicolau em Lisboa; filha de Ângelo José da Costa Campelo (c. 1808), casado a 20-II-1808 na Ermida de Nossa Senhora da Piedade em Almargem do Bispo no concelho de Sintra, cujo assento foi registado a 26-III-1808 na Igreja da Conceição Nova em Lisboa, com sua mulher D. Mariana Vitória de FreitasForam testemunhas deste casamento o marechal de campo José Maria Moreira Bergara, morador a Santa Marta, e José de Oliveira e Melo que era recém-casado com D. Mariana Vitória Campelo a 8-VIII-1847 na ermida da Quinta da Francelha, com o respectivo assento de casamento na Igreja do Sacramento em Lisboa. À data do seu casamento (1848) residia da Rua  e freguesia de São José, depois de casado,  quando nasceu o seu filho primogénito (1850) residia na Travessa da Vitória, n.º 52.



Alcains, Solar dos Goulões (actual Museu do Canteiro).


João José Martins Pereira
do Rego Goulão (n. 1758);
1.º - PEREIRA, 2.º - REGO
(C.B.A. 20-III-1821)



















Era neto paterno de JOÃO JOSÉ MARTINS PEREIRA DO REGO GOULÃO (n. 1758)[4], o qual nasceu a 6-VIII-1758 em Castelo Branco, filho de José Martins Pereira Goulão (n. 1725), capitão-mor das Ordenanças de Castelo Branco, e de sua mulher D. Joana Bernarda do Rego Teles Carmona[5].
João José Martins Pereira do Rego Goulão teve brasão de armas por carta de 20-III-1821, com um escudo partido em pala de PEREIRA e de REGO[6]. Foi um dos grandes proprietários do distrito de Castelo Branco onde tinha avultado património fundiário e diversas casas, nomeadamente em Idanha-a-Nova, Sarnadas, e Alcains, localidade esta onde residia no Solar dos Goulões, actual Museu do Canteiro e um dos mais antigos exemplos da arquitectura solarenga desta localidade[7]. Casou com D. MARIA ANTÓNIA TRIGUEIROS MARTEL REBELO LEITE (n. 1770), nascida a 28-IV-1770 na freguesia de Nossa Senhora da Conceição em Idanha-a-Nova, onde foi baptizada a 28-V-1770, irmã de Joaquim Trigueiros Martel (1801-1873), 1.º Visconde de São Tiago (1862), 1.º Conde de Castelo Branco (1870); filha de Jerónimo Trigueiros Martel Rebelo Leite (1716-1792)[8], que nasceu a 30-IX-1716 em Idanha-a-Nova onde foi baptizado a 19-IX-1716, capitão do Terço de Infantaria Auxiliar de Castelo Branco e proprietário, que veio a falecer a 12-III-1792 em Idanha-a-Nova, onde foi sepultado no Convento de Santo António, filho das sua segundas núpcias com D. Maria Angélica Marques Goulão (1725-1790), nascida a 19-XII-1725 em Idanha-a-Nova, onde foi baptizada a 26-XII-1725, tendo falecido a 16-V- 1790 em Idanha-a-Nova, com testamento, e aí sepultada no Convento de Santo António (actualmente propriedade particular).



Genealogia
O biografado JOSÉ CAMPELO TRIGUEIROS MARTEL (1852-1888), além da irmã MARIA JOSÉ (1856-1862), falecida com oito anos de idade, teve um irmão primogénito no qual recaiu a sucessão da casa de seus pais:

1.       JOÃO CAMPELO TRIGUEIROS MARTEL (1850-1895), proprietário, nasceu a 5-XII-1850, tendo falecido a 14-III-1895 e foi sepultado no seu jazigo do cemitério dos Prazeres e Lisboa[9]
Casou a 5-XII-1870 com D. MARIA HENRIQUETA MASCARENHAS GODINHO VALDEZ (1855-1918)[10], nascida a 9-XI-1855 em Lisboa, cidade onde veio a falecer a 26-XII-1918. Sua mulher era filha herdeira de Manuel Godinho Travassos Valdez (c. 1810), fidalgo-cavaleiro da Casa Real, tenente-coronel de Cavalaria, senhor do morgado da Quinta da Flandes e dos vínculos dos Anjos e do Mosquete, em Pombal, casado com D. Maria Madalena Mascarenhas de Mancelos (1813-1886), nascida a 30-III-1813 em Pombal, falecida a 6-VIII-1886 em Lisboa; e neta materna de Manuel Caetano Mascarenhas de Mancelos (1766-1822), alcaide-mor do Crato, nascido a 18-XI-1766 em Pombal, falecido a 25-III-1822 em Lisboa, casado a 26-V-1787 na capela de Nossa senhora do Cardal, em Lisboa, com D. Ana Leonor de Vasconcelos Sousa Godinho Valdez (1775-1839), nascida a 25-II-1775 em Pombal, e falecida a 9-IX-1839 em Lisboa.
Filhos:
2.      MARIA EMÍLIA VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (1871-1872), nascida a 25-XI-1871, tendo falecido prematuramente a 1-XII-1872.
2.       JOSÉ GODINHO VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (1874-1878), nascido a 2-X-1874, tendo falecido prematuramente a 13-X-1878.
2.       LUÍS GODINHO VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (n. 1878), nascido a 5-I-1878.
2.        SIMÃO VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (1879-1946), 2.º Conde de Castelo Branco, e filho sucessor
que segue no §: 1.
2.      D. MARIA MADALENA VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (1884-1947), poetiza e escritora, que segue no §: 2.

§: 1       
2.       SIMÃO VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (1879-1946)2.º Conde de Castelo Branco, por sucessão de seu tio-avô Joaquim Trigueiros Martel (1801-1873) que foi 1.º conde de Castelo Brancoe autorização do rei D. Manuel II pouco antes de morrer[11].
          Nasceu a 5-I-1879 e veio a falecer a 21-XII-1946. Formou-se em engenharia Civil e de Minas pela Escola do Exército.
          Cavaleiro da Ordem de Cristo e comendador da Ordem da Instrução Pública da Venezuela, tomou par-
        te activa na política monárquica dos primeiros anos da República o que lhe valeu perseguições e o exílio. Morou na sua casa da Rua D. Pedro V, n.º 56, em Lisboa, que ostenta o seu brasão de armas com um escudo esquartelado de PEREIRA, MARTEL, TRIGUEIROS e REGO[12].
        Casou a 28-XII-1899 com D. MARIA EMÍLIA INFANTE DA CÂMARA TABORDA (1880-1955), natural de Lisboa, falecida a 7-X-1955, filha de Nuno Bento de Brito Taborda (c. 1850)coronel de Engenharia pela Escola do Exércitoe de sua mulher D. Maria Henriqueta Infante da Câmara (c. 1855); neta paterna de Nuno Augusto de Brito Homem Ferreira Taborda, casado com D. Georgine de Thierry, a qual era filha de Charles Joseph, Barão de Thierry, e de sua mulher D. Marie Caroline de Frotté Battier de Lavillee neta materna de Emílio Infante da Câmara (1799-1875)nascido em São Vicente do Paul, Santarém, casado a 21-II-1851 em Lisboa com D. Emília Mac-Mahon Garrido de Cesan (n. 1825).
Filho sucessor:
3.     JOÃO FILIPE INFANTE DA CÂMARA TABORDA VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (1900-1958), 3.º Conde de Castelo Branco, que segue.

3.      JOÃO FILIPE INFANTE DA CÂMARA TABORDA VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (1900-1958), 3.º Conde de Castelo Branco por alvará do Conselho de Nobreza de 30-III-1951, nascido a 1-XII-1900 em Lisboa, cidade onde faleceu a 5-XII-1958. Foi engenheiro Agrónomo, director da Fábrica Portuguesa de Fermentos Holandeses da Cruz Quebrada, e comendador da Ordem de Orange e Nassau (Holanda).
Casou a 8-X-1941 em Lisboa com D. MARIA VICENTA REMUS CAPELLA (n. 1910), nascida a 28-V-1910 na Catalunha, em Espanha, filha de Luís Rémus, natural de Espanha, e de sua mulher D. Agustina Capella.
          Filhos:
4.       D. MARIA JOÃO REMUS TRIGUEIROS MARTEL (n. 1942), 4.ª Condessa de Castelo Brancoe 2.ª
          Viscondessa de Abrançalha, que segue abaixo.
4.       D. ISABEL TERESA GEORGIANA REMUS TRIGUEIROS MARTEL (1944-1969)nascida a 11-VI-1944
          em Lisboa, e falecida prematuramente a 26-X-1969 em Santarém.

Vale de Figueira, Qta. da Sobreira.
4.     D. MARIA JOÃO REMUS TRIGUEIROS MARTEL (n. 1942)4.ª Condessa de Castelo Branco por alvará do Concelho de Nobreza de 8-V-1987, e 2.ª Viscondessa de Abrançalha por alvará de 15-XII-1992. Nasceu a 24-IX-1942 em Lisboa. Senhora da Quinta da Sobreira, em Vale de Figueira, concelho de Santarém, actualmente vocacionada para ao turismo rural.
          Casou a 4-IV-1964 em Vale de Figueira, Santarém, com seu primo
      JOÃO JOSÉ GUSTAVO SCHENYZER FRANCO FRAZÃO (1932-1995),
      4.º Conde de Penha Garcia por alvará do Conselho de Nobreza de
          24-IV-1979, nascido a 3-IX-1932, e falecido a 24-IV-1995 em Vale de
          Figueira, concelho de Santarém.
Qta. da Sobreira. Brasão esquartelado de
PEREIRA, MARTEL, TRIGUEIROS, e REGO;
de Simão Valdez Trigueiros Martel (1879-1946),
2.º Conde de Castelo Branco.
Qta. da Sobreira.
Seu marido era o filho de João Valdez Penalva Franco Frazão (1901-1977), 3.º Conde de Penha Garcia, nascido a 16-VII-1901, falecido a 17-I-1977, engenheiro Electrotécnico pela Universidade de Zurique, casado em 1929 com D. Nesy Schenyzer (n. 1905), nascida a 4-XII-1905 em Zurique, na Suíça; neto paterno de José Capelo Franco Frazão (1872-1940), 1.º Conde de Penha Garcia, casado a 1-V-1898 com D. Eugénia Maria Valdez Penalva (1876-1931), nascida a 31-VII-1876, falecida a 2-VII-1931 em Paris, filha de José Rodrigues Penalva (1811-1881), 1.º Visconde de Penalva de Alva; neto materno de Gustavo Wilhelm Schenyzer (c. 1880), casado com D. Agnes Emilie Louise Gerster von Koepf (c. 1880).
Filhos:
5.       JOÃO FILIPE TRIGUEIROS DE MARTEL FRANCO
          FRAZÃO (n. 1965), 5.º Conde de Penha Garcia, que segue abaixo.
Fiacre do 1.º Conde de Penha Garcia;
Museu Nacional dos Coches, Lisboa.
          5.       MIGUEL TRIGUEIROS DE MARTEL FRANCO FRAZÃO
                    (n. 1966)nascido a 24-II-1966 em Lisboa.
          5.       D. INÊS TRIGUEIROS DE MARTEL FRANCO FRAZÃO
                    (n. 1967)que nasceu a 8-XII-1967 em Luanda, Angola,                      tendo casado com LUÍS TIAGO DE BRITO VACAS DE
                    CORDOVIL (n. 1969), engenheiro Civil, o qual nasceu
                    26-VIII-1969 na freguesia de Alvalade, em Lisboa,                              filho de João de Brito Potes Cordovil (1937-2012), natu-
                    ral de Évora, e de D. Maria Helena Teias Vacas (n. 1935).
          5.       TIAGO TRIGUEIROS DE MARTEL FRANCO FRAZÃO
                    (n. 1976)nascido a 21-XII-1976 em Portalegre, no
                    Brasil. Casou com D. SARA GALVÃO COSTA.
                    Tiveram:  
                    6.     FRANCISCA GALVÃO DA COSTA FRANCO FRAZÃO (n. 2005), nascida a 3-VII-2005.
                    6.     VASCO GALVÃO DA COSTA FRANCO FRAZÃO (n. 2007), nascida a 24-X-2007.
                    6.    TOMÁS GALVÃO DA COSTA FRANCO FRAZÃO (n. 2009), nascido a 16-VII-2009.
           5.      D. MAFALDA TRIGUEIROS DE MARTEL FRANCO FRAZÃO (n. 1982), nascida a 6-IV-1982, veio a
                    casar a 22-I-2011 em Lisboa com ANTÓNIO MARQUES MENDES.

5.     JOÃO FILIPE TRIGUEIROS DE MARTEL FRANCO FRAZÃO (n. 1965), 5.º Conde de Penha Garcia por alvará do Conselho de Nobreza de 21-XII-1998, nasceu a 26-I-1965 em Lisboa. Casou duas vezes.
          As primeiras núpcias foram com D. PALOMA GÁLVEZ GONÇALVES, filha de Eduardo Frick Gonçalves, nascido em Lisboa, casado a 1-IX-1962 com D. Alicia Galvez Petersen (n. 1940), natural de Málaga, Espanha.
         As segundas núpcias foram celebradas com D. TERESA VITÓRIA MALHEIRO DE VILHENA CORTE-REAL (n. 1968), nascida a 5-VI-1968 na Lapa, em Lisboa, filha de António Maria de Melo e Castro de Mendonça Corte-Real (n. 1939), casado com D. Maria Adelaide de Araújo Vilhena Freire de Andrade (n. 1941)
Filhos do 1.º casamento:
6.       D. INÊS FRANCO FRAZÃO.
6.       JOSÉ FRANCO FRAZÃO.
Filhos do 2.º casamento:
6.       MARIA CORTE-REAL FRANCO FRAZÃO (n. 2000), nascida a 6-XII-2000 nas Mercês, em Lisboa.
6.       DUARTE CORTE-REAL FRANCO FRAZÃO (n. 2003), nascido a 18-VIII-2003 em Santa Isabel, em 
          Lisboa.

§: 2
2.       D. MARIA MADALENA VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL (1884-1947), nascida em 1884, veio a falecer a 3-XI-1947 em Lisboa.
Erai 18.ª Senhora do Prazo de Flandes em Pombal e da Quinta da Francelha em Sacavém
Poetisa e escritora, figura de relevo pela sua acção cultural e beneficente, o que lhe valeu uma condecoração dada pela Santa Sé. Foi vários anos seguidos nomeada para o prémio Nobel da Literatura e, até 1950, ocupou o segundo lugar em termos de número de nomeações para este prémio literário, apesar de hoje ser quase desconhecida. Publicou em 1915 o seu primeiro volume de poemas em francês, Le Livre du Passé Mort (Lisboa: Edit. Porto, 1915), ao qual se sucederam mais 25 obras, muitas delas sob o simples pseudónimo de Maria Madalena. O seu nome foi dado a uma rua da cidade Pombal.
 
Sacavém, Prior-o-Velho,
Casa da Francelha.
Casou com FRANCISCO ANTÓNIO RIBAS PATRÍCIO (1869-1960), nascido a 9-VIII-1869 na Guarda, falecido a 26-XII-1960 em Lisboa, juiz de Direito, desembargador da Relação de Lisboa, do Conselho de Sua Majestade Fidelíssima. Seu marido era um dos doze filhos de Francisco António Patrício (1845-1934), natural de Freixeda do Torrão, Figueira de Castelo Rodrigo, casado a 24-I-1866 na Sé da Guarda com D. Teresa Guilhermina dos Anjos Ribas (1848-1921), natural da Guarda.
Tiveram:
3.       FRANCISCO JOSÉ VALDEZ TRIGUEIROS MARTEL PATRÍCIO (n. 1900), que segue.

3.    FRANCISCO JOSÉ VALDEZ TRIGUEIROS DE MARTEL PATRÍCIO (1901-1971), senhor da Quinta da Francelha em Sacavém da qual vendeu parte a 26-II-1940. Formado em Direito, governador civil do Distrito de Leiria, nasceu a 18-VII-1901 na freguesia da Encarnação, em Lisboa, e faleceu a 6-XII-1971 na Quinta da Francelha, em Sacavém.
         Dedicou-se à criação do cavalo lusitano tendo saído da sua coudelaria o maior garanhão desta raça: o famoso Afiançado de Flandes (1882-2012), um dos melhores puro-sangue do mundo que viveu 30 anos e foi o mais premiado em exposições e provas. Foi vendido aos dois anos para o Brasil (Fazenda Sasa), e serviu de semental para toda a América Latina.

Francisco José Valdez
Trigueiros Martel Patrício
(1901-1971)
 «É o garanhão lusitano mais premiado em exposições em todos os tempos, tendo sido 5 vezes consecutivas (o máximo permitido) Grande Campeão Internacional, de 1987 a 1991, além disso foi dez vezes campeão de progénie, a última dessas vezes em 2008. Por tudo isso, já foi considerado, em algumas revistas da especialidade, o Chefe da Raça. É o maior produtor no Brasil, de filhos, netos e bisnetos que foram Grandes Campeões, com bem mais de 100 medalhas de Ouro. Afiançado de Flandes é pai de cerca de 500 filhos, produtor de campeões, e por isso um dos três cavalos de mérito inscritos no mundo.»[13].

Casou a 22-X-1925 na Casa da Aveleda, em Penafiel, com D. MARIA LUÍSA VANZELLER GUEDES (1901-1975), nascida s 5-IV-1905 em Massarelos, Porto, e falecida a 6-VI-1975 na Quinta da Francelha, Sacavém, filha de Fernando Guedes da Silva da Fonseca (1871-1946), natural do Porto, fidalgo da Casa Real, senhor da Quinta da Aveleda e Avintes, casado com D. Maria Helena de Sousa e Barros Van Zeller (1874-1963)
Tiveram:
4.          D. MARIA HELENA DOROTEIA VAN ZELLER GUEDES MARTEL PATRÍCIO (1927-1964), nascida na freguesia de Benfica, Lisboa, e falecida a ?-XII-1964. Casou nas primeiras núpcias de MÁRIO TRAVASSOS ALUA SIMAS (n. 1922), nascido a 16-II-1922 na Horta, Açores, do qual teve sete filhos que propagaram até aos nossos dias os apelidos PATRÍCIO SIMAS.
   Lisboa, Palacete Empis, 1907 (desaparecido).
4.       D. MARIA MADALENA VAN ZELLER GUEDES MARTEL
          PATRÍCIO (n. 1927), 7.ª Marquesa de Valençaque segue
           abaixo.
4.        D. MARIA HENRIQUETA VAN ZELLER GUEDES MARTEL
          PATRÍCIO (n. 1929), nascida a 15-XII-1929 em Sacavém, Lou-
res. Casou com NUNO ERNESTO DE SOUSA COUTINHO
EMPIS (1926-2010), nascido a 5-III-1926 na freguesia das Mer-
cês em Lisboa, e falecido a 4-VIII-2010; um dos doze filhos de
Raúl Júlio Empis (1887-1960)[14]um dos 24 fundadores do Benfica – então Grupo Sport Lisboa, em 1904 , aos 17 anos de idade, que era natural de Lisboa, casado a 21-X-1914 no Beato, em Lisboa, com D. Luísa Burnay de Sousa Coutinho (1891-1974)[15]natural de Lisboa. Tiveram seis filhos que propagaram até aos nossos dias os apelidos PATRÍCIO EMPIS.
4.      D. MARIA TERESA VAN ZELLER GUEDES DE MARTEL PATRÍCIO (n. 1932), nascida a 24-IV-1932 em Sacavém, Loures. Casou com CARLOS ANTÓNIO RIBEIRO DA SILVA DE NORONHA CORDEIRO FEIO (1927-2012), nascido a 14-V-1927, e falecido a 27-VII-2012 em Lisboa; filho de Carlos Maria Appleton de Noronha Cordeiro de Araújo Feio (n. 1882), que nasceu a 5-III-1882 em Santa Isabel em Setúbal, casado a 8-XII-1921 na freguesia dos Mártires, em Lisboa, com D. Maria Cristina Scwalbach Ribeiro da Silva (n. 1831). Tiveram duas filhas, ambas com geração que chegou até aos nossos dias usando os apelidos CALÇADA PINA e FEIO BRAVO.
4.       D. MARIA LUISA VAN ZELLER GUEDES DE MARTEL PATRÍCIO (n. 1935), nascida a 23-XI-1935 em Sacavém, Loures. Casou com D. RUI D’ OREI PEREIRA COUTINHO (n. 1930), nascido a 7-XII-1930 em São Sebastião da Pedreira, em Lisboa; um dos doze filhos de D. Luís Pereira Coutinho (n. 1897), nascido a 30-III-1897 nas Mercês, em Lisboa, coronel de Artilharia, casado a 15-III-1919 com D. Maria das Dores Sárrea d’ Orei (n. 1899), nascida a 3-XII-1899 em São Mamede, Lisboa.
Filhos:
5.     D. MAFALDA GUEDES PATRÍCIO PEREIRA COUTINHO (n. 1960), nascida a 20-V-1960 na Lapa, em Lisboa. Casou a 27-IX-1980 na Quinta da Francelha, Loures, nas primeiras núpcias de D. SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO DAUN E LORENA (n. 1955), 13.º Conde de Oeiras, nascido a 26-III-1955 em São Sebastião da Pedreira, Lisboa; primogénito dos seis filhos de D. Manuel Sebastião de Almeida de Carvalho Daun e Lorena (n. 1930), 9.º Marquês de Pombal, natural de Lisboa, cidade onde casou a 2-VI-1954 com D. Maria João de Melo Freire Cabral (n. 1932). Tiveram geração que segui os apelidos DAUN E LORENA.
4.       FRANCISCO JOSÉ GUEDES DE MARTEL PATRÍCIO (n. 1939), nascida a 11-VII-1939 em Sacavém, Loures. Casou com D. LEONOR MARIA DE MELLO BREYNER DE CARVALHO (n. 1947), um dos cinco filhos de Lourenço Cyrne do Casal Ribeiro de Carvalho (1928-1977)[16], natural do Porto, casado com D. Maria Teresa do Menino Jesus Pinto Leite de Mello Breyner (n. 1926), natural de Cascais. Tiveram geração que seguiu os apelidos CARVALHO PATRÍCIO.
4.       D. MARIA DA CONCEIÇÃO GUEDES DE MARTEL PATRÍCIO (n. 1942) que nasceu a 5-V-1942 em Lisboa. Casou com D. MIGUEL D’ OREY PEREIRA COUTINHO (n. 1935), nascido a 14-V-1935, e um dos onze filhos de D. Luís Pereira Coutinho (n. 1897), casado a 15-III-1919 em Oeiras com D. Maria das Dores de Sárrea d’ Orey (n. 1899). Tiveram geração que seguiu os apelidos PEREIRA COUTINHO e ORTIGÃO COSTA.
           
4.      D. MARIA MADALENA VAN ZELLER GUEDES TRIGUEIROS MARTEL PATRÍCIO (n. 1927), 7.ª Marquesa de Valença por casamento. Nasceu a 15-V-1928 em Sacavém, Loures.
Oratório da Q.ta da Francelha.
Casou a 24-V-1951 no Oratório da Quinta da Francelha, em Sacavém, com D. ANTÓNIO LUÍS DA COSTA PATALIM LAFETÁ DE PORTUGAL E CASTRO DE SOUSA COUTINHO CASTELO BRANCO E MENESES (1925-2007), 7.º Marquês de Valença[17], 4.º Marquês de Borba[18], 18.º Conde do Redondo[19], 15.º Conde de Vimioso[20], 8.º Conde de Soure[21] por alvarás do Conselho de Nobreza de 20-VI-1955, e certificados do mesmo de todos estes títulos desde 20-IV-1947. Nasceu a 10-VI-1925 na freguesia de São Mamede em Lisboa, cidade onde faleceu a 19-II-2007.
Seu marido era filho de D. Fernando José Luís Burnay de Sousa Coutinho Castelo Branco e Meneses (1883-1945), 6.º Marquês de Valença, representante dos títulos de Marquês de Borba e de Aguiar, de Conde do Redondo, de Vimioso, e de Soure, e de sua mulher D. Hedviges Maria Judite de Carvalho (1894-1961), com a qual casou a 15-10-1922; neto paterno de D. José Luís de Sousa Coutinho Castelo Branco e Meneses (1859-1930), 17.º Conde de Redondo, 14.º Conde de Vimioso, representante dos títulos de Marquês de Borba, de Valença e de Aguiar, e de Conde de Soure, e de sua mulher D. Eugénia Cecília Burnay (1860-1915) com a qual casou a 26-VI-1880; e neto materno de António Afonso Carvalho, casado com D. Teresa de Jesus Carvalho.
Tiveram:
5.     D. LUÍSA MARIA PATRÍCIO DE SOUSA COUTINHO (n. 1952), nascida a 5-X-1952 em Lisboa.
        Casou a 7-VII-1973 na Quinta da Francelha, em Sacavém, com NUNO MARIA DE FIGUEIREDO
        CABRAL DA CÂMARA PEREIRA (n. 1951)[22]. Nasceu a 19-II-1951 na freguesia de São Sebastião
 
Nuno Maria de Figueiredo Cabral
da Câmara Pereira (n. 1951)
        
da Pedreira em Lisboa; filho de Nuno Maria de Figueiredo Cabral da
        Câmara Pereira (1922-2000)nascido a 24-XI-1922 na Quinta do Pi-
        nheiro, freguesia de Rio de Mouro, concelho de Sintra, e de sua
        mulher  que foi D. Ana Teles da Silva Pacheco (1919-2000), nascida a
        21-III-1919 no Rio de aneiro, Brasil; neto paterno de Armando de
        Figueiredo Afonso Pereira (1885-1963), nascido a 15-III-1885 em
        Alcântara, Lisboa, e de sua primeira mulher D. Maria Malaquias da
        Conceição de Figueiredo Cabral da Câmara (1883-1947)neto mater-
        no de Albino Augusto Pacheco (1871-1948)médiconascido a 7-II-
        -1871 na freguesia de Britelo, concelho de Cabeceiras de Basto, e de
        sua mulher D. Maria Francisca Teles da Silva (1882-1974), nascida
        a 13-II-1882 na freguesia de Santos-o-Velho, em Lisboa.
        Seu marido é fadista de mérito reconhecido, engenheiro técnico
        Agrário, activista monárquico, deputado da Assembleia da República (2005-2009), assim como
        cavaleiro professo da Ordem de São Miguel de Ala e seu comendador-mor.  É trineto de D. Vasco
        António de Figueiredo Cabral da Camara (1829-1870)3.º Conde de Belmonte16.º neto de Pedro
        Álvares Cabral (1468-1520), o descobridor do Brasil; 14.º neto de D. Vasco da Gama (f. 1469), o
        descobridor do caminho marítimo para a Índia; e 5.º neto do rei D. João VI (1767-1826), por sua
        filha mais nova a infanta D. Ana de Jesus Maria de Bragança e Bourbon (1806-1857) que foi a
        1.ª Duquesa de Loulé por casamento.
        Tiveram:
        6.        NUNO MARIA DE SOUSA COUTINHO CABRAL DA CÂMARA PEREIRA (n. 1975), nascido a
                   26-VI-1975 na freguesia de São Domingos de Benfica, em Lisboa. Actor e cantor.
        6.        D. MARIA MADALENA DE SOUSA COUTINHO CABRAL DA CÂMARA PEREIRA (n. 1977)
                   nascida a 5-I-1977 na freguesia de São Domingos de Benfica, em Lisboa. É licenciada em
                   Gestão Turística e Hoteleira. Casou a 15-IX-2001 na Quinta de São João de Galamares, em 
                   Sintra, com FILIPE DE SOUTO BARREIROS DE ALMEIDA (n. 1970), nascido a 22-X-1970 na
                   freguesia de Marvila, em Santarém. Engenheiro técnico Agrário.
        6.        D. CARLOTA JOAQUINA DE SOUSA COUTINHO CABRAL DA CÂMARA PEREIRA (n. 1979),
                   nascida a 16-VI-1979 na freguesia de São Domingos de Benfica em Lisboa. Licenciada em
                   Arquitectura.
5.      D. MARIA MADALENA PATRÍCIO DE SOUSA COUTINHO (n. 1955), nascida a 25-V-1954 em Lisboa.
         Casou em 1975 em Sintra com ANTÓNIO VASCO CORREIA DE SÁ TABORDA FERREIRA (n. 1955),
         nascido a 2-VII-1955 na freguesia de Benfica, em Lisboa.
         Seu marido era filho de Vasco Scazzola Taborda Ferreira (n. 1923), doutorado em Direito pela Uni-
         versidade de Lisboa, nascido a 23-VI-1923 em Génova, Itália, e de sua mulher D. Helena Maria
         Correia de Sá (n. 1930), nascida a 30-XI-1930 em Lisboa; neto materno de António José Correia de
         Sá Benevides Velasco da Câmara (1900-1968)10.º Visconde de Asseca, nascido a 3-X-1900 na fre-
         guesia das Mercês, Lisboa, e de sua mulher D. Maria Luísa de Sousa Holstein Beck (1930-1972),
         nascida a 30-XII-190 na freguesia de Santa Isabel, em Lisboa, filha de D. Helena Maria Domingas
         de Sousa Holstein (1846-1941)4.ª Duquesa de Palmela
         Tiveram:
         6.       VASCO MARIA DE SOUSA COUTINHO CORREIA DE SÁ TABORDA FERREIRA (n. 1977), que
                   nasceu em 1977 em Lisboa.
         6.       SALVADOR DE SOUSA COUTINHO CORREIA DE SÁ TABORDA FERREIRA (n. 1979), nasci-
                   do em 1979 em Lisboa.
         6.       D. MARIANA DE SOUSA COUTINHO CORREIA DE SÁ TABORDA FERREIRA (n. 1981), nas-
                   cida em 1981 em Lisboa.
5.        D. FERNANDO PATRÍCIO DA COSTA PATALIM LAFETÁ DE PORTUGAL E CASTRO DE SOUSA
         COUTINHO CASTELO BRANCO E MENESES (n. 1956)19.º Conde do Redondo, e 16.º Conde de
         Vimioso por alvará do Conselho de Nobreza de 12-VI-1981. Nasceu a 12-V-1956 em Lisboa. 
         Casou com D. MARIA TERESA TEIXEIRA DE ABREU BELMAR DA COSTA (n. 1960), que nasceu no
         em 1960 e foi um dos dez filhos de Nuno Corrêa Leite Belmar da Costa (1930-1992), o qual veio a
         casar a 18-VI-1950 em Cabanas com D. Maria Teresa Tavares de Almeida e Silva Teixeira de Abreu
         (n. 1927), nascida a 2-III-1927 em Viseu.
         Tiveram:
         6.       D. ANTÓNIO LUÍS BELMAR DE PORTUGAL DE SOUSA COUTINHO (n. 1982), filho primogé-
                   nito, nascido a 19-I-1982 em Lisboa.
          6.      D. FRANCISCO XAVIER BELMAR DA COSTA DE PORTUGAL DE SOUSA COUTINHO (n. 
                   1984), nascido a 3-XII-1984 em Lisboa.
         6.       D. AFONSO BELMAR DE PORTUGAL DE SOUSA COUTINHO (n. 1986), nascido a 13-VI-1986
                   em Lisboa.
5.     D. FERNANDO PATRÍCIO DA COSTA PATALIM LAFETÁ DE PORTUGAL E CASTRO DE SOUSA
        COUTINHO CASTELO BRANCO E MENESES (n. 1956), que segue. 

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Anexos:

   O Pátio do Martel
Cinquenta degraus até chegar à glória
     Por Fernando Madaíl, 19-I-2008, DN Gente - Online[23].

 «O jornalista que os ardinas celebrizaram em pregões visitava o refúgio de artistas.
 Sobe-se ao encontro da glória por aqueles cinquenta degraus, íngremes e difíceis, mas merece bem a pena, porque não só a vista que se goza é admirável, mas porque nos pomos em contacto com as recordações de grandes mortos, da sua obra e dos ainda vivos que ali lidaram, sofreram, sonharam e realizaram parte dos sonhos - nunca os artistas estão satisfeitos - e lá mourejam e visionam quadros e estátuas." A caneta de Rocha Martins (1879-1952), jornalista e historiador, que se tornaria famoso na boca dos ardinas pelo pregão "fala o Rocha, o Salazar está à brocha", a 10 de Janeiro de 1944 descrevia assim, no Diário de Notícias, o Pátio do Martel.
Aquele local, "em frente da Conceição da Glória, à entrada das Taipas", tinha sido destinado por José Trigueiros de Martel - "homem de iniciativa, vindo do estrangeiro com ideias largas" e que seria um dos fundadores do jornal O Século - para "refúgio e mansões de trabalho de pintores e escultores" - o que, nesta altura, era continuado pelos seus sobrinhos."»
  "Lembremo-nos, porém, que as pedras da alta escadaria foram calcadas, como as do famoso pátio, não só pelos pés dos pintores e escultores consagrados, mas pelos das celebridades que o visitaram e algumas das quais ali foram retratadas", sugeria.
"Vemos, assim, Antero de Quental a caminho do atelier de Columbano, que trabalhou o belo quadro onde a fisionomia do poeta mira a posteridade. No mesmo lugar se dedica hoje José Campas, professor e pintor de arte, às restaurações, já notáveis, de muitos quadros; no atelier da outra ponta, na carreira das casinhas limpas e modestas, fez Francisco Franco a estátua [equestre] do Restaurador [D. João IV, que está em Vila Viçosa] e tantas outras obras-primas [toda a gente as conhece, do D. Dinis, em Coimbra, ao Cristo-Rei, em Almada]."
Arrumando os parágrafos como se fossem um puzzle, para o leitor moderno melhor entender a rubrica denominada Lisboa de Ontem e de Hoje, acompanhamos a visita ao atelier, onde o articulista relembra "Columbano, que, entre aquelas quatro paredes, tão animadas de arte, trabalhou o seu quadro Camões e as Tágides [actualmente no Museu Grão Vasco, em Viseu], painéis dos tectos do Palácio Foz e os do Museu de Artilharia, além do retrato de Antero [Museu do Chiado, em Lisboa]".
"Junto do atelier do Mestre (...) existia outro não menos celebrado: o de D. Maria Augusta Bordalo Pinheiro, irmã do grande pintor e de Rafael Bordalo, dama digna do máximo culto na dinastia bordalenga", que "ensinava a sua arte portentosa: a das rendas (...)".
Naquele pátio Carlos Reis "executou o seu quadro As Engomadeiras, que está no Museu Nacional de Belas Artes [agora, no Museu do Chiado]". Também ali trabalharam José Malhoa, "o mais português dos pintores"; Jorge Colaço, "que ensaiou, num pequeno forno, hoje soterrado, o esmalte dos seus famosos azulejos"; a lista continua numa frase longa. Noutros parágrafos, mais artistas que por ali passaram, com vultos menores a antecederem Eduardo Viana e Francisco Franco, "o escultor que domina com a sua arte e agrada com a sua modéstia".
E, a certa altura do texto, menos preocupado com o ordenamento das informações do que com as impressões de quem escreve, Rocha Martins, inspirado pelo sítio, parece querer fazer uma aguarela com palavras.
"Quando ali habitou Columbano o panorama seria diferente, com mais quintais e jardins e menos prédios." No tempo desta visita, além das "casinhas e jardinetes, todos de alegria", "depara-se-nos surpreendente panorama. No ar translúcido das manhãs, na doçura côr de pérola de certos dias, nos poentes maravilhosos de Lisboa, a parte superior do pátio do Martel, com o próprio recinto, e miradouro de poucos conhecido"».


(Pátio do Martel)
















(Pátio do Martel, entrada pela Rua das Taipas)





Raúl Brandão, in Memórias, 1º volume, pp. 117, 118,
Edição da “Renascença Portuguesa”, Porto, 1919. 

«Pátio do Martel. Um cantinho com uma figueira e malvaíscos. Uma fiada de casas e no extremo o atelier de Columbano. Por trás a quinta. O mestre, pobre e obstinado, fez ali os seus melhores retractos.*** (…) Por ali passaram também os maiores homens de Portugal, de quem Columbano às vezes fala (…).
Um dia o Columbano ouviu bater à porta, e entrou-lhe no atelier um homem já cansado, de grossos sapatões, apegado a uma bengala, que parecia um bordão de pedinte:
- Disseram-me que gostava de fazer o meu retracto e aqui estou.
Era o Antero. Parecia um cavador, de meias grossas de lã azul – mas quando falava!... Nunca olhou para o retracto.
- Está pronto?
Foi-se embora como viera…»







«Antero de Quental», 1889. (73x53 cm)
Autor: Columbalo Bordalo Pinheiro 






«Engomadeiras», 1915
 Autor: Carlos Reis 






Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, Notas de Arte e Crítica,
Porto, Livraria Moreira – Editora, 1926, pp. 178-179.

COLUMBANO BORDALO PINHEIRO

«O PÁTIO do Martel – uma enfiada de casas brancas, repousando sossegadamente entre p jardim de S. Pedro de Alcântara em que ressonam brasileiros que tentam digerir, e a Avenida donde se levanta, como o marulhar monótono e cadenciado do mar, o ruído dum povo que imagina que vive.
É no pátio do Martel, sossegado como uma aldeia, que vive o maior pintor português deste século, enclausurado no seu atelier, rodeado das santas relíquias de família, realizando a maior ambição dum artista – a de fazer obras de arte pelo simples prazer de as executar.
Foi ali que o fomos visitar para vermos o começo da sua obra – a interpretação dos Lusíadas – e para estudarmos uma galeria que se nos afigurava curiosa como estudo de psicologia moderna – os retractos das nossas glórias – homens de sciência literatos, publicistas e artistas contemporâneos. (…)
O atelier conservava-se, como há muitos anos, cheio de objectos antigos, de curiosas porcelanas de Saxe, uma soberba colecção de desenhos de Vieira Lusitano, tapetes, sêdas, esboços e quadros por toda a parte.»




José Campelo Trigueiros Martel (1852-1888)

«Uma das personalidades ainda muito pouco conhecidas na História do Partido Republicano em Portugal.
Sabemos que pertenceu à geração de Teixeira de Queirós, Anselmo Xavier Augusto Rocha, enquanto estudante de Coimbra, nos finais dos anos 60 do século XIX, tendo frequentado o curso de Direito.
Foi um dos fundadores do jornal O Século em 1880, fazendo parte da sociedade que geria o periódico, juntamente com Sebastião de Magalhães Lima, Leão de Oliveira, Teixeira de Queirós e Anselmo Xavier. 
Diz, Homem Cristo, nas Notas da Minha Vida e do Meu Tempo, vol III, p. 7: "O melhor de todos era Trigueiros de Martel. De origem nobre, creio eu, em todo o caso de uma família da alta burguesia, esse homem era sinceramente democrata. Se não erro agora, formara-se em direito e havia sido condiscípulo de Anselmo Xavier e Magalhães Lima em Coimbra. Vivendo em Paris, ali casara com uma francesa muito bonita. Vi-a em Lisboa, em casa de Trigueiros de Martel, Rua D. Pedro V. A francesa que não casara com ele por amor, mas por interesse - fisicamente, Trigueiros de Martel era uma fraca figura - empandeirou-o em pouco tempo, regressando alegre a Paris com um bom pecúlio ..."
Colaborou na Galeria Republicana, revista mensal republicana, que se publicou em Lisboa Tendo a seguinte ficha técnica:
Editor e Proprietário: João José Batista / Director: Magalhães Lima / Colaboradores: Augusto Rocha, Alexandre da Conceição, Alves da Veiga, António Furtado, Anselmo Xavier, B. Machado, Costa Goodophim, Gomes Leal, G. Benevides, José J. Nunes, J.M. Latino Coelho, Reis Dâmaso, Rodrigues de Freitas, Silva Graça, Silva Lisboa, Teixeira Bastos, Teófilo Braga, Trigueiros de Marte / Fotografias de António Maria Serra.
Amigo e companheiro de viagens de Magalhães Lima acompanhou-o na visita a Espanha logo no início da década de 70 do século XIX.
Pertenceu ainda como membro dos primeiros Directórios do Partido Republicano.
Publicou: 
- A República em Portugal, Typ. Nacional,Lisboa,1886; - À Borda do Mar; - A Crise Francesa
A.A.B.M»[24].


Maria Madalena Valdez Trigueiros Martel (1884-1947)[25]

«Os Sete Demónios é um livro de contos subordinado à temática do Natal, com um título assaz curioso para um livro cheio de religiosidade e de adoração por essa celebração festiva. Editado em Lisboa, no ano de 1926, pela Emprêsa Literária Fluminense, encontra-se assinado por Maria Magdalena. Contudo, o nome da autora é muito parco para revelar a enorme escritora, ensaísta e poetisa que viveu muitos anos em Pombal, numa propriedade que a família possuía em Flandes. Referimo-nos a Maria Madalena Valdez Trigueiros de Martel Patrício, filha de João Campelo Trigueiros Martel e Maria Henriqueta Mascarenhas Godinho Valdez, nascida em Lisboa a 19 de Abril de 1884 e falecida em 1947.
Martel Patrício publicou em 1915 o seu primeiro volume de poemas, em francês, intitulado Le Livre du Passé Mort, que mereceu as mais elogiosas referências da crítica, seguindo-se outras obras de prosa, poesia e ensaio, tanto em língua francesa como portuguesa. Nas suas Memórias, Raul Brandão escreveu: “Madalena Trigueiros de Martel Patrício, pequenina, vivíssima compleição de artista, gostos aristocráticos, fazendo versos em francês e duma alegria comunicativa”.
Martel Patrício correspondia-se com Selma Lagerlöf, prémio Nobel da Literatura em 1909, com o Visconde Júlio de Castilho ou com Maria Amália Vaz de Carvalho, entre tantos outros notáveis da cultura portuguesa e internacional. Fez parte do Instituto de Coimbra, da Associação dos Arqueólogos Portugueses e pertenceu à Société des Gens de Lettres de France. Colaborou em várias revistas e jornais e manteve uma secção dedicada especialmente às mulheres e às crianças, no jornal O Comércio do Porto.
No livro, Os Sete Demónios, destaque para o conto Os pêssegos, escrito em Flandes, Pombal, em Outubro de 1926, onde a autora narra a história do padre António da Conceição, também conhecido por Beato António, a caminho do mosteiro de Santa Maria da Batalha onde iria dizer a missa de Natal. Curiosamente, a personagem, o Beato António, religioso da Congregação de S. João Evangelista, nasceu em Pombal a 12 de Maio de 1522 e morreu em Maio de 1602, tendo sido beatificado logo após a sua morte[26]
No seu livro autobiográfico Le Rosaire de la Vie: Les Fleurs d’Amandiers, Martel Patrício refere as célebres tigeladas de Pombal, tão apreciadas pelos soldados de Napoleão e que faziam as suas delícias[27], entre tantas outras referências e histórias sobre a vida social e cultural do seu tempo na então Vila de Pombal. Alguns dos seus livros estão disponíveis para consulta na Biblioteca Municipal de Pombal, no Fundo de Autores Locais.
Em 1934, Maria Madalena de Martel Patrício foi nomeada para o Prémio Nobel de Literatura, por António Pereira Forjaz e Bento Carqueja, membros da Academia Real das Sciencias de Lisboa, que, nesse ano, seria atribuído a Luigi Pirandello.»

Localização do Pátio do Martel.



Sobre a QUINTA DA FRANCELHA ver: 
   http://heraldicagenealogia.blogspot.pt/2013/12/casa-da-francelha-em-prior-o-velho.html

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Notas:

[1]    O jornal «O Século», na sua fase inicial, foi o maior baluarte da propaganda republicana, tendo criado o ambiente propício à implantação do regime republicano.
[2]  Apontamento necrológico do jornal «O Povo de Aveiro», nº 328, dirigido por Francisco Manuel Homem Christo, 27-V-1888, p. 3, col. 1.
[3]    Rocha Martins (1879-1952), «Diário de Notícias», a 10-Jan-1944.
[4]    João José Martins Pereira Goulão (n. 1758) era quinto avô do autor destas notas.
[5]    José Martins Pereira Goulão (n. 1725) e sua mulher Joana Bernarda do Rego Teles Carmona, tiveram: 1. João José, já mencionado; 2. Manuel Bernardo, cónego da Sé da Guarda; 3. Joana Doroteia de S. Paulo Goulão (1764-1814), casada com António Joaquim Pestana (1764-1846), sargento-mor das Ordenanças de Vila Velha de Ródão, proprietário c.g.; 4. Joaquim José, capitão-mor das Ordenanças de Castelo Branco, em cuja Câmara foi vereador em 1810, 1815, 1819 e 1824; 5. Domingos do Rego, religioso da Ordem de Santo Agostinho; 6. Leonardo António, cónego regular de Santo Agostinho.
[6]   IAN/TT, Cartório da Nobreza, Livro I, fl. 63 v. As armas dos PEREIRAS são: em campo vermelho, com uma cruz florenciada e vazia. Timbre: uma cruz de vermelho, florenciada e vazia, ladeada de asas de ouro estendidas. As armas dos REGOS são: em campo verde, com uma banda ondada e aguada de sua cor, carregada de três vieiras de ouro. Timbre: uma vieira do escudo, entre duas plumas de verde, picadas de ouro.          
[7]    O Solar dos Goulões, também conhecido por Solar Ulisses Pardal, devido a posteriormente ter pertencido a esta família, na sua configuração actual parece datar do início do séc. XVIII, mas, as suas caves, com possantes arcos de volta inteira, revelam uma edificação bastante anterior à construção existente. Inicialmente estava situado numa grande quinta com dependências para criados e cavalariças para animais, lagares, adegas, tulhas para cereais. Têm anexa uma capela fundada na primeira metade do século XVIII que já foi conhecida por diversos nomes: a saber, Capela de Nossa Senhora da Piedade, do Senhor das Chagas (devido a uma imagem religiosa que sangrou milagrosamente por diversas vezes em 1722), e actualmente por Capela de São Brás, cuja edificação se ficou a dever à iniciativa expressa em testamento por D. Manuel Sanches Goulão (1677-1719), 6.º bispo de Meliapor em 1717, que faleceu num naufrágio nas ilhas de Angoxa, deixando várias fazendas vinculadas para sustento da citada capela e de um Hospital anexo que ainda funcionou por alguns anos. Nesta capela foram baptizadas, casaram, e estão sepultadas, sucessivas gerações de Goulões nascidas a partir de 1733. Encimando a porta principal podemos ainda ver esculpida uma mitra alusiva ao bispo que a fundou D. Manuel Sanches Goulão, filho de primeiro matrimónio de José Martins Goulão (1649-1716), sargento-mor das Ordenanças de Castelo Branco, com D. Maria Gonçalves (f. 1679). Este solar está actualmente classificado como imóvel de interesse público.
[8]    No Processo de Justificação de Nobreza de seu filho aparece também com o nome completo de Jerónimo Trigueiros Martel Toscano Silva.
[9]    Este jazigo, actualmente ao abandono, ostenta a inscrição «Jazigo da Família Campelo Trigueiros Martel».
[10] Pertencia à família de José Lúcio Travassos Valdez (1787-1860), 1.º Conde de Bonfim, natural de Elvas, casado com sua prima D. Jerónima Emília Godinho Valdez (1790-1862), natural de Elvas. Brasão de armas: escudo esquartelado de ARAÚJOS, TRAVASSOS, GODINHOS e VALDEZ.
[11] O título foi-lhe renovado pela da Comissão de Renovação e Registo de Mercês de 1933.
[12] Este brasão, com uma coroa de conde, encontrava-se representado sobre um portão que fecha o arco de acesso às traseiras de um prédio onde se situava a sua moradia, sito na Rua D. Pedro V, n.º 56, em Lisboa. Este prédio foi edificado em 1877 numa pequena quinta que terá sido herança da família Campelo.
[14]  RAÚL JÚLIO EMPIS (1887-1960) era um dos nove filhos do financeiro e industrial Ernest Laurent Empis (1842-1913), natural de Antuérpia, Bélgica; e neto paterno de Charles Louis Empis (1796-1878), 1.º Conde de Vendim, natural de Hamburgo. Foi accionista e administrador do então Banco Burnay e, para sua morada, mandou erguer em Lisboa o Palcete Empis (Av. Duque de Loulé, n.º 77), galardoado com o 5.º Prémio Valmor em 1907, e demolido em 1954.
[15] D. LUISA BURNAY DE SOUSA COUTINHO (1891-1974) era um dos quatro filhos de D. José Luís de Sousa Coutinho Castelo-Branco e Menezes (1859-1930), 17.º Conde de Redondo, 14.º Conde de Vimioso (e representante dos títulos de Marquês de Borba, Marquês de Valença, Marquês e Conde de Aguiar, assim como de Conde de Soure), natural de Lisboa, casado com D. Eugénia Cecília Burnay (1860-1915), natural de Lisboa.
[16] LOURENÇO CYRNE DO CASAL RIBEIRO DE CARVALHO (1928-1977) era filho de José Tomás Burnay de Melo Breyner (1897-1981), e neto paterno de Tomás de Mello Breyner (1866-1933), 4.º Conde de Mafra, médico da Casa Real e deputado.
[17] Foi 1.º Marquês de Valença, o 4.º Conde de Ourém, D. Afonso de Bragança (1400-1460).
[18] Foi 1.º Marquês de Borba, o 13.º Conde do Redondo, Tomé de Xavier de Sousa Coutinho Castelo Branco e Meneses (1753-1813).
[19] Foi 1.º Conde do Redondo, D. Vasco de Meneses Coutinho (1450-1522).
[20] Foi 1.º Conde de Vimioso, D. Francisco de Portugal (1485-1549), e «de Juro e Herdade com Honras de Parente» a D. Luís de Portugal (cartas de 15-I-1644 e de 19-I-1645).
[21] Foi 1.º Conde de Soure, D. João da Costa (1610-1664).
[22] NUNO MARIA DE F. C. DA CÂMARA PEREIRA (n. 1951), é irmão de Maria da Conceição Pacheco da Câmara Pereira (n. 1949), c.c. Eduardo Bettencourt da Câmara; Maria Francisca (n. 1950), c.c. Jorge Alberto Matos de Sousa; Gonçalo Maria (n. 1952), c.c. Maria do Carmo Dotti Santos do Amaral; Vasco Maria (n. 1953), c.c. Maria Filomena Pimentel Pastorinho do Carmo; Luís Gonzaga (n. 1958), c.c. Ana Paula Fernandes Sampaio Mendes; e Sebastião Maria (n. 1962), c.c. Maria João Borges Coutinho de Lima Mayer.
[26] Cfr. Agostinho Gomes Tinoco, Dicionário de Autores de Leiria, Leiria, 1979, p. 129.
[27] Cfr. Maria Madalena de Martel Patrício, Le Rosaire de la Vie: Les Fleurs d’Amandiers, Sociedade Industrial de Tipografia, Lisboa, 1937-1938, p. 189.

Trigueiros / Teive (Torres Vedras, 1531)

   Morgados de Vale de Galegos
Senhores do Baião
(Torres Vedras, 1531)


TEIVE da Ilha da Graciosa
(Livro do Armeiro-Mor, f. 117)
TEIVE
(Livro do Armeiro-Mor, f. 126)




         Os TEIVES tomaram este apelido da Quinta de Teive, perto do Porto, da qual foi senhor VASCO PIRES DE TEIVE.
Este teve do seu casamento uma filha herdeira que foi D. Florença de Teive, casada com D. Ricarte, bastardo do rei João de Inglaterra, que veio a Portugal no reinado de D. Pedro I (1357-1367). Deste casal provêm os Teives que povoaram a Ilha da Madeira.
O brasão de armas dos TEIVES é: de prata, com nove arruelas de vermelho, postas 3, 3 e 3. Timbre: um leopardo de púrpura, armado de vermelho e carregado de uma arruela do mesmo na espátula, ou um leopardo de prata, carregado das arruelas do escudo.
Os Teives da Ilha da Graciosa trazem estas armas num escudo esquartelado da seguinte maneira: o 1.º e o 4.º de ouro, com seis arruelas de vermelho, postas 2, 2 e 2; o 2.º e o 3.º de prata, com três mosquetas de negro, alinhados em faixa. Timbre: um leopardo partido de ouro, e de arminhos. Os arminhos representam, presumivelmente, as armas dos Gusmões de Sevilha, cujos descendentes casaram com os Teives da Ilha da Madeira. 


Um ramo desta família, por linha feminina, provém de ANTÓNIO TRIGUEIROS (c. 1500).
          Vejamos:

2.       D. MELÍCIA DE GÓIS (c. 1583), filha de António Trigueiros (c. 1500), o primeiro da linhagem, e de sua
          mulher D. Joana de Góis (c. 1510). 
Casou «por gosto d’a Rainha D. Catarina», a quem serviu, com ANTÓNIO DE TEIVE (n. 1516)[1], natural da Ilha da Madeira e residente em Torres Vedras, que foi escudeiro e moço-fidalgo do rei D. João III, servindo na Índia onde participou nos cercos de Goa e Chaul (1570-71), assim como no de Mazagão (1563). Teve a mercê de vedor da fazenda da Índia (carta de 6-II-1567) pelos serviços prestados no reinado de D. João III[2]
Seu marido era 4.º filho de Diogo Vaz de Teive (c. 1470), vedor da rainha D. Catarina, e de sua mulher Catarina Rodrigues Cardoso (c. 1480); neto paterno de Diogo Vaz de Teive (c. 1440)[3] e de sua mulher Ana Machado (c. 1445); e neto materno de Guilherme Rodrigues Flamengo, casado na Ilha da Madeira com Grácia Dias Cardoso.
António de Teive instituiu um vínculo com os seus bens, tendo por cabeça a Quinta de Vale de Galegos com o seu respectivo palácio, junto a São Mamede da Ventosa, Torres Vedras. Partiu para o Oriente a 20-IV-1531, onde foi escrivão da feitoria de Goa. Em 1562, com seu filho João de Teive (f. 1622) ocorreu à defesa da Praça de Mazagão, pelo que recebeu a mercê «da capitania de uma nau para a Índia por três viagens»[4].
Tiveram[5]:
3.      JOÃO DE TEIVE (f. 1622), que segue abaixo.
3.     SEBASTIÃO DE TEIVE, pajem da princesa D. Joana em Madrid, e depois passou com seu pai à Índia onde esteve nos cercos de Goa e Chaul (1570-71), desaparecendo posteriormente no mar quando regressava ao Reino.
3.       Fr. BENTO DE TEIVE, frade Jerónimo em Belém.
3.    ANTÓNIO DE TEIVE, frade da Graça, grande teólogo e pregador, foi sucessivamente prior de Castelo Branco e de Vila Viçosa, assim como Visitador Geral na Índia, onde faleceu.
3.      D. MARIA DE TEIVE (c. 1550), casada com Fernão Martins de Sousa (c. 1550), natural de Lamego, 8.º Senhor de Baião, o qual disputou com seu primo João de Sousa Lima a Casa do Baião (c. 1522), que ganhou e foi confirmada por carta de Filipe II em 1594[6]. Tiveram geração.
3.    D. JOANA DE GÓIS (c. 1545), casada com MANUEL FURTADO DE MENDONÇA (c. 1540)[7], governador de Diu, irmão de André Furtado de Mendonça que foi governador da Índia. Seu marido era filho de Afonso Furtado de Mendonça[8], comendador de Serpa, e de D. Joana de Sousa Pereira; neto paterno de Jorge Furtado de Mendonça, comendador das estradas de Sines e da Represa, e de sua mulher D. Isabel da Cunha, filha do Alcaide-mor do Porto; e neto materno de André Pereira e de sua mulher D. Maria de Sousa. Sem geração.
3.       Fr. DIOGO DE TEIVE, cónego em Lisboa[9].
3.       Fr. VICENTE DE TEIVE (c. 1596), frade Jerónimo de Belém que reclamou ao rei D. Filipe I, junto da Corte de Madrid, acerca das necessidades que a sua Ordem passa «pelo pouco que tem para seu sustento»[10].
3.       ANTÓNIA DE TEIVE, freira de São Domingos de Santarém, onde foi prioresa.
3        INÊS DE TEIVE, freira da Anunciada em Montemor-o-Novo.
3.       ISABEL DE TEIVE, freira em Santa Clara de Évora.

3.     JOÃO DE TEIVE (f. 1622), natural de Lisboa, foi pajem da companhia da rainha D. Catarina, moço-fidalgo do rei D. Sebastião. Juntamente com seu pai foi em socorro da praça de Mazagão (1563), após o que partiu para a Índia a 25-III-1565 integrado na armada de Francisco de Sá. Era contador-mor do Reino cargo em que serviu durante trinta e seis anos, desde D. João III a D. Filipe I. Este último rei, em recompensa dos seus serviços, fez-lhe a serventia de provedor da Alfândega de Lisboa. Faleceu em 1622 e está sepultado no antigo Convento do Barro, junto a Torres Vedras, por baixo do altar de Santo António, onde havia uma pedra epigrafada que nos referia que ele «... serviu mais em diferentes jornadas da maior importância e em muitas ocasiões, e negócios de grande confiança aos reis D. João III, D. Sebastião, D. Henrique, D. Filipe I, II e III deste nome, sendo do concelho dos últimos»[11]. Por cima da citada inscrição estava o brasão de armas dos Teives da Madeira, o qual também figurava sobre o portão da sua Quinta do Vale de Galegos junto a São Mamede da Ventosa, Torres Vedras, na qual instituiu um morgado. Herdou ainda outro morgado instituído por seu tio Jerónimo da Cunha Coimbra, o qual reuniu dois vínculos no Bombarral que deixou a seus sobrinhos por ter falecido sem descendência[12]. Este vínculo veio mais tarde a passar para a posse dos senhores do Baião, pelo casamento de D. Antónia Teive com Fernão Martins de Sousa (c. 1594).
Casou com sua prima D. JOANA DE SOUSA (f. 1622), falecida em 1622 e sepultada junto a seu marido no citado Convento do Barro, filha de António de Coimbra da Cunha
Tiveram:
4.    ANTÓNIO DE TEIVE, casado já velho com D. ISABEL COUTINHO (c. 1652), filha de João de Viveiros. Sua mulher era já viúva em 1656. Faleceu sem geração, pelo que o morgado da Quinta de Vale de Galegos passou à posse do primo Cristóvão de Sousa Coutinho, filho de sua tia Maria de Teive.
4.       FRANCISCO DE SOUSA TEIVE, que foi à Índia onde morreu em batalha. Sem geração.
4.      JERÓNIMO DE TEIVE, que foi durante doze anos contador-mor por renúncia de seu pai. Teve uma comenda da Ordem de Cristo. Não casou, mas teve um filho que morreu de pouca idade.
4.      MANUEL DA CUNHA, que serviu muitas armadas, e foi durante sete anos Governador da Mina, cuja fortaleza edificou e onde fez muita guerra e tomou quatro navios Holandeses. Não casou nem teve geração e jaz enterrado no Convento do Carmo, junto à escada da porta principal.
4.       JOÃO DE TEIVE, cónego na Sé de Lisboa.
4.       MARGARIDA, freira em Santa Clara, Évora.
4.       CLARA, freira em Santa Clara, Évora.       


Anexo:


Teives
(povoadores da Madeira)

Autora: Catarina Garcia*

Diogo de Teive, escudeiro da Casa do Infante D. Henrique e filho de Lopo Afonso de Teive e de Leonor Ferreira, dirige-se no ano de 1452 para a ilha da Madeira para cumprir o contracto assumido com o Infante em Albufeira, a 5 de Dezembro de 1452, pelo qual se compromete a construir um engenho de água para a produção de açúcar e a entregar a terça parte da sua produção. Nesse mesmo ano de 1452, é atribuída a Diogo de Teive e João de Teive, seu filho do casamento com Leonor Gonçalves Vargas, a descoberta das ilhas das Flores (Flores e Corvo), as últimas a serem conhecidas no arquipélago dos Açores.
De acordo com Jacinto Monteiro, Diogo de Teive terá vindo comunicar de imediato a sua descoberta ao Infante, mas devido à natureza agreste das Flores e Corvo e à sua distância em relação às outras ilhas, terá preferido lançar-se no negócio mais rendoso de construir e explorar o engenho de água, em detrimento da difícil tarefa de exploração destas ilhas inóspitas. Assim, de acordo com este estudioso, Diogo de Teive, sem perder os seus direitos sobre as ilhas das Flores e Corvo, depois de 1452, terá preferido ficar na Madeira e dirigir o contracto feito com o Infante. Segundo Ernesto Gonçalves, Diogo de Teive terá sido eleito vereador da Câmara do Funchal em 22 de Junho de 1470, cargo esse que não terá chegado a desempenhar por ser capitão (sem dizer de qual terra) e em virtude da sua ausência, terá sido excluído do posto para que foi eleito.
A certeza quanto a uma data precisa no descobrimento das ilhas inicialmente chamadas de S. Tomás (Corvo) e Santa Iria (Flores) advém do facto de esta não ficar conhecida em nenhum documento régio que a certifique. Porém é possível delimitar a sua ocorrência através da consulta de outros documentos.»
No livro Le Histoire della Vita e dei Fatti di Cristóforo Colombo, Fernando Colombo, filho de Cristóvão Colombo, escreve que Diogo de Teive navegou 150 léguas para Ocidente do Faial, observando aves terrestres no regresso que o decidiram a seguir em sua direcção, descobrindo assim as duas mais ocidentais ilhas do arquipélago açoriano.
Zurara, em1449, na sua Crónica da Guiné, apenas refere a existência de sete ilhas no arquipélago dos Açores. Mais tarde, a 20 de Janeiro de 1453, numa carta de doação de D. Afonso V ao Duque de Bragança, seu tio, encontra-se pela primeira vez a referência à ilha do Corvo. Face à importância desta grande figura da nobreza parece um pouco estranho que lhe tenha sido doado o Corvo e não a ilha das Flores, considerando o insignificante tamanho desta ilha, a distância a que se encontrava do reino e tendo em conta que na Terceira ainda haviam terras por povoar.
Se por um lado o documento de 1453 doa as ilhas das Flores e Corvo ao Duque de Bragança, uma outra carta régia, de 24 de Janeiro de 1475, doa a Fernão Teles de Meneses estas ilhas ditas “foreiras”. Nesta última Diogo de Teive é reconhecido como o achador recente destas ilhas, que por sua morte tinham passado para João de Teive. Neste caso não terá sido Diogo de Teive a fazer valer os seus direitos de descobridor, mas sim seu filho João de Teive, que herda estas terras em 1475, supostamente 22 anos após a sua descoberta, sendo vendidas a Fernão Teles de Meneses, num contracto que celebra pertença e direitos deste último sobre as ilhas das Flores e do Corvo. João de Teive terá ainda recebido outras heranças, entre elas a Serra de Santiago, na ilha Terceira, em finais do século XV, e que terá sido motivo de disputas com Diogo Paim, conflito esse que é resolvido pelo próprio rei D. Manuel, acabando João de Teive por ser nomeado almoxarife régio na ilha de S. Miguel.

Investigadora do Centro de História de Além-Mar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, desde Janeiro de 2010.

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Notas:

[1]  SOUSA, Augusto Quirino de, «Torrienses na Expansão Quinhentista no Oriente», in. Turres Vedras II – 
     Actas de História Moderna, p. 172; GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Teives», § 4, N 4, Vol. IX, p. 545 (a tro-
     ca do apelido Trigueiros, por Figueiros e Figueiroa, é quase sistemática em F. Gaio); CARVALHO, Adão,
     Memórias de Torres Vedras, p. 91.
[2]  IAN/TT, Chancelaria de D. Sebastião, L. 18, fl. 352)
[3]  Diogo Vaz de Teive (c. 1440) era filho de Álvaro Gonçalves da Maia (f. 1449), e de sua mulher  Joana de Teive (c. 1420). Abandonou o apelido da Maia depois da morte de seu pai a 20-I-1449 na Batalha de Alfarrobeira, e da confiscação dos bens por parte do rei D. Afonso V.
[4]  IAN/TT, Chancelaria de D. Sebastião e D. Henrique, L. 9, fl. 350v.
[5]  GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Teives», § 4 e 5, N 4, Vol. IX, p. 545; e NORONHA, Henrique Henriques, Nobiliário da Ilha da Madeira, Tomo III, tít. Teyves, fol. 93 v
[6]  GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Sousas», § 588, N 23, Vol. X, pp. 667-668.
[7]  GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Mendonças Furtados», § 3, N 14, Vol. VII, p. 284.
[8]  Afonso Furtado de Mendonça teve os seguintes filhos: 1.º - Rodrigo Furtado casado em Cochim com D. Filipa de Melo, s.g.; 2.º - Manuel Furtado, já citado, 3.º - André Furtado, Governador de Malaca, e da Índia; 4.º - João Furtado de Mendonça serviu na Índia, foi governador de Angola e presidente do Senado de Lisboa; 5.º - D. Margarida de Sousa, casada em primeiras núpcias com António Perdigão de Góis, s.g., voltou a casar em segundas núpcias com Manuel Correia, senhor de Belas; 6.º - D. Margarida de Mendonça, c.c. Francisco de Melo, filho de Jorge de Melo, porteiro-mor; 7.º - António Furtado; 8.º - Jorge Furtado; 9.º - D. Francisco; 10.º - D. Mécia.   
[9]  Parece ser o mesmo que com o nome de Frei Diogo de Trigueiros (c. 1598), religioso Jerónimo, vigário do Convento de Belém, em 11-VII-1598 teve alvará de dez anos para imprimir as obras de Fr. Miguel de Valença, religioso da mesma Ordem (in. Brito Aranha, Documentos para a História da Tipografia Portuguesa nos séculos XVI e XVII, II, p. 58).
[10]  IAN/TT, Cópia da carta dos governadores do reino para D. Filipe I, Corpo Cronológico, Parte I, Mç. 113, n.º 56.
[11]  Adão de Carvalho, Memórias de Torres Vedras, p. 91.
[12] Jerónimo da Cunha e Coimbra tinha seu solar no Bombarral, datado do século XVI, o qual posteriormente ficou conhecido pelo «Palácio Gorjão», actual Museu Municipal do Bombarral. Por não ter tido descendência do seu casamento deixou o 1.º morgado «do Bombarral» a seu sobrinho Manuel da Cunha Coimbra, com obrigação de casar com D. Maria Henriques. O 2.º morgado «dos Cunhas Teives» ficou ao seu sobrinho João da Cunha Teive, sob condição de casar com sua prima, D. Joana de Sousa. – Cfr. RAMOS, Augusto José – Bombarral e o seu Concelho, p. 53.

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