(Lisboa, 1500)
Armas dos TRIGUEIROS (ANTT, Livro do Armeiro-Mor, 1509, fl. 130) |
Os TRIGUEIROS, segundo os nobiliários, são originários
da vila de Trigueiros no antigo Condado de Niebla, entre as cidades espanholas
de Huelva e Sevilha. Passou este apelido a Portugal na pessoa de António
Trigueiros (c. 1500), o qual veio no séquito da rainha D. Maria (1482-1517), segunda mulher do rei D. Manuel I.
Apesar de quase todos os tratados genealógicos
portugueses registarem esta versão da origem dos Trigueiros, vindos para Portugal em 1500, sabemos que alguns deles
já aqui estavam anteriormente à mencionada data. Temos conhecimento de um João
Rodrigues Trigueiros, escudeiro do infante D. Duarte (1391-1438), que militou
em Ceuta por volta de Fevereiro de 1425, onde se distinguiu na defesa desta
praça contra um violento ataque de mouros, o que lhe valeu ser citado por Gomes
Eanes de Azurara na sua Crónica do Conde
Dom Pedro de Meneses. Também conhecemos um Rui Dias Trigueiro(s)[1],
tabelião de Torres Vedras entre 1471 e 1485, o que revela a implantação desta
família – ou de famílias com o mesmo apelido –
naquela região, muito antes da chegada de António Trigueiros.
Segundo alguns tratadistas espanhóis, os Trigueiros – Trigueros, em Espanha – são oriundos do
reino de Leão, sem a menção de qual das várias províncias desse reino eles
procedem. Isto leva-nos a supor que também poderiam ter tido origem num dos
contíguos municípios de Quintanilla de Trigueiros ou de Trigueros del Valle, na
província de Valladolid. Destas terras poderão ter tirado este apelido que se
propagou inicialmente por toda a Península Ibérica, após o que passou à América
Latina.
Uma das casas principais do ramo espanhol desta
família radicou-se na Villa da Lillo, província de Toledo. Desta casa
destacou-se D. Isabel de Trigueros, casada com Cristóbal Serrano de Vargas, do
qual teve D. Maria Trigueros, por sua vez casada com Juan Pérez de Salazar.
Este último casal teve Andrés Pérez de Trigueros y Serrano de Vargas (n.
1600?), nascido em Lilo, Toledo, corregedor de Zamora, General de Artilharia,
Mestre de Campo e Cavaleiro da Ordem de Santiago (11-I-1650), comandante do
Tércio de Guarnição de Zamora (1648-1652), nomeado para Governador da Praça
Militar de Jaca (1654-1659).
Armas dos TRIGUEIROS (ANTT, Livro da Nobreza, 1521-1541, f. 36v) |
A sua dispersão territorial em Portugal centrou-se,
principalmente, nos concelhos de Lisboa, Mafra, Torres Vedras, Coimbra, Leiria,
Sousel, Portalegre, Castelo Branco e Beja, passando à Índia e posteriormente a
África, onde um deles deixou em São Tomé e Príncipe numerosa prole cuja
descendência se espalhou por grande parte das colónias portuguesas. Por
casamentos, durante os séculos XVI e XVII, ligam-se a outras famílias de origem
espanhola como era o caso dos Caldeirões e dos Henriques.
Os TRIGUEIROS usam um brasão de armas esquarteladas da
seguinte forma: o 1.º e o 4.º de verde com cinco espigas de trigo em ouro
desfolhadas e postas em sautor; o 2.º e o 3.º de vermelho com uma faixa de
prata, como as armas da Casa de Áustria; por timbre tem um trigueirão de sua
cor com uma das espigas do escudo no bico.
Conhecem-se alguns locais que a toponímia consagrou a
esta família. Assim temos, na encosta do Castelo de Lisboa o Largo dos
Trigueiros, na Amadora o Alto dos Trigueiros, em Almada, e a Rua Trigueiros
Martel em Sacavém, locais estes onde alguns deles habitaram. Na vila de
Fronteira há uma rua com o mesmo nome assim como uma propriedade rural denominada "Cercado dos Trigueiros", as quais, caso não sejam anteriores a 1500,
poderão ter tido origem num ramo desta família que se fixou na próxima Vila do
Cano, actual concelho de Sousel. Sabemos ter havido uma rua dos Trigueiros em
Torres Vedras, entretanto desaparecida, onde viveram os descendentes de António
Trigueiros.
♦
Rei D. Manuel I (1469-1521) |
1. ANTÓNIO
TRIGUEIROS (c. 1500), segundo algumas fontes, foi um fidalgo castelhano que passou a Portugal em Outubro de
1500 no séquito da infanta D. Maria (1482-1517), filha dos Reis Católicos,
segunda mulher do rei D. Manuel I (1469-1521) [2].
Terá falecido
antes de 30-VI-1545, data em que sua mulher, já viúva, institui a «Capela de António Trigueiros e Joana de
Góis, e seus herdeiros» na Colegiada de São Pedro de Torres Vedras,
provavelmente destinada a sepultura perpétua, à qual vinculou bens que tinha em
Aldeia Galega, Maxial e na contígua freguesia de Lobagueira. Esta escritura foi
feita na casa de seu filho João Trigueiros, em Torres Vedras, por Simão Vaz
tabelião da Infanta D. Maria na dita vila [3].
Dele
ficaram-nos alguns vestígios documentais nos livros de chancelaria dos reis que
serviu.
Foi escrivão de cozinha e moço-de-câmara dos reis D. Manuel I e D. João III[4], com
vencimento de 30.000 reais por ano[5].
Também serviu a mulher deste último rei, a rainha D. Catarina, irmã de D.
Leonor, terceira mulher do rei D. Manuel I.
D. Catarina
ordenou a 3-III-1530 ao seu tesoureiro Diogo Salema que entregasse a António
Trigueiros 240 mil réis que este emprestou a Sua Alteza[6].
António Trigueiros (1530), assinatura. |
D. Manuel –
ou o seu sucessor – concedeu-lhe, assim como aos seus filhos o foro de fidalgo
da Casa Real e brasão de armas de TRIGUEIROS, do qual não se conhece a data e o
documento da concessão. Recebeu, juntamente com os seus filhos, grande protecção dos monarcas a quem serviu[9].
Estabeleceu-se
em Torres Vedras e aí viveu os últimos anos da sua vida,
provavelmente por ser amigo de D. João de Alarcão[10],
o qual por casamento foi alcaide-mor desta vila e também veio para Portugal no
séquito de D. Maria, acompanhando sua mãe D. Elvira Mendonça que foi camareira
da dita rainha.
Torres Vedras. |
Casou com D. JOANA DE GÓIS (c. 1510) cuja progenitura
desconhecemos[11], a qual já era viúva a 30-VI-1545 quando institui a já anteriormente citada «Capela de António
Trigueiros e Joana de Góis, e seus herdeiros»
na Colegiada de São Pedro de Torres Vedra. A
25-V-1546 era moradora no Rossio, em Lisboa, quando faz a renúncia ao prazo do Casal do Infesto (Quinta do Infesto)
junto ao Turcifal a favor de sua filha Melícia de Góis que foi casada com
António de Teives[12].
Sobreviveu
ao seu marido numa longa viuvez, pois sabemos ter sido madrinha de um baptizado em 7-X-1566 e testemunha de um
casamento em 15-II-1575, ambos realizados na Sé de Lisboa.
Tiveram:
2. JOÃO
TRIGUEIROS (c. 1580), que segue abaixo.
2. VICENTE
TRIGUEIROS (f. 1602), natural de Lisboa e falecido a 27-V-1602 na freguesia de
São Pedro, em Torres Vedras, vila onde viveu e na qual já tinha casa em 1565.
Moço da câmara da Casa Real em 1554 com 604 réis de moradia por mês[13],
parte para a Índia a 2-IV-1554 numa armada capitaneada pelo vice-rei D. Pedro
de Mascarenhas. Torna a partir a 18-III-1567, capitaneando o galeão São
Rafael, integrado numa armada de que era capitão-mor João da Gomes da
Silva, e levando consigo António Trigueiros (c. 1567)[14].
Os outros capitães eram Pêro Leitão, e Lourenço da Veiga.
Torres Vedras, Igreja de São Pedro. |
Em retribuição dos seus serviços foi feito cavaleiro-fidalgo e num alvará
de 11-III-1578, registado na chancelaria de D. Sebastião, é-lhe confirmada a
mercê que a Rainha sua avó havia feito de uma tença de 50.000 réis anuais, em
reconhecimento dos serviços prestados, os quais cobrava na Alfândega de Lisboa[16].
Foi nomeado procurador por Torres Vedras às Cortes de Tomar, nas quais
Filipe II é aclamado rei de Portugal[17].
Casou com D.
CATARINA DO COUTO (c. 1602), da qual não teve geração pelo que instituiu por
suas universais herdeiras as primas D. Ana de Abreu[18] e D. Maria Cerveira, irmãs do Dr. Gaspar
Lamego, filhas de Belchior Lamego e de sua mulher D. Leonor Abreu, como consta
no seu testamento lançado a 3-VI-1602 nas notas de João Leitão Trigueiros,
tabelião de Torres Vedras.
2. DIOGO
TRIGUEIROS, moço de câmara, do qual desconhecemos com quem casou.
Filho:
3. RUI DIAS TRIGUEIROS (f. 1614), moço de câmara de sua
Majestade e cavaleiro-fidalgo, senhor da quinta de Macheia, em Matacães, concelho de Torres Vedras [19]. Foi da
governança de Torres Vedras, vila onde serviu de juiz (1575) e onde faleceu a
20-VI-1614, sendo sepultado na igreja de N.ª Sr.ª da Oliveira, da freguesia de
Matacães.
Casou com sua parenta D. FLORENÇA DO REGO (f. 1614)[20], falecida
pouco depois do seu marido a 12-VIII-1614.
Sua mulher era filha de Antão do Rego (f. 1570), moço de câmara que passou ao Oriente por duas vezes
(1538, 1543,) servindo com armas e cavalos à sua custa em Azamor, Mazagão e
Safim, e por duas vezes esteve cativo, vindo a fixar-se em Torres
Vedras por volta de 1550, onde o mesmo casou com D. Margarida Varela.
D. Florença era neta materna de Álvaro da Ponte (c. 1530)[21], morador na sua quinta da Ponte do Rol, cuja igreja de Nossa Sr.ª da Conceição fundou (1530), cavaleiro da Casa Real de D. Afonso V, e de sua mulher D. Margarida Varela Carvalhosa, a qual por sua vez era filha de Fernão Varela (c. 1451)[22], escudeiro do infante D. Pedro, casado com D. Maria Gomes de Carvalhosa.
D. Florença era neta materna de Álvaro da Ponte (c. 1530)[21], morador na sua quinta da Ponte do Rol, cuja igreja de Nossa Sr.ª da Conceição fundou (1530), cavaleiro da Casa Real de D. Afonso V, e de sua mulher D. Margarida Varela Carvalhosa, a qual por sua vez era filha de Fernão Varela (c. 1451)[22], escudeiro do infante D. Pedro, casado com D. Maria Gomes de Carvalhosa.
Antão do Rego já estava
casado em
28-VIII-1537, quando lhe é aforada pelos frades de Alcobaça a quinta de Vale
Mendares[23], em Torres
Vedras, a pedido do seu sogro Álvaro da Ponte que era o primeiro detentor deste
foro por três vidas, e veio a falecer em 1570 tendo sido sepultado na capela fundada por seu sogro.
Do casamento de Rui Dias Trigueiros com D. Florença houve vários filhos, dos quais
conhecemos:
4. ANTÃO DO REGO[24], ao qual sua mãe, por sua morte, legou a terça em dinheiro e propri-
edades no valor 147.000 réis[25]. Foi moço de câmara, senhor da quinta de Freiria, termo
de Torres Vedas.
4. ANTÃO DO REGO[24], ao qual sua mãe, por sua morte, legou a terça em dinheiro e propri-
edades no valor 147.000 réis[25]. Foi moço de câmara, senhor da quinta de Freiria, termo
de Torres Vedas.
Casou com D. CATARINA CALDEIRA DA ROCHA, filha de Bernardim da Rocha, cavaleiro-
-fidalgo da Casa Real e escrivão da almotaçaria de Torres Vedras.
4. LOPO TRIGUEIROS DA ROCHA (c.
1604), cavaleiro-fidalgo, natural de Lisboa, morador na sua quinta da Macheia
(1604), junto a de Matacães, concelho de Torres Vedras.
Casou a 1-XII-1601 na Igreja de São Pedro de Torres Vedras com D. ANTÓNIA DE ABREU,
filha de João Lopes, trinchante das Domas da Rainha D. Catarina que foi avó do rei D. Se-
bastião, e juiz das julgadas de Torres Vedras.
Casou a 1-XII-1601 na Igreja de São Pedro de Torres Vedras com D. ANTÓNIA DE ABREU,
filha de João Lopes, trinchante das Domas da Rainha D. Catarina que foi avó do rei D. Se-
bastião, e juiz das julgadas de Torres Vedras.
2. D. LUÍSA DE
GÓIS TRIGUEIROS (c. 1560), casada com FRANCISCO DAS PÓVOAS (f. 1581), provedor da Alfândega.
2. MELÍCIA DE
GÓIS (c. 1583)[26],
casada com ANTÓNIO DE TEIVE (c. 1531).
2. (?) SIMÃO
TRIGUEIROS, que serviu na Índia, cuja filiação presumimos.
2. (?) MANUEL
TRIGUEIROS, moço-de-câmara da Casa Real[27],
cuja filiação presumimos.
2. JOÃO
TRIGUEIROS (c. 1580), natural de Torres Vedras, cavaleiro professo da Ordem de
Cristo[28], ao
qual foi passado carta de escrivão dos Contos e Almoxarifados da Beira no
reinado de D. Manuel I[29].
Serviu muitos anos na Índia onde foi nomeado juiz da Alfândega de Goa por três
anos[30].
Terá sido ele que ainda jovem foi para a Índia, ao serviço do D. Luís de Ataíde
(1517-1580), que aí viria a ser vice-rei (1578-1581), e onde numa pequena
operação naval bem-sucedida contra os mouros no porto de Dabul quase ia
perdendo a vida ao receber nove feridas na tentativa vã de defender D. Fernando
de Vasconcelos, quando este traiçoeiramente foi cercado de mouros que o
acabariam por matar[31].
Capitaneou, sucessivamente, as naus São
Francisco (1583-1584), São Filipe
(1586-1587) e São Cristóvão
(1591-1593).
Em Maio de 1588 acha-se no galeão São Bernardo
ao comando de uma companhia de 190 homens, com os quais integra malograda
expedição da Armada Invencível que se dirige a Inglaterra[32].
Foi casado com D. BRITES DIAS CALDEIRA, filha
bastarda de Manuel Caldeirão (f. 1593)[33], o qual desenvolveu uma intensa actividade mercantil e financeira no
domínio do comércio de escravos, e foi tesoureiro-mor dos almoxarifados do
Reino, feitor de D. João III, cavaleiro da Ordem de Cristo (1565), fidalgo da
Casa Real (1589), «cujo foro lhe
deu o Rey Felipe segundo por elle se obrigar a por correntes todos os annos
cinco naos p.ª a india dando-lhe 40 mil cruzados … e 16 m. cada anno»,
e foi morgado da Caldeira[34], vínculo que instituiu em 1592 com algumas casas nobres que possuía na Rua
da Caldeira, na freguesia de Santa Catarina, em Lisboa[35].
3. MIGUEL TRIGUEIROS (c. 1617)[37], mamposteiro-mor da Rendição dos Cativos da Ilha de
São Miguel, Açores, por carta de 20-VI-1657[38]. Casou a 12-IV-1617 na Matriz de Ponta Delgada com D. CLARA GONDIM DA
SILVEIRA, de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores, filha de Domingos de
Aguiar, cavaleiro-fidalgo, e de D. Isabel Gondim da Cunha[39].
3. D. MARIA TRIGUEIROS (c. 1636), casada com seu
primo TRISTÃO VAZ DA VEIGA CABRAL (c. 1525).
3. D. ANTÓNIA TRIGUEIROS (c. 1640).
♦
Por Frei Diogo das Chagas (1584-c. 1661), sabemos da existência da família Trigueiros na Ilha das Flores, nos Açores, durante o século XVI.
Muito provavelmente, como indiciam as relações de parentesco, descendiam dos primeiros Trigueiros de Torres Vedras, pois também andavam ligados aos Furtado de Mendonça e aos Mendes de Vasconcelos.
Muito provavelmente, como indiciam as relações de parentesco, descendiam dos primeiros Trigueiros de Torres Vedras, pois também andavam ligados aos Furtado de Mendonça e aos Mendes de Vasconcelos.
O primeiro deles foi:
1. BRÁS TRIGUEIROS, “natural do reino”, que no dizer de Frei
Diogo das Chagas foi “homem muito principal”. Casou com D. FRANCISCA MENDES DE VASCONCELOS, natural da Praia,
Ilha Terceira, nos Açores, filha de Ascêncio Mendes de Vasconcelos[40].
Tiveram:
2. PEDRO TRIGUEIROS VASCONCELOS,
capitão, casado com APOLÓNIA FURTADO DE MENDONÇA, filha de Tomé Furtado de
Mendonça e de D. Branca Gomes.
Notas:
[1] RODRIGUES, Ana Maria Seabra de Almeida, Torres Vedras a Vila e o Termo, p. 603.
[2] D. Manuel I (1469-1521)
fez três casamentos: o 1.º em 1497 com D. Isabel de Castela (f. 1498), que
morreu de parto; o 2.º em 1500 com D. Maria de Castela (f. 1517), irmã da sua
primeira mulher, que o monarca foi esperar à vila de Alcácer do Sal, onde esta
princesa entrou a 30-X-1500, tendo falecido com 35 anos de idade; e o 3.º em
1518 com D. Leonor de Espanha (f. 1521), filha de Filipe I de Castela, e da
rainha D. Joana, sua cunhada. Do 2.º casamento teve nove filhos, dos quais
foram reis D. João III, o cardeal D. Henrique, e a imperatriz D. Isabel que
casou em 1526 com Carlos V.
[3] ANTT, Colegiada de São Pedro de Torres Vedras, L. 16 (Livro de Cópias das Verbas de Missas feito em 1836), f. 32.
[4] Era escrivão de cozinha de D. Manuel I
(in ANTT, Moradias da Casa Real, Mç
2, Liv. 1, p. 12 v.) e moço-de-câmara de D. João III (Ibid., Mç 4, L. 4, p.
208).
[5] O rei D. Afonso V (1438-1481) determinou
que os fidalgos ao seu serviço fossem inscritos como moradores do Paço recebendo várias moradias, quantias anualmente pagas consoante os serviços prestados
e o seu estatuto. Desta disposição resultou a classificação dos fidalgos em
duas ordens, cada uma com três graus: 1.ª Ordem: moço fidalgo, fidalgo
escudeiro e fidalgo cavaleiro; 2.ª Ordem: moço-de-câmara, escudeiro-fidalgo e
cavaleiro-fidalgo. Posteriormente, todas estas categorias foram reduzidas a
duas: a de moço fidalgo e a de fidalgo cavaleiro. Cada morador do Paço podia
transitar de uma categoria para outra mais elevada, cabendo a cada uma
diferentes moradias.
[6] ANTT,
Corpo Cronológico, Parte I, Mç 44,
n.º 96.
[7] ANTT, Chancelaria
de D. João III, Liv. 16, fl. 32; e Moradias da Casa Real. Mç 2, L. 1, f.
12v. –
No qual aparece a assinatura do citado António Trigueiros.
[8] Houve
vários António Trigueiros nesta família, sem indicação de filiação, o que
poderá levar haver alguns lapsos involuntários na cronologia e nas funções
atribuídas a estes.
[9] No
testamento feito por D. Maria em 1516, foi contemplado com 180.000 reais,
segundo referem vários genealogistas, facto este que não foi possível confirmar
numa transcrição do citado documento. Quem nele é contemplado com a citada
quantia é «Siqueira Escrivam da Cozinha», o qual, segundo conseguimos apurar, é
António de Sequeira que foi escudeiro (ANTT, Moradias da Casa Real, Mç 1, L. 5, p. 2), e moço fidalgo (Op. Cit,
Mç 1, L. 7, p. 160. – Cfr. SOUSA, D. António Caetano de, História Genealógica - Provas, t. II, parte I, pp. 512-522.
[10] D. João de Alarcão, caçador-mor de D. João
III (1522) e alcaide-mor de Torres Vedras, era filho de Martim de Alarcão, o
qual se distinguiu no serviço que prestou aos Reis Católicos nas guerras contra
os mouros. Casou, em primeiras núpcias, com D. Margarida Soares, filha herdeira
de Gomes Soares de Alvarenga, alcaide-mor de Torres Vedras. As suas segundas
núpcias foram com D. Maria Vilhena, filha de D. Lopo de Almeida, Conde de
Abrantes. De ambos os casamentos tem numerosa descendência. Foi sepultado no
Mosteiro de S. Francisco do Varatojo com o seguinte epitáfio: «Passado o trabalho da vida, dorme aqui sono
/ perpetuo o Ill.mo D. João de Alarcão Castelhano / de nassão da casa de
Valverde, e duques do Infantado».
Os seus sucessores, na Restauração de 1640, seguiram o partido de Castela e
abandonaram Portugal.
[11] De Joana de Góis (c. 1510) desconhecemos a
progenitura mas, hipoteticamente, poderá ser parente de um Pedro de Góis (c.
1513), morador em Óbidos, filho de Álvaro Gonçalves e de Leonor de Góis, irmão
de Nuno de Góis, alcaide-mor de Alenquer, que por carta de D. Manuel datada de
1513 teve brasão de armas. – Cfr. Visconde Sanches de Baena, Archivo
Heraldico-Genealogico, V. I, p.545.
[13] ANTT, Moradias
da Casa Real, L. 5, Mç 2, fls. 48 v.
[14] Este
António Trigueiros (c. 1567) terá sido filho de Pedro Trigueiros e da Brite
Vaz. Cfr. SOUSA, Augusto Quirino de, «Torrienses na Expansão Quinhentista no
Oriente», in. Turres Veteras II – Actas
de História Moderna, p. 167-168.
[15] António das Póvoas (c. 1546) teve de D.
Leonor de Azevedo, sua terceira mulher, outro António das Póvoas, fidalgo da
Casa Real (1551), desembargador da Casa da Suplicação, juiz da Coroa no
Conselho da Fazenda, e provedor da Alfândega de Lisboa. Casou em Midões com D.
Luísa de Miranda, da qual teve geração que viveu na Quinta do Paço do Lumiar
junto a Lisboa; e no Brasil, teve de D. Brites Soares, D. Luísa das Povoas que
foi casada com o desembargador António da Fonseca de Brito Coutinho, dos quais
descende Álvaro Xavier da Fonseca Coutinho Póvoas (1773-1852),o «General
Póvoas», natural da Guarda, e um
dos famosos estrategas miguelistas.
[16] ANTT,
Chancelaria de D. Sebastião e D. Henrique, L. 2, fls. 20v e 21.
[17] A
eleição dos procuradores às Cortes recaía nas «pessoas principais das terras,
tanto em qualidade como em riqueza», constata-se que, mesmo nos eleitos pelo
«3.º Estado» vemos «pessoas não só da principal Nobreza das Terras, mas
principalíssimos do Reyno». – Cfr. Visconde de Santarém, História e Teoria das Cortes Gerais, 1924, p. 9.
[18] Nesta família houve outras Ana de Abreu, o
que causa muitas dificuldades nesta investigação. Talvez esta seja a que casou a 10-XII-1631 na Igreja de São
Pedro de Torres Vedras com João Botado de Almeida (c. 1623), capitão de
Infantaria e procurador do concelho de Torres Vedras, a qual era neta de D. INÊS TRIGUEIROS (f. 1618).
[19] REGO, João de Figueiroa — As Nobrezas secundogénitas…, pp. 88-93.
Há outros homónimos, ou este Rui Dias Trigueiros terá casado mais de uma vez.
[20] D. Florença do Rego (f. 1614) era irmã de D.
Bebiana do Rego casada a 31-VII-1574 com Lopo Gorjão (c. 1589), o qual levou
como dote a quinta da Farroupeira, no limite do Turcifal. Deste casamento
nasceu o filho Francisco do Rego Gorjão (f. 1641), capitão de ordenanças da vila
de Torres vedras, casado com sua prima D. Brites Vaz Trigueiros (f. 1631), que
vai mais adiante.
[21] Era irmão de Manuel da Ponte (c. 1542), moço
de câmara da Casa Real, feito cavaleiro por D. Rodrigo de Castro pelos serviços
prestados em Safim e Azamor, confirmado por alvará de D. João III de 3-V-1542.
Foi escrivão da alfândega de Diu por três anos, e carta de 9-I-1544. Fixou-se
em Torres Vedras por volta de 1550. Em 1570 recebeu sepultura na capela-mor da
igreja de Ponte de Rol, sabendo-se que em 1579 ainda estava vivo.
[22] Fernão Varela (c. 1451) foi acusado em 1451
da morte de um tal Antão Vaz, pelo que andou homiziado até obter o perdão por
carta régia de 27-VIII-1456, com a condição de servir em Ceuta durante três anos
(AN/TT, Chancelaria de D. Afonso V, L. 13, fl. 21.
[23] Mendares é uma corruptela de Mendo Aires.
[24] Antão
ou António, como também aparece mencionado.
[25] ANTT, Notariais de Torres Vedras, Cartório de
João Leitão Trigueiros, Livro de Notas de 15-XII-1614 a 28-VIII-1615,
[26] SOUSA,
Augusto Quirino de, «Torrienses na Expansão Quinhentista no Oriente», in. Turres Veteras II – Actas de História
Moderna, p. 172.
[27] ANTT,
Moradias da Casa Real, mç. 5, Liv. 1,
p. 14.
[28] VENTURA,
Maria da Graça A. Mateus, Negreiros Portugueses nas Rotas das Índias da
Castela (1541-1556), «Testamento de Manuel Caldeira», p. 147.
[29] ANTT,
Chancelaria de D. Manuel, L. 3, p. 6.
– Devido à repetida existência de indivíduos homónimos nesta família, temos
algumas dúvidas sobre alguns dados biográficos aqui fornecidos, para os quais desde
já alertamos o leitor.
[30] ANTT,
Chancelaria de Filipe I, L. 12, f.
129v.
[31] PEREIRA, António Pinto (?-1587) - «Historia da India, no tempo em que a
governou o Visorey Dom Luis D'Ataide», Liv. 2.º, pp. 46v-47.
[32] SALGADO,
Augusto; e VAZ, João Pedro, Invencível
Armada – A Participação Portuguesa, p. 51, 54.
[33] Os CALDEIRÕES, ou CALDEIRAS, como alguns
dos seu descendentes também usaram este apelido, entraram em Portugal no tempo
do rei D. Manuel I. Um dos mais antigos que se conhece é Manuel Caldeirão, fidalgo
da Casa Real, filho de André Álvares Caldeirão e de sua mulher e prima Brites
Caldeirão, ambos naturais das Astúrias e residentes em Setúbal. Manuel
Caldeirão e sua mulher D. Guiomar Caldeirão tiveram quinze filhos: 1.º -
Francisco Caldeirão (c. 1550), sucessor da Casa de seu pai, fidalgo da Casa
Real, lente de Direito na Faculdade de Salamanca e de Coimbra, desembargador
dos Agravos, c.c. D. Leonor Manuel de Noronha, sua prima, da qual teve numerosa
descendência; 2.º - André Caldeirão (c. 1540), fidalgo da Casa Real e
comendador de S. Fagundo, que ficou cativo em África com D. Sebastião e se
resgatou à sua custa, c.c. D. Catarina da Silva (c. 1540), filha de Lopo
Furtado Mendonça (c. 1500), comendador de Loulé, e de sua mulher D. Luísa da
Silva (c. 1500), s.g.; 3.º - Rodrigo Caldeirão, c.c. D. Catarina de Noronha, filha de D. João de Noronha, s.g; 4.º
- Paulo Caldeirão, c.c. D. Ana de Noronha, filha de D. João de Noronha (c.
1490) e de D. Maria de Gouveia, c.g.; 5.º - João Caldeirão (c. 1520), c.c. D. Catarina Corte-Real, s.g.; 6.º -
Duarte Caldeirão, capitão em Angola, s.g.; 7.º - Bento Rodrigues Caldeirão, que
faleceu em Martim, Barcelos s.g.; 8.º - Duarte Caldeirão, 2.º deste nome,
S.m.n.; 9.º - António Caldeirão, clérigo; 10.º - D. Brites Caldeirão (c. 1560),
dama da Infanta D. Maria, c.c. Luís Mendes de Vasconcelos, filho de João Mendes
de Vasconcelos (c. 1530), 3.º Morgado do Esporão, s.g. do seu casamento; 11.º -
D. Leonor Caldeirão (c. 1560), c.c. Jerónimo da Veiga Cabral, fidalgo da Casa
Real e senhor do morgado da Torre do Lumiar, então um arrabalde de Lisboa
(tiveram Tristão Vaz da Veiga, c.c. Maria Trigueiros); 12.º - D. Filipa, freira
no Convento de Odivelas; 13.º - D. Jerónima; 14. D. Maria Manuel; 15.º - D.
Brites Caldeira c.c. João Trigueiros (c.1580). Os CALDEIRÕES usaram em Portugal
e em Espanha, onde o apelido é Calderon, o seguinte brasão de armas: De prata,
com cinco caldeiras de negro; bordadura de vermelho, carregada de oito aspas de
ouro. Timbre: uma caldeira do escudo. – Cfr. GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Caldeiroens», § 1, N
2, Vol. III, p. 208
[34] Os Morgadios são uma instituição medieval
que, segundo alguns autores, resultaram da fusão do Direito Romano com o dos
«antigos godos». A maior parte deles foram instituídos com o fim de perpetuarem
o apelido e as armas de uma família
ilustre ou o nome dos fundadores, quase sempre sepultados em panteões ou
capelas familiares à sua custa edificadas, com vários encargos piedosos pelas
almas dos antepassados. Eram formados de um conjunto patrimonial inalienável,
administrado por um usufrutuário – o
morgado – que, regra geral, era o varão primogénito. Esta instituição
permitia a subsistência da família com um nível económico e um estatuto social
elevado, deixando os outros filhos em estado de dependência face ao chefe de
linhagem. Um morgado distingue-se de
uma capela devido à finalidade das
funções definidas à data da sua fundação. Temos um morgado quando a maior parte do rendimento dos bens vinculados é
destinado ao herdeiro, sendo a parte destinada a obrigações piedosas de um
montante muito mais pequeno. Temos uma capela
quando os encargos com as obras piedosas absorvem a maior parte do rendimento
dos mesmos bens. Os morgadios foram definitivamente extintos por decreto de
19-V-1863, com a excepção da Casa de Bragança que durou até à implantação da
República em 1910.
[35] GAIO, Felgueiras, Nobiliário, Tít. «Caldeiroens», § 1, N 2, Vol. III, p. 208.
[37] MACHADO,
Carlos, Genealogias, fl. 338.
[38] ANTT, Registo
Geral de Mercês, D. Afonso VI, Liv. 3, fl. 257.
[39] Os GONDIM, ou GODINS, como também grafaram
este apelido, provêm da linhagem dos moedeiros da Casa da Moeda de Coimbra. O
brasão de armas dos GODINS, em Portugal e em Espanha, é: Xadrezado de ouro e
vermelho, de cinco peças em faixa e seis em pala. Timbre: duas asas abertas
xadrezadas do escudo.
[40] Chagas, Diogo das, “Espelho Cristalino em
Jardim de Várias Flores”, Manuscrito da Biblioteca Pública de Ponta Delgada.
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