Morgados de Vale de Galegos
Senhores do Baião
(Torres Vedras, 1531)
TEIVE da Ilha da Graciosa (Livro do Armeiro-Mor, f. 117) |
TEIVE (Livro do Armeiro-Mor, f. 126) |
Os TEIVES tomaram este apelido da Quinta de Teive, perto do Porto, da qual foi senhor VASCO PIRES DE TEIVE.
Este teve do seu casamento uma filha herdeira que foi D. Florença de Teive, casada com D. Ricarte, bastardo do rei João de Inglaterra, que veio a Portugal no reinado de D. Pedro I (1357-1367). Deste casal provêm os Teives que povoaram a Ilha da Madeira.
O brasão de armas dos TEIVES é: de prata, com nove
arruelas de vermelho, postas 3, 3 e 3. Timbre: um leopardo de púrpura, armado
de vermelho e carregado de uma arruela do mesmo na espátula, ou um leopardo de
prata, carregado das arruelas do escudo.
Os Teives da Ilha da Graciosa trazem estas armas num
escudo esquartelado da seguinte maneira: o 1.º e o 4.º de ouro, com seis
arruelas de vermelho, postas 2, 2 e 2; o 2.º e o 3.º de prata, com três
mosquetas de negro, alinhados em faixa. Timbre: um leopardo partido de ouro, e
de arminhos. Os arminhos representam, presumivelmente, as armas dos Gusmões de
Sevilha, cujos descendentes casaram com os Teives da Ilha da Madeira.
Um ramo desta família, por linha feminina, provém de ANTÓNIO TRIGUEIROS (c. 1500).
Vejamos:2. D. MELÍCIA DE GÓIS (c. 1583), filha de António Trigueiros (c. 1500), o primeiro da linhagem, e de sua
mulher D. Joana de Góis (c. 1510).
Casou «por gosto d’a Rainha D. Catarina», a
quem serviu, com ANTÓNIO DE TEIVE (n. 1516)[1], natural da Ilha da Madeira e residente em Torres
Vedras, que foi escudeiro e moço-fidalgo do rei D. João III, servindo na Índia onde participou nos cercos de Goa e Chaul (1570-71), assim como no
de Mazagão (1563). Teve a mercê de vedor da
fazenda da Índia (carta de 6-II-1567) pelos serviços prestados no reinado de D.
João III[2].
Seu marido era 4.º filho de Diogo Vaz de Teive (c. 1470), vedor da rainha D.
Catarina, e de sua mulher Catarina Rodrigues Cardoso (c. 1480); neto paterno de
Diogo Vaz de Teive (c. 1440)[3] e de sua mulher
Ana Machado (c. 1445); e neto materno de Guilherme Rodrigues Flamengo, casado
na Ilha da Madeira com Grácia Dias Cardoso.
António de Teive instituiu um vínculo com os seus bens, tendo por
cabeça a Quinta de Vale de Galegos com o seu respectivo palácio, junto a São Mamede da Ventosa, Torres Vedras. Partiu para
o Oriente a 20-IV-1531, onde foi escrivão da feitoria de Goa. Em 1562, com seu
filho João de Teive (f. 1622) ocorreu à defesa da Praça de Mazagão, pelo que
recebeu a mercê «da capitania de uma nau
para a Índia por três viagens»[4].
3. JOÃO DE
TEIVE (f. 1622), que segue abaixo.
3. SEBASTIÃO
DE TEIVE, pajem da princesa D. Joana em Madrid, e depois passou com seu pai à
Índia onde esteve nos cercos de Goa e Chaul (1570-71), desaparecendo
posteriormente no mar quando regressava ao Reino.
3. Fr.
BENTO DE TEIVE, frade Jerónimo em Belém.
3. ANTÓNIO
DE TEIVE, frade da Graça, grande teólogo e pregador, foi sucessivamente prior
de Castelo Branco e de Vila Viçosa, assim como Visitador Geral na Índia, onde
faleceu.
3. D. MARIA DE TEIVE (c. 1550), casada com Fernão Martins de Sousa (c. 1550), natural de Lamego, 8.º Senhor de
Baião, o qual
disputou com seu primo João de Sousa Lima a Casa do Baião (c. 1522), que ganhou
e foi confirmada por carta de Filipe II em 1594[6]. Tiveram geração.
3. D. JOANA
DE GÓIS (c. 1545), casada com MANUEL FURTADO DE MENDONÇA (c. 1540)[7], governador de Diu, irmão de André Furtado de
Mendonça que foi governador da Índia. Seu marido era filho de Afonso Furtado de
Mendonça[8], comendador de Serpa, e de D. Joana de Sousa Pereira;
neto paterno de Jorge Furtado de Mendonça, comendador das estradas de Sines e
da Represa, e de sua mulher D. Isabel da Cunha, filha do Alcaide-mor do Porto;
e neto materno de André Pereira e de sua mulher D. Maria de Sousa. Sem geração.
3. Fr.
VICENTE DE TEIVE (c. 1596), frade Jerónimo de Belém que reclamou ao rei D.
Filipe I, junto da Corte de Madrid, acerca das necessidades que a sua Ordem
passa «pelo pouco que tem para seu sustento»[10].
3. ANTÓNIA
DE TEIVE, freira de São Domingos de Santarém, onde foi prioresa.
3 INÊS DE
TEIVE, freira da Anunciada em Montemor-o-Novo.
3. ISABEL
DE TEIVE, freira em Santa Clara de Évora.
3. JOÃO DE
TEIVE (f. 1622), natural de Lisboa, foi pajem da companhia da rainha D.
Catarina, moço-fidalgo do rei D. Sebastião. Juntamente com seu pai foi em
socorro da praça de Mazagão (1563), após o que partiu para a Índia a
25-III-1565 integrado na armada de Francisco de Sá. Era contador-mor do Reino
cargo em que serviu durante trinta e seis anos, desde D. João III a D. Filipe
I. Este último rei, em recompensa dos seus serviços, fez-lhe a serventia de
provedor da Alfândega de Lisboa. Faleceu em 1622 e está sepultado no antigo
Convento do Barro, junto a Torres Vedras, por baixo do altar de Santo António,
onde havia uma pedra epigrafada que nos referia que ele «... serviu mais em diferentes jornadas da maior importância e em muitas
ocasiões, e negócios de grande confiança aos reis D. João III, D. Sebastião, D.
Henrique, D. Filipe I, II e III deste nome, sendo do concelho dos últimos»[11]. Por cima da citada inscrição estava o brasão de
armas dos Teives da Madeira, o qual também figurava sobre o portão da sua
Quinta do Vale de Galegos junto a São Mamede da Ventosa, Torres Vedras, na
qual instituiu um morgado. Herdou ainda outro morgado instituído por seu tio
Jerónimo da Cunha Coimbra, o qual reuniu dois vínculos no Bombarral que deixou
a seus sobrinhos por ter falecido sem descendência[12]. Este vínculo veio mais tarde a passar para a posse dos senhores do Baião,
pelo casamento de D. Antónia Teive com Fernão Martins de Sousa (c. 1594).
Casou com sua
prima D. JOANA DE SOUSA (f. 1622), falecida em 1622 e sepultada junto a seu
marido no citado Convento do Barro, filha de António de Coimbra da Cunha.
Tiveram:
4. ANTÓNIO
DE TEIVE, casado já velho com D. ISABEL COUTINHO (c. 1652), filha de João de
Viveiros. Sua mulher era já viúva em 1656. Faleceu sem geração, pelo que o
morgado da Quinta de Vale de Galegos passou à posse do primo Cristóvão de Sousa
Coutinho, filho de sua tia Maria de Teive.
4. FRANCISCO
DE SOUSA TEIVE, que foi à Índia onde morreu em batalha. Sem geração.
4. JERÓNIMO
DE TEIVE, que foi durante doze anos contador-mor por renúncia de seu pai. Teve
uma comenda da Ordem de Cristo. Não casou, mas teve um filho que morreu de
pouca idade.
4. MANUEL
DA CUNHA, que serviu muitas armadas, e foi durante sete anos Governador da
Mina, cuja fortaleza edificou e onde fez muita guerra e tomou quatro navios
Holandeses. Não casou nem teve geração e jaz enterrado no Convento do Carmo,
junto à escada da porta principal.
4. JOÃO DE
TEIVE, cónego na Sé de Lisboa.
4. MARGARIDA,
freira em Santa Clara, Évora.
4. CLARA,
freira em Santa Clara, Évora.
Anexo:
Teives
(povoadores da Madeira)
Autora: Catarina Garcia*
De acordo com Jacinto Monteiro, Diogo de
Teive terá vindo comunicar de imediato a sua descoberta ao Infante, mas devido
à natureza agreste das Flores e Corvo e à sua distância em relação às outras
ilhas, terá preferido lançar-se no negócio mais rendoso de construir e explorar
o engenho de água, em detrimento da difícil tarefa de exploração destas ilhas
inóspitas. Assim, de acordo com este estudioso, Diogo de Teive, sem perder os
seus direitos sobre as ilhas das Flores e Corvo, depois de 1452, terá preferido
ficar na Madeira e dirigir o contracto feito com o Infante. Segundo Ernesto
Gonçalves, Diogo de Teive terá sido eleito vereador da Câmara do Funchal em 22
de Junho de 1470, cargo esse que não terá chegado a desempenhar por ser capitão
(sem dizer de qual terra) e em virtude da sua ausência, terá sido excluído do
posto para que foi eleito.
A certeza quanto a uma data precisa no
descobrimento das ilhas inicialmente chamadas de S. Tomás (Corvo) e Santa Iria
(Flores) advém do facto de esta não ficar conhecida em nenhum documento régio
que a certifique. Porém é possível delimitar a sua ocorrência através da
consulta de outros documentos.»
No livro Le Histoire della Vita e
dei Fatti di Cristóforo Colombo, Fernando Colombo, filho de Cristóvão
Colombo, escreve que Diogo de Teive navegou 150 léguas para Ocidente do Faial,
observando aves terrestres no regresso que o decidiram a seguir em sua
direcção, descobrindo assim as duas mais ocidentais ilhas do arquipélago açoriano.
Zurara, em1449, na sua Crónica da
Guiné, apenas refere a existência de sete ilhas no arquipélago dos Açores.
Mais tarde, a 20 de Janeiro de 1453, numa carta de doação de D. Afonso V ao
Duque de Bragança, seu tio, encontra-se pela primeira vez a referência à ilha
do Corvo. Face à importância desta grande figura da nobreza parece um pouco
estranho que lhe tenha sido doado o Corvo e não a ilha das Flores, considerando
o insignificante tamanho desta ilha, a distância a que se encontrava do reino e
tendo em conta que na Terceira ainda haviam terras por povoar.
Se por um lado o documento de 1453 doa as
ilhas das Flores e Corvo ao Duque de Bragança, uma outra carta régia, de 24 de
Janeiro de 1475, doa a Fernão Teles de Meneses estas ilhas ditas
“foreiras”. Nesta última Diogo de Teive é reconhecido como o achador recente
destas ilhas, que por sua morte tinham passado para João de Teive. Neste caso
não terá sido Diogo de Teive a fazer valer os seus direitos de descobridor, mas
sim seu filho João de Teive, que herda estas terras em 1475, supostamente 22 anos
após a sua descoberta, sendo vendidas a Fernão Teles de Meneses, num contracto
que celebra pertença e direitos deste último sobre as ilhas das Flores e do
Corvo. João de Teive terá ainda recebido outras heranças, entre elas a Serra de
Santiago, na ilha Terceira, em finais do século XV, e que terá sido motivo de
disputas com Diogo Paim, conflito esse que é resolvido pelo próprio rei D.
Manuel, acabando João de Teive por ser nomeado almoxarife régio na ilha de S.
Miguel.
* Investigadora do Centro de História de Além-Mar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, desde Janeiro de 2010.
____________
Notas:
[1] SOUSA,
Augusto Quirino de, «Torrienses na Expansão Quinhentista no Oriente», in. Turres Vedras II –
Actas de História Moderna, p. 172; GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Teives», § 4, N 4, Vol. IX, p. 545 (a tro-
ca do apelido Trigueiros, por Figueiros e Figueiroa, é quase sistemática em F. Gaio); CARVALHO, Adão,
Memórias de Torres Vedras, p. 91.
Actas de História Moderna, p. 172; GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Teives», § 4, N 4, Vol. IX, p. 545 (a tro-
ca do apelido Trigueiros, por Figueiros e Figueiroa, é quase sistemática em F. Gaio); CARVALHO, Adão,
Memórias de Torres Vedras, p. 91.
[2] IAN/TT,
Chancelaria de D. Sebastião, L. 18,
fl. 352)
[3] Diogo
Vaz de Teive (c. 1440) era filho de Álvaro Gonçalves da Maia (f. 1449), e de
sua mulher Joana de Teive (c. 1420). Abandonou o apelido da Maia depois da
morte de seu pai a 20-I-1449 na Batalha de Alfarrobeira, e da confiscação dos
bens por parte do rei D. Afonso V.
[4] IAN/TT,
Chancelaria de D. Sebastião e D. Henrique, L. 9, fl. 350v.
[5] GAIO,
Felgueiras, Nobiliário, Tít.
«Teives», § 4 e 5, N 4, Vol. IX, p. 545; e NORONHA, Henrique Henriques, Nobiliário da Ilha da Madeira, Tomo III, tít. Teyves, fol. 93 v
[6] GAIO,
Felgueiras, Nobiliário, Tít.
«Sousas», § 588, N 23, Vol. X, pp. 667-668.
[7] GAIO,
Felgueiras, Nobiliário, Tít.
«Mendonças Furtados», § 3, N 14, Vol. VII, p. 284.
[8] Afonso
Furtado de Mendonça teve os seguintes filhos: 1.º - Rodrigo Furtado casado em
Cochim com D. Filipa de Melo, s.g.; 2.º - Manuel Furtado, já citado, 3.º -
André Furtado, Governador de Malaca, e da Índia; 4.º - João Furtado de Mendonça
serviu na Índia, foi governador de Angola e presidente do Senado de Lisboa; 5.º
- D. Margarida de Sousa, casada em primeiras núpcias com António Perdigão de
Góis, s.g., voltou a casar em segundas núpcias com Manuel Correia, senhor de
Belas; 6.º - D. Margarida de Mendonça, c.c. Francisco de Melo, filho de Jorge
de Melo, porteiro-mor; 7.º - António Furtado; 8.º - Jorge Furtado; 9.º - D.
Francisco; 10.º - D. Mécia.
[9] Parece
ser o mesmo que com o nome de Frei Diogo de Trigueiros (c. 1598), religioso
Jerónimo, vigário do Convento de Belém, em 11-VII-1598 teve alvará de dez anos
para imprimir as obras de Fr. Miguel de Valença, religioso da mesma Ordem (in.
Brito Aranha, Documentos para a História
da Tipografia Portuguesa nos séculos XVI e XVII, II, p. 58).
[10] IAN/TT, Cópia da carta dos governadores do reino
para D. Filipe I, Corpo Cronológico, Parte I, Mç. 113, n.º 56.
[11] Adão de
Carvalho, Memórias de Torres Vedras, p. 91.
[12] Jerónimo
da Cunha e Coimbra tinha seu solar no Bombarral, datado do século XVI, o qual
posteriormente ficou conhecido pelo «Palácio Gorjão», actual Museu Municipal do
Bombarral. Por não ter tido descendência do seu casamento deixou o 1.º morgado
«do Bombarral» a seu sobrinho Manuel da Cunha Coimbra, com obrigação de casar
com D. Maria Henriques. O 2.º morgado «dos Cunhas Teives» ficou ao seu sobrinho
João da Cunha Teive, sob condição de casar com sua prima, D. Joana de Sousa. –
Cfr. RAMOS, Augusto José – Bombarral e o
seu Concelho, p. 53.
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